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André Azeredo, Luís Adorno, Márcio Neves e Tony Chastinet, da RecordTV

Sérgio Roberto de Carvalho, 64 anos, já foi major da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, da qual foi expulso em 2018 após acumular processos por vários crimes, a exemplo de exploração de jogos de azar, contrabando, fraudes e tráfico de drogas.

Ainda enquanto PM, o major Carvalho, por sua conduta na corporação, dava sinais de que era ambicioso e de que gostaria de ser um homem rico e poderoso. Aparentemente, conseguiu.

Ele se tornou um dos maiores traficantes internacionais de drogas independentes com atuação no Brasil. Segundo a Polícia Federal, Carvalho nunca foi vinculado a nenhuma facção criminosa do país, como o PCC (Primeiro Comando da Capital) ou o CV (Comando Vermelho).

A dimensão do esquema de tráfico de drogas comandado por Carvalho foi revelada quando a Polícia Federal do Paraná deflagrou a Operação Enterprise, em novembro de 2020, comandada pelo delegado federal Sérgio Stiling e pelo então coordenador de repressão ao crime organizado na época, Elvis Secco.

"No início da investigação, nós não tínhamos a dimensão dos negócios dele e, até então, o conhecíamos como Paul Wouter, um cidadão do Suriname.  De lá para cá, ele ampliou suas operações e criou um modelo de negócio com parceiros na Europa e na África com um modal diversificado", explicou Stiling.

O Núcleo de Jornalismo Investigativo da Record TV acompanhou a operação na época com exclusividade e produziu uma reportagem especial para o Domingo Espetacular. A operação identificou cifras astronômicas sobre os negócios e o poder econômico de Sérgio Roberto de Carvalho.

Ao todo, a organização criminosa chefiada pelo major Carvalho movimentou pelo menos R$ 1 bilhão de reais com o envio de remessas a outros países de mais de 50 toneladas de cocaína.

Um dos objetivos da operação, à época, era a prisão de Carvalho. Em 23 de novembro de 2020, dia da deflagração da operação no Brasil, com o apoio da Polícia Judiciária de Portugal, dois policiais federais brasileiros chegaram a tentar prendê-lo em um apartamento em que ele estaria vivendo em Lisboa com  identidade falsa.

Mas o ex-major conseguiu escapar da prisão horas antes, saindo em um jato comercial de uma empresa de táxi aéreo comprada por ele na cidade de Cascais, distante 30 km de Lisboa, para Kiev, na Ucrânia.  Chegou a deixar para trás uma van com 12 milhões de euros, o equivalente a R$ 66 milhões atualmente.

Dinheiro apreendido em uma van abandonada por Carvalho em Lisboa, Portugal (Reprodução)

Dinheiro apreendido em uma van abandonada por Carvalho em Lisboa, Portugal

Reprodução

Desde aquele dia, começou uma caçada por meio de cooperação internacional e inclusão do nome do ex-major da PM na lista da difusão vermelha da Interpol, a  lista de pessoas mais procuradas do mundo.

Tudo indicava que seu próspero negócio chegaria ao fim. Mas apenas parecia.

Mesmo foragido, segundo a Polícia Federal, ele continuou faturando, exportando drogas e operando sua rede logística, que usava aviões, caminhões, carros e navios e tinha uma rede de colaboradores em vários estados do país para fazer a droga entrar no Brasil, atravessar o país e, daqui, seguir pelo ar e pelo mar para países da Europa, África e Oriente Médio.

Durante sua fuga, as equipes de investigação chegaram a rastrear passagens de Sérgio Roberto de Carvalho por vários países, sempre com identidades falsas. Chegou a utilizar pelo menos cinco no período. Havia registros de que ele tinha passado, por exemplo, por países como Ucrânia, França, Bélgica, Turquia e  Hungria.

Foi justamente em Budapeste, capital da Hungria, que a caçada terminou. Em 22 de junho, 576 dias depois da Operação Enterprise, que deflagrou sua caçada.

