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Deborah Bresser, do R7

Eles são brancos, negros, jovens, adultos, coroas, ricos, pobres, remediados, assalariados, pais de família, cidadãos ‘de bem’. A grande maioria sem antecedentes criminais, pouquíssimos com histórico de doença mental. Os agressores de mulheres não são monstros, não são loucos. São homens comuns. E é aí que mora o perigo.

“O perfil do agressor é uma amostra do homem brasileiro, é o cara normalzão”, garante Tales Furtado Mistura, principal coordenador do grupo Masculinidade, criado em 2006, ano da aprovação da Lei Maria da Penha, para promover encontros para ressocialização de homens acusados de violência doméstica ou de gênero.

A maioria não enxerga a agressão que comete como crime. “Acham que só é violência quando sai sangue, dizem que a lei avalia o ato, não o contexto, têm uma visão pobre de masculinidade. Para eles, ser homem é ser dominador, esse é o homem que ele foi ensinado a ser. Quando sente seu poder ameaçado, reage com violência”, explica Mistura.

Exatamente como Gustavo Cardoso Rosa, detido no Rio de Janeiro enquanto tomava uísque, em casa, após ter agredido a mulher, Tamires San'tanna Gonçalves, com quem mantinha um relacionamento há oito meses. Ele disse aos policiais que "não podia ser preso só por isso" e alegou que foi só uma briga de casal. “O que nos chamou a atenção foi a tranquilidade dele. Como pode, em 2019, as pessoas acharem que violência contra mulher é briga de casal e não crime?”, declarou a delegada do caso, Mônica Areal.

As pessoas ainda acham. Mais do que isso: não conseguem ver o companheiro ou familiar direto como alguém capaz de cometer um crime contra a mulher, acreditam que este homem é alguém que se descontrolou ou que foi provocado e reagiu.

Este foi o argumento usado por Felipe Carvalho Nogueira, de 28 anos, — que vivia havia sete anos com Ana Claudia Melo Benjamim — para ‘justificar’ o assassinato da companheira, em abril de 2019, depois de uma festa na casa da família dela. “Ana Claudia teria visto uma mensagem no celular do marido e foi quando ele ‘perdeu a cabeça’, segundo disse, e a esganou”, relatou o delegado Juliano Albuquerque, de Guararapes, no interior de São Paulo, onde o crime ocorreu.

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“Muita gente acha que o autor da violência doméstica ficou louco, não entende como aquele homem de bem, réu primário, bons antecedentes, educado, trabalhador, pode ser um agressor brutal ou um assassino”, ressalta a promotora Valéria Scarance, do núcleo de gênero do Ministério Público de São Paulo, coordenadora da pesquisa ‘Raio X do Feminicídio em São Paulo’.

Um dos casos marcantes foi o de Luís Felipe Manvailer, 32 anos, branco, de classe média alta, professor universitário de biologia, flagrado pelas câmeras de segurança do apartamento onde morava, em Guarapuava, no Paraná, agredindo violentamente sua mulher, a advogada Tatiane Spitzner. Ela foi encontrada morta em casa, após despencar do quarto andar do prédio, na madrugada do dia 22 de julho de 2018. 

Manvailer era esse tipo acima de qualquer suspeita. Mas o IML (Instituto Médico Legal) constatou que Tatiane Spitzner foi morta por “esganadura, emprego das mãos em constrição da região cervical". A Justiça determinou em 17 de maio que Manvailer vá a júri popular pelos crimes de homicídio qualificado (motivo fútil, asfixia, meio cruel, recurso que impossibilitou a defesa da vítima e feminicídio) e fraude processual. Ele está preso desde a data da morte da mulher.

“É preciso derrubar o mito de que o feminicida é louco. Não é. Os casos envolvendo homens com problemas psiquiátricos são ínfimos. A grande massa de agressores e assassinos de mulheres leva uma vida socialmente normal. O feminicídio é um crime de ódio. Há um verdadeiro extermínio de mulheres no Brasil”, avalia Valéria.

