Guerra na Fronteira: dinheiro, poder e mortes - R7 Estúdio - R7 R7 Estúdio
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Márcio Neves, Marcos Guedes e André Azeredo, da Record TV

Nesta segunda (15), contamos como a localização da fronteira no centro da América do Sul, separando os principais produtores de cocaína do Brasil, com uma fronteira seca de fácil travessia, tornou a região importante para o tráfico de drogas.

E no domingo (14) mostramos no Domingo Espetacular que a região de fronteira entre Brasil e Paraguai registrou 109 mortes violentas, com características de execução, e boa parte desta violência é resultado de uma disputa pela liderança do tráfico de drogas naquela região.

Mas ainda há outras dúvidas como, por exemplo, por que e desde quando isso acontece? Assista abaixo a chamada para o especial do PlayPlus.

Capítulo 2 - História do poder
Fronteira: mato aparente (Márcio Neves/Record TV)

Fronteira: mato aparente

Márcio Neves/Record TV

Na faixa de fronteira entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, o nome do sírio Fahd Jamil, conhecido como “Fuad”, desperta temor e admiração. Ele se estabeleceu no ladro brasileiro e fez fortuna com o contrabando. O império inclui fazendas, um cassino no lado paraguaio, onde o jogo é permitido, e casas de luxo — uma delas inspirada em Graceland — a mansão de Elvis Presley.

Mansão de Fahd Jamil Georges (Marcio Neves/Record TV)

Mansão de Fahd Jamil Georges

Marcio Neves/Record TV
Café, açúcar e dinheiro

Jamil ficou rico contrabandeando café e açúcar do Paraguai para o Brasil, aproveitando o momento de instabilidade econômica que atrapalhou os produtores brasileiros por causa da taxa de câmbio e dos impostos. 

Fahd Jamil  (Reprodução)

Fahd Jamil

Reprodução

Com o tempo, ele passou a trazer para o Brasil de maneira clandestina produtos mais lucrativos e que faziam muito sucesso no país, como cigarros e uísque.

A fortuna deu fama ao empresário sírio. E logo, o ciclo de amizades de “Fuad” passou a ser repleto de glamour. Relatos de pessoas ouvidas pela reportagem sob a condição de anonimato apontam que nas décadas de 80 e 90 atores famosos frequentavam o cassino de Georges, que fica na avenida que divide Brasil e Paraguai. 

Além disso, políticos e membros influentes da sociedade sempre estiveram ao seu lado, segundo as mesmas fontes. A postura simpática de “Fuad” nas altas rodas da sociedade contrastava com a de juiz carrasco, implacável que ele incorporava ao julgar seus desafetos.

Rua acidentada na fronteira com o Paraguai (Márcio Neves/Record TV)

Rua acidentada na fronteira com o Paraguai

Márcio Neves/Record TV
A chegada das facções criminosas

O reinado de Fahd Jamil Georges na faixa territorial que abrange a cidades de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero foi soberano até o final da década de 90, quando as facções criminosas, PCC e Comando Vermelho passaram a se expandir pelo país rumo à fronteira.

Os ataques vinham de todos os lados, inclusive das autoridades policiais brasileiras que seguiam no encalço do contrabandista. Condenado há mais de 20 anos por tráfico de drogas, contrabando e descaminho, ele se manteve foragido até que seus advogados conseguissem recorrer em segunda instância e o livrassem da cadeia. 

O Comando Vermelho, facção criminosa do Rio de Janeiro, foi a primeira organização criminosa brasileira a colocar Pedro Juan Caballero no radar dos negócios. Caçado no Brasil, o então chefe da facção, Fernandinho Beira-Mar, buscou abrigo junto aos fornecedores de maconha paraguaios que abasteciam os morros cariocas. 

Ele percebeu que a região era vital para os negócios e tentou se estabelecer na cidade paraguaia. O grupo sofreu forte reação dos criminosos locais e acabou fincando raízes a 100 km dali, na cidade de Capitain Bado, que também é separada do município brasileiro de Coronel Sapucaia por uma rua.

Estabelecidos na região até os dias de hoje, integrantes do Comando Vermelho, que um dia se aliaram à facção paulista PCC (Primeiro Comando da Capital) para ter o controle da fronteira, vivem em constante guerra de poder. 