Em um típico dia de verão europeu, em meio a milhares de turistas circulando por Budapeste e a uma ação de cooperação internacional entre a Polícia Federal do Brasil, a Polícia Judiciária de Portugal, a Interpol e a Europol, Sérgio Roberto de Carvalho foi capturado e preso pela equipe de combate ao terrorismo e ao crime organizado da polícia de Budapeste, na Hungria.

Com sua prisão, conexões e novas operações da Polícia Federal têm dado detalhes e revelado as entranhas da operação liderada pelo major Carvalho no tráfico internacional de drogas.

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Matheus Vigliar/Arte R7
PELO AR

Em 2 de agosto de 2021, um jato comercial privado, de matrícula turca TC-GVA, pousou no aeroporto internacional de Fortaleza, no Ceará, onde fez os trâmites de imigração e o reabastecimento.

A bordo estavam os pilotos Veli Demir e Mehmet Goker, além dos comissários de voo Ozcan Simsek e Saadet Capolat, todos de nacionalidade turca. Junto deles estava o passageiro Angel Alberto Gonzales Valdez, de nacionalidade espanhola.

Todos haviam iniciado a viagem na madrugada daquele dia decolando do aeroporto Pablo Ruiz Picasso, em Malága, na Espanha —guarde na memória essa cidade.

Após os trâmites feitos em Fortaleza, a aeronave decolou com destino ao aeroporto Leite Lopes, em Ribeirão Preto, cidade distante 400 km de São Paulo. A aeronave pousou na cidade paulista por volta de 21h30.

Para os trâmites de hangaragem, termo utilizado para o estacionamento de um avião, abastecimento e cattering, ou seja, o abastecimento de alimentos e bebidas na aeronave, duas empresas foram contratadas para o mesmo serviço. O pagamento seria feito em espécie, mas havia ocorrido um desentendimento sobre isso: uma das empresas não aceitou o pagamento em espécie, ainda mais para um valor tão elevado, de cerca de R$ 25 mil.

Em meio a esse impasse, ao pousar em Ribeirão Preto, a aeronave foi levada para o hangar Gold Sky, que teria sido contratado para substituir a empresa que havia recusado o pagamento em espécie. Lá a aeronave permaneceu por cerca de 30 horas. Enquanto isso, o passageiro e os tripulantes foram para um hotel próximo do aeroporto.

Malas com drogas estavam em jato que seguiria para a Bélgica (Divulgação/PF)

Malas com drogas estavam em jato que seguiria para a Bélgica

Divulgação/PF

Por volta de 1h30 da manhã de 4 de agosto de 2021, a aeronave decolou do aeroporto Leite Lopes novamente com destino a Fortaleza, onde pousou por volta de 4h10 para uma parada técnica de abastecimento antes de seguir viagem para Lisboa, em Portugal, para novo reabastecimento. De lá, finalmente chegaria ao destino, Bruxelas, na Bélgica.

Mas a viagem foi interrompida por uma fiscalização de rotina da Polícia Federal. Um agente entrou na aeronave e, ao perceber o grande número de malas, decidiu verificar o conteúdo de uma delas. Teve de pedir reforço. Na aeronave, havia 24 malas. Dentro de algumas delas, um total de 1,3 tonelada de cocaína.

Jato Turco com drogas ao sair do hangar no aeroporto de Ribeirão Preto (Reprodução)

Jato Turco com drogas ao sair do hangar no aeroporto de Ribeirão Preto

Reprodução

O passageiro Angel Valdez negou que as malas fossem dele. Já o piloto disse que as malas haviam chegado com o passageiro. Começava ali uma investigação para apurar de onde tinha vindo a droga e para onde iria.

Curiosamente, antes disso o passageiro Valdez morreu enquanto estava preso no Brasil. Ele tinha um tumor em estágio avançado já no momento de sua prisão.

Tudo começou a ficar mais claro para a Polícia Federal após quase dez meses de investigações. A droga naquele avião era uma das operações de tráfico internacional de drogas de Sérgio Roberto de Carvalho, agindo mesmo foragido.