Os números confirmam. Segundo pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mais de 4,6 milhões de mulheres sofreram agressão física no último ano. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Brasil é o quinto país em número de feminicídios. Aqui, uma mulher é morta a cada duas horas.

Em 2018, os registros de crime de ódio contra o gênero feminino aumentaram 12%. Só nos primeiros meses de 2019, segundo a CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), 126 mulheres foram mortas em razão de seu gênero no País, além do registro de 67 tentativas de homicídio.

Segundo os dados do Ministério da Saúde compilados pelo Atlas da Violência, lançado na quarta-feira (5/6) pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), foram registrados 4.936 assassinatos de mulheres em 2017. É uma média de 13 homicídios por dia, o maior número em uma década. O Atlas calcula que a taxa nacional de homicídios femininos entre 2007 e 2017 aumentou em 20,7% 

Qualquer que seja o levantamento, os dados sempre apontam para um massacre de mulheres.

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Para Raquel Kobashi Gallinati, delegada de polícia desde 2012 e presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, não existe justificativa para o injustificável. “Qual é a causa daquele que pratica o latrocínio, sequestro, feminicídio? Buscar motivo é uma forma de justificar a conduta. Não existe razão para um crime”, defende.

Mas é preciso compreender o que leva esse homem comum a agredir e matar mulheres. E a resposta aponta para o óbvio: machismo mata. 

“A violência é a ausência de recurso. Se esse homem falasse, chorasse, expusesse sua angústia, teria outra experiência de masculinidade. Mas ele não pensa a respeito, acredita que tem de dominar a mulher e passa para o ato para recuperar esse poder”, explica Tales Furtado Mistura, do grupo Masculinidade.

Para a delegada Raquel Kobashi Gallinati, há um padrão de violência de gênero contra elas em todo o país, resultado de valores machistas profundamente arraigados na sociedade brasileira. “Há um ambiente social propício para essa epidemia de feminicídios”, analisa. 

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A violência contra a mulher praticada por homens vai muito além de problemas criminais. “Está ligada a uma cultura patriarcal em que as mulheres são objetificadas. Neste sentido, os homens acham natural a situação de agredir uma mulher. Na cabeça do agressor, o que ele faz não é tão grave – falta conscientização. Acham que sairão impunes”, acredita a delegada.

Casos como o do jovem de 21 anos que invadiu a Delegacia de Defesa da Mulher, em Andradina, no interior de São Paulo, para agredir a ex dá bem a medida da audácia dos agressores. A vítima foi denunciar o ex-companheiro, João Paulo Rodrigues de Lima, pois estava sendo ameaçada de morte. Certo da impunidade, ele entrou na delegacia atrás dela e a agrediu ali mesmo. “Eles acreditam que podem fazer o que quiserem com as mulheres", resumiu a delegada Michelly Miliorini, que atendeu a ocorrência.

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O aprendizado da violência está no cerne do comportamento masculino agressivo: 70% dos homens que praticam atos violentos presenciaram violência na infância. “Nasce dessa convivência e eles incorporam um padrão de agressão nas suas relações afetivas”, analisa a promotora Valéria Scarance.

A gênesis, confirma a psicóloga Marilene Kehdi, está na infância. “O que foi experimentado quando criança será trazido para os relacionamentos. Se esse homem viveu experiências parecidas de agressão, se aprendeu isso e não elaborou, ele vai reproduzir. Só tem esse exemplo na cabeça”, explica.

Há fatores de risco individuais, sociais e comunitários que endossam os atos dos agressores. De acordo Daniela Grelin, diretora do Instituto Avon, responsável pela pesquisa ‘O Papel do Homem na Desconstrução do Machismo’, tanto vítimas quanto agressores costumam ter histórico de abuso e violência. “Também há paradigmas de masculinidade que valorizam a agressividade e a competição, transmitidos entre as gerações e que acabam se perpetuando”, acredita.