O PCC, por sua vez, aproveitando-se do mesmo vácuo de poder, investiu para reinar na cidade de Ponta Porã.

Constituída por lá, o que é reconhecido pelas autoridades, a dominância da facção na região pode ser medida pela quantidade de grandes traficantes, que construíram impérios e que foram presos na região nos últimos anos.

Outro importante termômetro para mensurar o poder da facção paulista foi a morte que desencadeou a guerra que a fronteira vive atualmente.

Rafaat matava qualquer membro do PCC que ousasse a tentar o controle do tráfico na região

Ministério Público do Mato Grosso do Sul

Em 2016, o brasileiro radicado no Paraguai Jorge Rafaat Toumani, que à época era considerado o sucessor natural de Fahd Jamil Georges e, por consequência, chamado de “Rei da Fronteira”, foi executado em uma emboscada na rua Teniente Herrero, no centro de Pedro Juan Caballero. 

As imagens que percorreram e chocaram o mundo mostram homens em uma caminhonete segurando uma metralhadora capaz de derrubar aviões, atirando dezenas de vezes contra o carro de Rafaat, um Hummer blindado que não conseguiu conter as potentes munições. Pelo menos dezesseis tiros acertaram o corpo dele, que morreu ali mesmo. 

Para o Ministério Público, essa morte foi um divisor de águas. Em investigações, o próprio órgão já havia ouvido lideranças do PCC no Paraguai dizerem que o “Rafaat matava qualquer membro do PCC que ousasse a tentar o controle do tráfico na região”.

Quando uma pessoa tinha que ser assassinada, precisava da bênção da família

Candido Figueredo, jornalista

“Quando uma pessoa tinha que ser assassinada, precisava da benção da família. E muitas vezes, o padrinho conhecia a família dessa pessoa. Então muitas vezes negociavam e chegavam a acordo para não matar essas pessoas. Era ele também o intermediário entre os produtores de entorpecentes e as grandes facções que traziam a droga para o Brasil ou que exportavam para a Europa e outros centros consumidores”, afirmou o jornalista paraguaio Candido Figueredo, que foi morar nos Estados Unidos após sofrer ameaças por sua atuação profissional na fronteira. 

Uma das pessoas apontadas como articuladores da morte de Rafaat é o traficante brasileiro mundialmente conhecido Jarvis Chimenes Pavão. Com influência na região de fronteira a ponto de passar nove anos foragido e ainda assim continuar atuando como elo entre produtores de cocaína e as facções paulista e carioca, ele construiu um império de luxo espalhado pelo Brasil. 

Preso desde 2009 no Paraguai e extraditado para o Brasil em 2017, Pavão que já teve a acunha de “Senhor da Fronteira” vê esse império construído com o tráfico de drogas desmoronar. Em um bilhete encontrado na cela do Presídio Federal de Porto Velho (RO), agentes encontraram uma lista de 339 imóveis, terrenos em construção e casas mobiliadas que haviam sido listadas por ele.

A riqueza de detalhes da lista foi o ponto de partida para identificar os bens ocultados em nomes de laranjas. Esses mesmos bens garantiam, segundo a PF, uma vida de luxo aos familiares e pessoas próximas ao narcotraficante.

Em 2019, a Polícia Federal brasileira desencadeou a operação “Pavo Real”, que mirou os bens adquiridos com o tráfico de drogas e o pagamento de mesadas aos familiares. Até hoje, dos cerca de 300 milhões de reais em imóveis identificados na investigação, 50 milhões já foram bloqueados pela justiça. Além disso, 15 veículos avaliados em mais de cem mil reais cada também foram apreendidos. Pavão encontra-se preso no Presídio Federal do Distrito Federal cumprindo uma pena que ultrapassa 60 anos.

Fronteira urbana (Márcio Neves/Record TV)

Fronteira urbana

Márcio Neves/Record TV
Os novos líderes da fronteira

A ascensão da disputa pelo poder na fronteira após a morte de Rafaat foi seguida de mortes. Muitas por vingança. Além disso, o que vale ser destacado é que nenhuma liderança conseguiu soberania como houve no passado. 