No curso da investigação, pessoas e empresas diretamente ligadas ao major Carvalho foram identificadas no complexo esquema que tinha enchido aquela aeronave turca de drogas.

Essas empresas e nomes integravam um esquema que importava aviões inteiros desmontados e esquentava seus registros usando matrículas clonadas, o equivalente à placa de um carro, que eram usados para buscar cocaína em países produtores, como Peru e Colômbia.

Dois nomes foram peça-chave para ligar o esquema ao major Carvalho.
O primeiro era João Cesar Ottoni Barbosa, um profissional do setor aéreo apontado pela Polícia Federal como responsável pela empresa Airjet Sul, de Cascais, em Portugal —  empresa de táxi aéreo comprada por Carvalho, que utilizou uma de suas aeronaves em sua fuga de Portugal, em novembro de 2020.

Ottoni era um dos responsáveis pela aeronave utilizada pelo major Carvalho em muitos dos seus deslocamentos durante um período. O jato, inclusive, foi vendido em uma operação suspeita nos Estados Unidos que é alvo de uma investigação também nos Estados Unidos.

O segundo era Rogério Augusto Gonçalves de Oliveira, que, segundo a PF, é responsável pelo hangar Gold Sky, onde o jato de bandeira turca ficou estacionado, foi carregado com as malas cheias de drogas e abastecido por uma van branca registrada no nome de uma empresa de serviços de limpeza de aeronaves utilizada por ele.

A Polícia Federal mapeou outras 35 pessoas e empresas que eram usadas em todo o processo em etapas distintas. Entre elas, laranjas, empresas de fachadas e vultosas movimentações financeiras para lavar o dinheiro usado para a operação e também para remunerar os integrantes do esquema.

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Reprodução
Avião "cabritado" e abatido pela FAB

O esquema começava com a importação de aviões inteiros, porém desmontados. Empresas brasileiras de fachada orquestradas pelo grupo criminoso do major Carvalho estavam à frente do esquema: chegavam uma asa e um motor em um contêiner, depois o corpo principal e outras peças do avião em outro contêiner. Às vezes, a carga chegava até com destinatários e importadores diferentes.

Quando as peças chegavam ao Brasil, em contêineres fechados, o real comprador era sempre ocultado por empresas fantasmas. Os materiais eram encaminhados para empresas de manutenção de aeronaves integrantes do esquema.

As peças viravam aviões "cabritados", ou seja, montados com peças de origem duvidosa, assim como é feito com carros e motos em várias partes do Brasil.

A investigação identificou duas empresas — uma em Arapongas, no Paraná, e a outra em Poconé, em Mato Grosso — responsáveis por montar as aeronaves e aplicar uma nova matrícula, a placa do avião, com dados copiados de aeronaves já existentes.

Nos documentos obtidos pelo Núcleo de Jornalismo Investigativo da Record TV, ao menos duas aeronaves que entraram no Brasil por esse esquema foram rastreadas de ponta a ponta e teriam inclusive sido usadas para levar ao interior de São Paulo a droga que abasteceu o jato de bandeira turca apreendido em Fortaleza.

Segundo a PF, um avião Cessna 210, com matrícula CS-DCZ, e um Embraer Piper Navajo, de matrícula CS-ARD, ambos registrados em Portugal, foram vendidos pela empresa AirjetSul a outra empresa, estabelecida nos Estados Unidos, que seria uma fachada do esquema.

Mesmo com a matrícula ativa em Portugal, as aeronaves foram desmontadas e enviadas aos pedaços para o Brasil. Chegaram por aqui no fim de junho, onde foram remontadas e receberam matrículas falsas.

O Cessna recebeu a matrícula brasileira PR-GAW, clonada de uma aeronave similar que estava desaparecida desde o início do mês de junho e era de propriedade de pessoas próximas a integrantes do grupo criminoso do major Carvalho. Já o Piper recebeu a matricula PT-EBN, apropriada de uma aeronave que estava em leilão pela Justiça do Trabalho.