Quem ousa desafiar essas ‘regras do machismo’ pode acabar espancada, como aconteceu com a namorada de Fernando Moreira dos Santos. Ela ‘ousou’ a pagar sozinha a conta do bar, na Vila da Penha, no Rio, em abril deste ano. A atitude irritou o cara, que encheu a mulher de porrada na frente de todo mundo, como mostraram as câmeras de segurança. “O rapaz ficou insatisfeito pela vítima pagar a despesa e a agrediu violentamente”, confirmou o delegado Edu Guimarães, que determinou a prisão em flagrante do acusado. Santos foi indiciado por lesão corporal e pode pegar até um ano de prisão.

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Segundo o levantamento do Instituto Avon, os dados apontam para um enorme paradoxo: 87% dos entrevistados, homens e mulheres, reconhecem que o machismo existe, mas apenas 24% se consideram machistas. “Eles não enxergam o próprio machismo. A maioria, no entanto, acredita que poderia melhorar a postura, mas teme a reprovação dos outros homens”, relata Daniela.

A solução para reduzir o machismo, para 85% dos participantes da pesquisa, é educar o filho para respeitar as mulheres. “O problema é que não podemos pular uma geração, é preciso ensinar o pai a rever as questões de gênero”, alerta.

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O feminicídio é o desfecho extremo de um processo de abuso e violência.

No começo, explica a psicóloga Marilene Kehdi, parece um ciúme natural, ele age como um homem apaixonado, atencioso, e a manipulação é implícita. “Ele diz que não gosta muito de determinados comportamentos, faz comentários sobre roupas, amizades, trabalho, mas a pessoa vai se apaixonando por aquele que considera sua alma gêmea”, diz Marilene.

Com o tempo, o abusador vai impondo limites, “com essa roupa você não vai sair”, tem horário para chegar em casa, “não quero você falando ao celular com ninguém”, “só vai se eu for”, tira o celular da pessoa, dá um aparelho para que só fale com ele. O controle começa a ficar total e absoluto.

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Se a mulher ‘desobedece’ as ordens, o abusador coloca a culpa nela. “Você estraga tudo”, dizem. O abuso psicológico, emocional, evoluiu para um puxão de cabelo, um empurrão, ela vai perdendo a autoconfiança, fica com medo, apanha de vez em quando, ela acha que tem culpa e ele diz vai mudar.

“O poder é tão grande na mente delas, que acreditam no perdão. Normalmente, há um período de tranquilidade, até que ele tome posse novamente”, explica a terapeuta.

O afastamento emocional que a vítima passa a ter do agressor é gerado pela própria violência, mas esses homens começam a procurar motivos externos.

Responsável por ter assassinado Simone da Silva, de 25 anos, o pintor Anderson da Silva, de 28 anos, por exemplo, confessou ter cometido o crime motivado por ciúme. Ele matou a mulher grávida, na frente do filho de 3 anos, porque teria dúvidas sobre a paternidade da criança que sua esposa esperava. O crime ocorreu no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, em agosto de 2018.

“O abusador gera o afastamento, inclusive físico e sexual, mas não compreende isso e passa fantasiar traições, pois acredita que a vida de qualquer mulher tem de girar em torno de homem”, explica a promotora Valéria Scarance, do núcleo de gênero do Ministério Público de São Paulo. “O feminicida sempre busca explicação na conduta da mulher, jamais assume que é o responsável.”

Se ela pede a separação, a violência explode.

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O algoz desta violência tem lugar, tem perfil, tem cara. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o agressor é alguém conhecido da vítima (76,4%), com destaque para cônjuge/companheiro/namorado (23,8%), vizinhos (21,1%) e ex-cônjuge/ ex-companheiro/ex-namorado (15,2%). Dois em cada três casos ocorrem na casa da vítima.

“Feminicídio é um crime praticado, em regra, por alguém do convívio da mulher, dentro de casa ou em locais onde ela costuma estar, situações que configuram uma ‘vantagem’ do agressor em relação às vítimas”, diz a promotora Valéria Scarance.

