Pense em qualquer assunto ou em qualquer momento da sua vida. Com certeza existe um meme na internet que vai conseguir expressar exatamente o seu sentimento. Fotos, montagens, vídeos, GIFs… os formatos são variados, mas com uma única intenção: fazer dar risada.
No reino dos memes, a cantora Gretchen é a rainha e seus súditos fiéis trabalham duro para criar todo tipo de conteúdo. Não existe limite para a criatividade e nem para os resultados de tanta divulgação espontânea.
Foi essa popularidade que fez Gretchen chegar até a cantora Katty Perry. A estrela pop escolheu a brasileira para ser a estrela do clipe da música “Swish Swish”, lançado em 2017, porque recebeu dos fãs diversos memes da brasileira. Veja na entrevista exclusiva com a Gretchen as razões dessa relação de amor.
“As figuras públicas, como a Gretchen, quando conseguem se apropriar dos memes geram um sentimento afetivo nas pessoas que acompanham essa carreira”, afirma o professor da Universidade Federal Fluminense e coordenador do Museu dos Memes, Viktor Chagas.
Alguns memes viralizam com muita facilidade e podem durar desde alguns dias até se transformar num produto que circula pelas redes sociais diariamente e conquista milhões de fãs.
Os criadores dessas páginas de humor não costumam ter a mesma fama de youtubers e outras celebridades da internet. Mesmo assim, essas pessoas anônimas conquistam centenas de milhares e até milhões seguidores que buscam por uma boa risada.
Profissionais de diversas áreas buscam uma boa sacada para criar conteúdos originais. Não são todos que conseguem viver de sua arte, mas alguns perfis alcançam uma visibilidade que vai além da internet. São produtos, palestras e até comerciais de televisão.
"O brasileiro é um grande especialista em memes por ter uma cultura de deboche que permite transformar qualquer coisa em piada. Tudo pode "virar meme" e viralizar nas redes sociais", explica Douglas Calixto, jornalista e doutorando pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP).
A criadora do “O que queremos”, Francine Grando, foi a primeira a registrar um meme no Brasil, em 2012. Suas tirinhas com personagens que fazem ironia com os mais diferentes desejos das pessoas têm meio milhão de seguidores no Facebook.
meme
Reprodução“Eu não vivo apenas do que que ganho com os direitos de propriedade, mas o registro me dá uma certa segurança quando criam algum conteúdo que não tem ligação comigo”, explica Francine.
O personagem Dinofauro também é um negócio que surgiu com a internet. O criador André Crevilaro registrou o dinossauro azul fanho há 4 anos. Ele entende que algumas pessoas ficam chateadas com o direito autoral de um conteúdo da internet, mas vê como uma necessidade para profissionalizar e valorizar o trabalho.
“Nós não ligamos das pessoas fazerem seus próprios memes, mas acontecia muito de roubarem o conteúdo e o nosso trabalho dava audiência para outras páginas”, explica André.
Os administradores de perfis famosos nas redes sociais têm um público fiel que aguarda ansioso por postagens diárias. A dificuldade é criar algo interessante com tanta frequência, principalmente para aproveitar os assuntos que estão em alta na internet ou para lembrar alguma data especial do calendário.
“O meme penetra profundamente na nossa cultura e faz registro de algo relevante no dia e até um marco histórico. Algumas vezes até antecipam uma notícia”, explica o pesquisador da USP, Douglas Calixto.
Para Francine, um dos segredos para um bom meme é fazer com que o público se identifique com a situação. “Eu sempre busco algum tema relacionado com o dia a dia para as pessoas se enxergarem ou enxergarem alguém”, explica Francine.
Uma boa postagem do “O Que Queremos”, por exemplo, alcança picos de até 5 milhões de pessoas sem qualquer promoção de conteúdo nas redes sociais.
Os memes conseguem atrair a atenção de pessoas de todas as idades e abordam os mais diferentes assuntos no mundo todo. Mas o brasileiro tem fama especial por ser um bom e ágil criador de memes.
“Cada cultura desenvolve um humor que é muito peculiar. Eu não nego que somos bons, mas há outros memes sendo produzidos em outros contextos. Os chineses, por exemplo, desenvolvem um humor bem subversivo”, diz Viktor Chagas.
A nova linguagem saiu das telas dos celulares e computadores, invadiu a vida das pessoas, que incorporaram os memes ao dia a dia, e agora está até nas salas de aula e nos museus.
O material produzido em larga escala pelos brasileiros é estudado e catalogado na universidade. Pelo levantamento do Museu dos Memes, da Universidade Federal Fluminense, nos últimos 10 anos foram feitos mais de 900 registros entre livros, capítulos de livro, artigos publicados em periódicos ou em anais de congressos científicos, teses, dissertações ou monografias sobre memes.
O biólogo Richard Dawkins foi o criador da palavra “meme” em 1976. No livro “O gene egoísta”, o britânico chamou a ideia de uma unidade de transmissão cultural pela abreviação da palavra grega “mimeme”, que para ele seria “meme”, por parecer com a palavra gene.
Segundo o dicionário Aurélio meme é “Imagem, vídeo, frase, expressão, parte de um texto etc., copiada e compartilhada rapidamente e através da Internet, por um grande número de pessoas, geralmente com um teor satírico, humorístico ou para zoar uma situação ou pessoa”.
Os primeiros memes foram criados antes mesmo da internet ser tão popular. O professor Viktor considera que até trotes telefônicos gravados em disquete e trocados entre as pessoas representavam o princípio da cultura do meme.
“Eles ganham mais evidência entre a década de 90 e os anos 2000, mas os últimos dez anos representaram um boom de produção e alcance”, explica o professor.
A ideia de que a internet não tem lei e que qualquer pessoa tem liberdade de se expressar como quiser não é verdadeira. Os memes são usados para tratar de diversos assuntos de maneira mais leve, mas não estão isentos de respeitar os usuários da internet.
Quem cria e até quem compartilha memes que ofendem outras pessoas corre o risco de ser processado por crimes contra honra.
“Injúria, calúnia e difamação são delitos frequentes relacionados à internet, mas dificilmente resultam em prisão. A pena máxima de dois anos em regime semiaberto costuma ser convertida em pagamento de um salário mínimo ou de uma cesta básica para uma instituição”, explica o presidente da Comissão de Direito Digital da OAB-SP, Spencer Sydow.
A pessoa que se sentir prejudicada por alguma publicação pode entrar na justiça para que o conteúdo seja retirado do ar, porém essa medida costuma ser pouco efetiva. "A justiça pode pedir a retirada da postagem com maior número de compartilhamentos ou de curtidas, mas é impossível garantir que tudo será excluído da internet", afirma Sydow.
“Existe uma demanda por educação midiática, que é preparar os jovens para lidar com o ambiente digital e suas consequências. Questões como fake news, bullying e pornografia de revanche precisam ser discutidas dentro da sala de aula”, afirma Calixto.
“O humor não precisa de limite, mas de bom senso. Isso permite fazer qualquer coisa sem prejudicar ninguém ou machucar outras pessoas”, afirma o criador do Dinofauro.
Faça o teste e decubra se você entende de memes:
Edição: Tatiana Chiari
Arte: Sabrina Cessarovice
Fotografia: Edu Garcia
Produção Audiovisual: Reinaldo Montalvão
Captação de imagens: Bruno Lima
Edição de vídeo: Edimar Sabatine e Caíque Ramiro
Videografismo: Marisa Kinoshita