Essas aeronaves passaram a ser utilizadas para buscar drogas na Bolívia e trazê-las para o Brasil para abastecer as demandas de compradores estrangeiros do esquema comandado por Sérgio Roberto de Carvalho.

Nas idas e vindas, uma dessas aeronaves, o Cessna 210 PR-GAW, chegou a ser abatida por caças da FAB (Força Aérea Brasileira) após fazer manobras evasivas e agressivas ao ser interceptada.

Ao ser periciada, a PF constatou que a aeronave abatida tinha sido importada, já que foram encontradas nos destroços as identificações do motor e de peças das aeronaves que batiam com relatórios feitos pela Receita Federal das peças importadas de Portugal.

Aeronave interceptada pela FAB foi apreendida em Campo Grande (MS) (Divulgação/PF)

Aeronave interceptada pela FAB foi apreendida em Campo Grande (MS)

Divulgação/PF

O piloto a bordo da aeronave morreu na queda. E a cocaína transportada  foi destruída pelas chamas que consumiram o avião, o que aconteceu numa fazenda  de Aripuanã, em Mato Grosso — cidade que fica numa rota conhecida e frequente de aeronaves que entram com drogas no território brasileiro. Outra aeronave interceptada foi forçada a fazer um pouso, pelos caças da FAB, em Campo Grande. Foi apreendida, estava recheada de cocaína, e o piloto foi preso.

Algumas dessas aeronaves que tiveram seus voos rastreados pela investigação federal mostraram que o hangar GoldSky tinha sido um ponto de parada de aeronaves suspeitas que eram operadas pelo grupo criminoso.

Mas o grupo era cauteloso e preferia levar as cargas de drogas que atravessavam o país com sucesso para pistas clandestinas na região de Ribeirão Preto, onde eram carregadas em veículos e chegavam aos poucos ao hangar.

Há suspeitas de que a estrutura utilizava até mesmo uma empresa especializada em limpeza de aeronaves para poder entrar com a droga no aeroporto sem chamar atenção. Como se estivesse entrando para recolher lixo.

O grupo estava ativo mesmo com as baixas de algumas das aeronaves rastreadas. Tanto que, em fevereiro deste ano, duas pessoas ligadas à organização do major Carvalho foram presas transportando cerca de R$ 400 mil em espécie não declarados, que seriam usados para pagar a compra de outro avião para integrar o esquema. Entre elas, o administrador do hangar Goldsky e dono da empresa de limpeza de aeronaves que atua no aeroporto de Ribeirão Preto.

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Eficiência na logística

Um dos fatores que ajudaram Sérgio Roberto de Carvalho a ser um traficante independente era o fato de que ele possuía uma organização que conseguia operar a logística do tráfico de drogas de ponta a ponta, eliminando ao máximo intermediários.

A máxima de eficiência logística de seu esquema já era conhecida na deflagração da Operação Enterprise, cujo objetivo final era sair com a droga do país pelo mar — o que explicaremos mais à frente.

Com seu sistema logístico de tráfico por meio marítimo prejudicado após ser alvo da Polícia Federal e mesmo foragido, o major Carvalho reestruturou suas operações usando o modal aéreo.

Aliás, um modal que ele já conhecia muito bem, pois sua fuga do Brasil, em 2018, com a identidade falsa de um cidadão do Suriname de nome Paul Wouter, ocorreu justamente pelo fato de ele ser alvo de suas operações de tráfico de drogas usando pequenos aviões que entravam com a droga no Brasil e seguiam para outros países da Europa, principalmente por meio marítimo.

Aliás, Paul Wouter foi uma identidade que ele manteve até que uma de suas operações marítimas foi alvo da Polícia da Espanha. Uma embarcação com 1.700 quilos de cocaína foi apreendida na região da Galícia, noroeste da Espanha, e, no curso das investigações, Paul Wouter foi identificado como um dos responsáveis pela carga de drogas.

O então cidadão do Suriname vivia na cidade de Marbella, em Málaga, no litoral sul da Espanha. Um paraíso no verão europeu com praias e uma cidade turística vazia em outras épocas do ano — região conhecida como Costa do Sol e apelidada por autoridades de Costa dos Narcos, devido à constante presença de narcotraficantes que vivem na região.