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São milhares de exemplos no Brasil, como o que vitimou a diarista Elieide Rodrigues, de 33 anos. Em 18 de março deste ano, ela estava a caminho da escola do filho quando foi atropelada de propósito por um carro que subiu na calçada. Ao volante estava o ex-marido dela, Manuel Gonçalves. Ele ainda desceu do carro armado, atirou e matou a vítima. Manuel não aceitava o fim do casamento.

O estudo ‘Raio X do Feminicídio em São Paulo’, que identificou o dia da semana, horário e armas utilizadas nos crimes, derruba argumentos muitas vezes usados para “minimizar” ou mesmo “justificar” as condutas, como os de que o agressor age bêbado, drogado e de madrugada.  

O levantamento dos dias da semana e horários em que ocorreram os ataques concluiu que a maior incidência das mortes, consumadas ou tentadas, é de segunda a sexta, totalizando 68%. Apurou-se também que 41% dos fatos ocorreram durante o dia, entre 6h e 18h, e 59% ocorreram durante a noite, das 18h às 6h da manhã.

“Álcool e drogas são fatores de risco, que potencializam a agressão e tiram os freios inibitórios, mas o principal motivo das mortes é a separação ou o pedido de rompimento não aceito por parte do agressor, seguindo-se os crimes praticados por atos de ciúmes/posse e discussões banais”, reitera a promotora.

O agressor usa instrumentos “caseiros” como facas, ferramentas, materiais de construção ou suas mãos, o que estiver ao seu alcance, para agredir e matar. Além disso, utiliza esses instrumentos com voracidade e repetição de golpes, como se pretendesse “destruir” a mulher. A asfixia está presente como instrumento primário ou secundário em vários casos. A pesquisa demonstrou que em 58% dos casos os agressores usaram arma branca/faca.

A estudante Whailly Michele Mendes da Silva, de 24 anos, escapou da morte por pouco. Ela teve um relacionamento durante seis meses e terminou por ter sido maltratada e ameaçada. Na noite do dia 4 de agosto de 2018, o ex voltou a procura-la e insistiu para que voltassem. Como Whailly se negou, ele pediu um abraço para ir embora e deixá-la em paz.

Quando a jovem se aproximou, o rapaz a atingiu com 13 facadas. Ele esfaqueou a ex seguidamente no peito, braços, cabeça e costas sem dizer uma palavra, enquanto ela gritava. Whailly já havia registrado boletim de ocorrência contra o ex por ameaça.

Elaine Caparróz foi desfigurada em seu primeiro encontro  (R7)

Elaine Caparróz foi desfigurada em seu primeiro encontro

R7

“Eles praticam o crime com muito ódio, com muita raiva, por isso dizemos que são atos de extermínio, porque há repetição de golpes, não é simplesmente uma morte, é uma morte com dor, diz a promotora Valéria Scarance. “São casos em que as mulheres são mortas com dezenas de facadas, queimadas ou asfixiadas.”

Desfigurar a vítima também demonstra esse desprezo pelas mulheres. Vinicius Serra, de 27 anos, o algoz de Elaine Caparróz, de 55 anos, por exemplo, passou quatro horas espancando a paisagista dentro do apartamento dela. Era o primeiro encontro presencial dos dois, após oito meses de conversa pelas redes sociais.  

O crime ocorreu em fevereiro deste ano e chamou a atenção pelos requintes de crueldade. A empresária teve fraturas em toda a face, no nariz, no globo ocular, maxilar, dentes, além de um trauma de pulmão e nos rins. “Foi uma atitude monstruosa. Ele chegou a arrancar pedaços dela com mordidas e cuspir”, revelou a delegada Adriana Belém, da 16ª DP (Barra da Tijuca), responsável pelo inquérito policial.

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De onde vem tanta agressividade? Para os especialistas, as mesmas normas sociais que oprimem mulheres também vitimam homens. Eles precisam ser violentos e manter a assimetria de poder para garantir aceitação social.

“Há um empobrecimento da visão do que é ser homem, um modelo de masculinidade limitada, segundo o qual ou se é forte ou fraco, ou se é pegador ou gay, eles não têm referenciais mais complexos”, avalia Tales Furtado Mistura, coordenador do grupo Masculinidades.