Essas lideranças passaram a exercer poder e operavam de maneira diferente dos antigos capos. Atuando em uma espécie de consórcio, que poderia também ser definido como uma sociedade horizontal, traficantes passaram a negociar com diferentes fornecedores e compradores. 

Esse modelo de atuação é explicado pelo o sociólogo e autor do livro “Irmãos, uma história do PCC”, Gabriel Feltran, “O PCC tem uma rede de traficantes, alguns deles muito grandes. E alguns não são batizados na facção, mas fazem negócio com a facção a muito tempo. Tem seus conhecidos, seus contatos. Compartilham das ideias, da ideologia da facção”.

Um dos homens que para as autoridades atuava nesse esquema é Elton Leonel Rumich da Silva, o Galã. Ele chegou a ser apontado como um dos mandantes da morte do “Rei da Fronteira”. Posteriormente, também teria ordenado que sicários desenterrassem o corpo de Rafaat e ateassem fogo. Essas acusações não foram comprovadas e ele foi absolvido pelos crimes. Ele foi alvo de um atentado em Pedro Juan Caballero que deixou quatro mortos e 11 feridos.

 Após o ataque, Galã fugiu da região e acabou preso cinco meses depois, no Rio de Janeiro, enquanto fazia uma tatuagem. A prisão ocorreu após informações da inteligência paulista apontarem que a liderança do PCC tinha adotado uma vida de luxo no Rio de Janeiro ao fugir do atentado na região de fronteira. Condenado pelos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro, ele cumpre pena no Presídio Federal do Rio Grande do Norte, em Mossoró.

Sérgio Arruda Quintiliano Neto, o Minotauro, é outro grande narcotraficante que atuava naquela região nevrálgica para o tráfico de drogas e armas. Um agente federal que atuou na investigação que terminou com a prisão dele explicou que “Minotauro tinha o controle das rotas da maconha produzida no Paraguai e cocaína, na Bolívia. Era ele, quem negociava drogas com o PCC e quem negociava com outros narcotraficantes”.

Minotauro foi preso em fevereiro de 2019 em um apartamento na cidade de Balneário Camburiú, em Santa Catarina. 

O último grande traficante ligado ao PCC que foi preso na região da fronteira é Giovanni Barbosa da Silva, o Bonitão. Em 9 de janeiro, logo depois da prisão dele, comparsas cercaram a delegacia, onde ele estava recolhido em Pedro Juan Caballero, e tentaram resgatá-lo. Foram cenas de guerra com intensa troca de tiros, inocentes e policiais feridos. O plano não deu certo e Bonitão foi expulso do Paraguai horas depois e enviado para o Brasil.

É uma disputa principalmente pelo tráfico, não só de maconha, mas de cocaína. Essa disputa tem gerado muitas mortes

Antonio Carlos Videira, Sec. de Justiça e Segurança Pública do MS

Para o Secretário de Justiça e Segurança Pública do Mato Grosso do Sul, Antônio Carlos Videira, o PCC tem exercido maior controle do tráfico na região de fronteira. Entretanto, os vácuos deixados pelas antigas lideranças abriram espaço para disputas que ocasionam mortes. “Está acontecendo agora em Pedro Juan Caballero, na fronteira com Ponta Porã. É uma disputa principalmente pelo tráfico, não só de maconha, mas de cocaína. Esta disputa tem gerado muitas mortes”.

As centenas de mortes registradas desde 2016 são a consequência das disputas sem fim. Uma matança em que se morre mais pessoas do que em países geograficamente localizados em zonas de guerra.

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Arte R7

Essa é a constatação do escritório das Nações Unidas Sobre o Crime Organizado, que em recente estudo publicado em 2019 afirmou que entre 2015 e 2017, o crime organizado matou o mesmo número de pessoas que todos os conflitos armados do mundo combinados.

 “A criminalidade urbana mata mais do que guerras. Em vários centros urbanos na América Latina, você encontra situações em que as taxas de homicídios, de mortalidade superam as zonas de conflito”, afirma Nívio Nascimento, coordenador do escritório das Nações Unidas Sobre o Crime Organizado.