O desfecho dessa passagem de Sérgio Roberto de Carvalho pela Espanha foi retratado com exclusividade em outra reportagem do Núcleo de Jornalismo Investigativo da Record TV produzida em Málaga, na Espanha, e exibida em janeiro deste ano. Foi revelado seu esquema para escapar das autoridades da Espanha: o major Carvalho simulou sua morte, ou melhor, a de sua identidade falsa. Morto, Paul Wouter não pôde ser processado, e as acusações foram arquivadas.

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Matheus Vigliar/Arte/R7
PELO MAR
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As investigações da Operação Enterprise, deflagrada em 2020, começaram com a apreensão de drogas no porto de Paranaguá, no Paraná, uma das principais portas de envio de drogas para o exterior pelo grupo criminoso do major Carvalho.

Naquele momento, o uso de aeronaves para enviar a droga para fora do Brasil não era um método muito utilizado por Carvalho, mas os aviões já eram fundamentais para entrar com a droga em território brasileiro.

No interior de São Paulo e do Paraná, grupos de caminhoneiros, muitas vezes escoltados por policiais pagos pelo grupo criminoso, eram responsáveis por chegar com a droga à região portuária, onde era preparada para ser embarcada em navios com destino à Europa.

Boa parte desse esquema foi detalhada no especial "Narco Europa", publicado no portal R7, e em uma série de reportagens produzidas pelo Núcleo de Jornalismo Investigativo da Record TV exibidas no telejornal Fala Brasil.

Um dos métodos utilizados pelos criminosos era a ocultação de toneladas de drogas em compartimentos dentro de máquinas e equipamentos como retroescavadeiras, que eram cortadas em locais estratégicos para esconder as drogas.

O grupo também corrompia funcionários do porto de Paranaguá e de empresas de transporte de contêineres para que escondessem as drogas depois que os contêineres passassem pela fiscalização na chegada ao porto.

A Polícia Federal chegou inclusive a descobrir que, em uma cidade da região metropolitana de Curitiba, havia um grupo especializado em clonar lacres desses contêineres para dificultar que fiscais no porto percebessem que eles haviam sido abertos e contaminados com a droga que seguiria para exportação. O destino frequentemente era o porto da Antuérpia, na Bélgica.
 

Havia, também, ações que prendiam as drogas no casco de navios utilizando mergulhadores com sacolas herméticas e grandes ímãs. Outro método bastante utilizado pelos criminosos era a ocultação em cargas de frutas e até mesmo de soja.

Na investigação da Polícia Federal, foram identificados esses métodos e uma grande estrutura, com cinco grupos subordinados dentro da organização liderada por Sérgio Roberto de Carvalho.

Além do porto de Paranaguá, as investigações apontavam grupos subordinados que atuavam também em portos do Norte e Nordeste do país, principalmente em Natal, no Rio Grande do Norte, de onde o major coordenava um grupo denominado "Grupo de Frutas Natal".

Em uma nova operação, deflagrada no dia 13 de julho pela PF do Rio Grande do Norte, 5,15 toneladas de cocaína foram apreendidas na cidade de Areia Branca, distante 450 km de Natal — segundo a Polícia Federal, boa parte das drogas apreendidas seria do grupo criminoso liderado por Sérgio Roberto de Carvalho e elas estavam prestes a ser enviadas escondidas em contêineres que seriam embarcados em navios com destino à Europa.

A operação foi deflagrada com base em informações compartilhadas da Operação Enterprise. Entre elas, um acordo de colaboração premiada feito por um dos principais líderes do esquema no porto de Paranaguá.

Major Carvalho instantes após sua prisão em Budapeste, na Hungria (Reprodução)

Major Carvalho instantes após sua prisão em Budapeste, na Hungria

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A prisão e suas consequências

Após dois anos foragido, Sérgio Roberto de Carvalho foi preso na Hungria por uma equipe da polícia especializada em combate ao terrorismo. A polícia local foi informada por agentes da Polícia Judiciária de Portugal que monitoravam os passos de Carvalho desde sua fuga de Lisboa, deixando 12 milhões de euros para trás.