“É tão naturalizado que eles têm medo de fugir desses parâmetros e sofrer intimidação de outros homens”, afirma Daniela Grelin, diretora do Instituto Avon. A pesquisa  ‘O Papel do Homem na Desconstrução do Machismo’ mostra que a maioria não quer quebrar velhos paradigmas da desigualdade e sente a pressão dos grupos para seguir propagando o machismo.

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Para se ter uma ideia, 24% dos entrevistados disseram que, no meio de outros homens, não têm coragem de sair em defesa das mulheres. Para 43% deles, em um grupo de WhatsApp, pega mal reclamar quando alguém compartilha, por exemplo, fotos de mulheres nuas.

Mas é justamente entre iguais que pode estar a chave para uma mudança de postura. Pelo menos 35% dos entrevistados no levantamento do Instituto Avon afirmaram que pararam de ter atitudes machistas depois que algum homem falou para não agirem mais daquela forma, e 81% concordaram que devem falar com outros homens para que as mulheres não sofram preconceito.

O diálogo entre homens é a base do projeto de ressocialização de agressores do grupo Masculinidades, que funciona como um braço do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde.

De três em três meses, é feita uma mega-audiência com cerca de 100 homens que foram acusados de agressão, no Foro Central Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, para que conheçam o grupo e possam participar dos encontros.

“A gente faz reuniões às segundas-feiras, das 18h às 20h, com no máximo 15 homens que estão com processo em andamento. Eles não são obrigados a participar”, explica Tales Furtado Mistura, coordenador do  grupo.

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Ali são homens falando com homens sobre questões de gênero e instigados a rever sua visão de masculinidade. Mistura explica que a ideia é criar uma identificação. “Nós não nos posicionamos como psicólogos, mas conversamos com referências mais complexas. Os resultados objetivos são muito bons: só 6% reincidem, enquanto de forma geral a reincidência chega a 75% entre acusados pela Lei Maria da Penha.”

Promotora de Justiça do Gevid (Grupo de Atuação Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica) da cidade de São Paulo, Fabiana Dal'Mas diz acreditar que o machismo mata o homem e a mulher.

O depoimento de um dos participantes do Masculinidades, relatado por um ex-repórter do R7 que acompanhou uma reunião do grupo em 2016, endossa essa realidade. “É que essa coisa de bater em mulher vem de anos. Não é culpa só nossa. E cadeia não resolve. A gente também sofre com isso. Quando aconteceu comigo, eu tinha tomado todas e nem lembrava. Quando vi as fotos dela, de como ela tinha se machucado, fiquei muito mal.”

A promotora Fabiana Dal'Mas defende que é preciso haver um grande debate sobre o que a psicologia vem chamando de masculinidade tóxica. “Essa ideia de que ele precisa dar um soco em outro homem na saída do futebol para ser homem, de que tem de controlar sua mulher, não pode falar dos problemas, não pode chorar, tudo isso gera violência de gênero”, acredita.

O desafio, diz a promotora, é trazer os homens para a conversa. “Isso precisa ser feito desde a educação primária de forma preventiva e não excluir a questão de gênero das escolas”, defende. 

É possível desconstruir uma personalidade moldada pelo machismo? Para Alexandre Pedro, psicanalista pela Sociedade Internacional de Psicanálise de São Paulo, não resta dúvidas de que sim.

“Um trabalho de ressignificação poderia mudar completamente o rumo dessa história, mas o machismo é tão presente que quem vive o padrão nem percebe.”

A conscientização, recomenda, deveria ser feita desde a infância. Tendo essa base de respeito, compaixão, empatia e amor ao próximo, os homens certamente seriam adultos melhores.

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Reportagem: Deborah Bresser
Edição: Tatiana Chiari
Desenhos: Matheus Vigliar
Arte: Sabrina Cessarovice
Edição: Edimar Sabatine e Danilo Barboza
Videografismo: Marisa Kinoshita