O estudo levou em consideração números globais de violência, incluindo o terrorismo. Em 2017, mais de 400 mil pessoas morreram no mundo, vítimas de homicídio. O número de vítimas em conflitos armados é de 89 mil e de vítimas do terrorismo, 26 mil.

As famílias e as mortes

A violência dos grupos criminosos que agem na fronteira com o Paraguai não ficou restrita apenas àquela região e se alastrou até Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul.

Como já explicado no início desta reportagem, a família do sírio Fahd Jamil Georges era quem controlava a região de Ponta Porã, na faixa de fronteira, até ser substituído por outros criminosos ligados às facções brasileiras. 

Em Campo Grande, era outra família de origem árabe quem controlava negócios ilícitos. A família de Jamil Name, que também tem como liderança o próprio filho, o “Jamilzinho”.

Jamil Name, Jamilzinho e Fahd Jamil  (Reprodução)

Jamil Name, Jamilzinho e Fahd Jamil

Reprodução

Name fez fortuna com o jogo do bicho. E diversificou os negócios, atraindo a concorrência e despertando rivalidades. Por possuir grande estrutura na cidade de Campo Grande, foi ele, segundo investigação do GAECO, quem auxiliou Georges na vingança da morte do filho. 

Em 2012, Daniel Alvarez Georges, filho mais novo de Fahd Jamil Georges, desapareceu, quando tinha 42 anos. Foi visto pela última vez em um Shopping na cidade de Campo Grande. A vingança deixou um rastro de mortes.

Claudio Rodrigues Oliveira, conhecido como “Meia Água”. Ele era um conhecido pistoleiro e foi o último a ser visto com o filho do capo. Oliveira foi executado com tiros de pistola durante a amanhã de 18 de setembro de 2015, na cidade de Jandira, na região metropolitana de São Paulo.

Outro homem que executado por suposto envolvimento na morte de Daniel é Alberto Aparecido Nogueira, o “Betão”. O corpo dele foi encontrado carbonizado e com marcas de tiros no porta malas de uma caminhonete na cidade de Bela Vista (MS), em 21 de abril de 2016.

O último a supostamente ter envolvimento com a morte de Daniel é o sargento da Polícia Militar, Ilson Martins de Figueiredo. Ele também atuava como chefe de segurança da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul quando foi executado com mais de 45 tiros de fuzis AK-47 e .556 na manhã de 11 de junho de 2018, na rua Guaicurus, em Campo Grande. 

Name também travou guerras particulares pelo controle do jogo do bicho na cidade. Uma dessas guerras deixou um rastro que levou o Ministério Público a descobrir o que acontecia no submundo do crime de Mato Grosso do Sul. 

Matheus Costa Xavier, filho do policial reformado Paulo Roberto Xavier, foi executado com vários tiros no lugar do pai. Isso porque, de acordo com o MP, essa morte seria um acerto de contas com o policial, já que ele teria trocado de lado e abandonado o clã dos “Name” no esquema de jogos ilegais no estado. 

Meses após a morte de Xavier, o Gaeco, grupo do Ministério Público que atua no combate ao crime organizado, desencadeou a primeira grande investida contra o poder paralelo das famílias. 

A operação “Omerta” que faz alusão ao voto de silêncio adotado por membros das grandes máfias italianas, investigou as relações das duas famílias e encontrou uma série de indícios que apontam que eles se uniram para executar pelo menos três pessoas.

Era ele (Fuad) quem auxiliava tanto na estrutura, como muitas vezes providenciava armamentos pesados

Equipe de promotores do GAECO

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Marcio Neves/Record TV

Para a promotora que coordena as investigações do Gaeco, “homicídios que as duas famílias se interligaram foram aqueles motivados pela morte do filho de Fuad”. “Era ele (Fuad) quem auxiliava tanto na estrutura, como muitas vezes providenciava armamentos pesados”. 

A morte de Daniel foi reconhecida oito anos depois a pedido do próprio pai sem que as autoridades encontrassem o corpo.

Os promotores descobriram que Jamil Name contava com o apoio de policiais corruptos. “Policiais civis, militares, um policial federal, guardas municipais eram escolhidos e por que além de terem conhecimento da utilização e manuseio de armamentos pesados, conseguiam levantar informações de acesso restrito e sobre investigações em andamento”, afirma um dos promotores que investigam o caso.