Dados de identificação usados por Carvalho para entrar na Hungria antes da sua prisão (Reprodução)

Dados de identificação usados por Carvalho para entrar na Hungria antes da sua prisão

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Para a prisão, os agentes portugueses informaram que o homem hospedado no luxuoso hotel Marriot Budapest, que tem vista para o rio Danúbio, era um traficante internacional de drogas com mandado de prisão em aberto pedido pela Polícia Federal em novembro de 2020 e integrante da lista de mais procurados da Interpol.

Em um trabalho de inteligência, a unidade de combate ao terrorismo infiltrou policiais no entorno do hotel e acompanhou por algumas horas os passos de Carvalho, que estaria acompanhado de outro homem, que seria seu segurança.

O major Carvalho foi abordado quando se sentou em um restaurante a 300 metros do hotel, na praça Vigado Ter. Estava com óculos escuros, bermuda bege e camisa azul, vestimentas típicas de um turista que aproveitava o dia de calor do verão europeu em uma charmosa praça às margens do rio Danúbio.

Quando ele percebeu, estava cercado por agentes à paisana, sentados à frente e atrás dele. Instantes antes, o homem que o acompanhava tinha ido ao banheiro e já teria sido abordado.

Quando ameaçou se levantar por ter suspeitado de algo, foi abordado pelos policiais, que o jogaram no chão e o algemaram. Uma ação rápida e certeira.

Rapidamente, ele foi levado para um carro da polícia e direcionado até o hotel onde estava hospedado. Lá, seu quarto foi cuidadosamente analisado. Os policiais não deixaram escapar nada: pertences, objetos, telefones e dinheiro apreendido.

Foi nesse quarto que os policiais também registraram um vídeo, enviado a policiais do Brasil e de Portugal para que identificassem positivamente que quem estava sendo preso era Sérgio Roberto de Carvalho. Nas imagens, Carvalho diz ser Igor Kuzmenko Vanovich.

Mas em seu registro no hotel constava outra identidade, a de Guilhermo Flores, de passaporte mexicano. Rapidamente, a identificação positiva dele foi confirmada e Carvalho foi preso.

Em sua audiência de custódia, ele chegou a dizer que sua prisão era política, pois era investigado pelas mesmas pessoas que haviam atuado na operação Lava Jato.
Teve sua prisão mantida mesmo após recurso na Justiça em que chegou a alegar que as prisões brasileiras não ofereceriam condições de segurança à sua integridade.

Agora, o governo da Hungria aguarda o envio de documentos pelo governo brasileiro para dar andamento ao processo de extradição em relação ao mandado de prisão cumprido. O prazo para o envio do documento vai até o dia 2 de agosto.

“A documentação deve ser enviada pelas autoridades brasileiras até o dia 2 de agosto, quando expira o prazo da prisão para a extradição”, afirmou Bettina Bagoly, porta-voz da Procuradoria Metropolitana de Budapeste.

O Núcleo de Jornalismo Investigativo da Record TV apurou que os trâmites para a extradição já foram feitos pela Polícia Federal junto à Justiça Federal no Paraná, de onde saiu o mandado de prisão contra o major Carvalho, e que o processo já foi encaminhado ao Ministério da Justiça para que formalize e envie os documentos para a Hungria.

Pedimos um posicionamento ao Ministério da Justiça sobre o andamento do processo, mas até a publicação desta reportagem não recebemos resposta.

“As autoridades húngaras só poderão examinar se forem apresentadas peças de informação que deixem claras as condições da extradição”, enfatizou Bagoly sobre os documentos aguardados pela Hungria do governo brasileiro.

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Conteúdo: Núcleo de Jornalismo Investigativo
Reportagem: André Azeredo, Luís Adorno, Márcio Neves e Tony Chastinet, da RecordTVIlustrações: Matheus Vigliar
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Chefe de redação: André Caramante