Segundo o Gaeco, um dos policiais é o delegado Márcio Shiro Obara que deveria ter investigado a morte de Figueiredo. Os promotores descobriram que ele recebeu R$ 100 mi para arquivar o inquérito e sumir com um dossiê encontrado no carro da vítima incriminando Fahd Jamil.

A operação Omertá segue em sua sexta fase e ainda há muito material para ser analisado, segundo o Ministério Público. Nenhum investigado foi julgado até o momento.

Outro lado

O advogado de Fahd Jamil, Fabio Ricardo Mendes Figueiredo, nega as acusações e diz que o cliente é inocente.

"Sr Fahd Jamil é totalmente inocente das acusações formulados na operação omerta, como também foi inocente, nas acusações de trafico q foi condenado pelo juiz federal Odilon de Oliveira, obrigando-o a manter se num exílio involuntário, por mãos (sic) de 5 anos, vindo a ser absolvido pelo tribunal regional federal da 3 região, o que lhe trouxe sérios problemas de saúde, como está demonstrado  nos autos da operação omerta, que novamente o obriga a outro exílio involuntário, para q não perpetue a ilegalidade de sua prisão. Mas continua confiante na justiça que, será novamente inocentado, e sempre com o coração cheio de esperança, sem rancor ou magoa, repudiante a violência, rejeitando medidas judiciais de caráter vingativo como indenizatórias contra o estado, por entender e acreditar na justiça maior!"

O advogado de Jamil Name, Tiago Bunninf, afirma que seu cliente é acusado com base em suposições e que irá provar que o cliente é inocente.

“Todas as fases da Operação Omertá revelam uma verdadeira lacuna probatória em desfavor de Jamil Name que é acusado com fundamento em ilações e suposições que o vinculam as acusações por laços familiares e/ou de amizade com outros investigados contra os quais também não se tem prova. A acusação sempre imputa a Jamil Name a condição avalista dos delitos sem qualquer prova deste suposto aval mesmo após a realização de interceptações telefônicas, quebra de sigilo bancário e telemática, busca e apreensão e oitiva de mais de 100 (cem) testemunhas.  Neste cenário, a defesa tem plena confiança que provará a inocência de Jamil Name. 

Em contrapartida, a investigação está repleta de ilegalidades, tais como provas coletadas de forma ilícita (acesso a celulares sem autorização, buscas que extrapolam os limites dos mandados, incompetência jurisdicional) além da existência de testemunhas que relatam a ocorrência de arbitrariedades praticadas pelos investigadores (coações e, inclusive tortura). 

Destacamos que o excesso de acusações ao invés de comprovar a suposta gravidade dos fatos revela a busca por um apelo social criado pelo temor de acusações levianas, premeditadamente realizadas de forma massiva e contínua, e que são utilizadas pelos órgãos de investigação e acusação como uma estratégia para justificar a excepcional prisão de Jamil Name, aos 81 (oitenta e um) anos de idade, primário e sem antecedentes criminais, em meio a Pandemia de Covid-19, sendo ele portador de diabetes, hipertensão, doença pulmonar obstrutiva e ainda assim preso desde 27/09/2019 em Penitenciária Federal há mais de 3.000km de sua família. Estima-se que não exista no Brasil, quiçá no Mundo, um preso nessas condições.  

A idade avançada e saúde física extremamente debilitada somadas ao cruel isolamento provocaram consequências inevitáveis a saúde e integridade mental de Jamil Name que passou a demonstrar deturpação da realidade e descompasso na percepção dos fatos conforme suas últimas declarações realizadas em audiência, revelando um completo delírio incompatível a qualquer pessoa que esteja em pleno gozo de suas faculdades mentais. Confirmando isso, existem Laudos médicos atuais que atestam a presença de Delirium e o risco de morte.  Manter Jamil Name preso aos 81 (oitenta e um) anos de idade e com sua saúde física e mental extremamente debilitadas é a banalização da vida humana e se assemelha a pena de morte."

O advogado Felix Jayme Nunes da Cunha, que representa Jamil Name Filho informou que seu cliente jamais pertenceu a alguma organização criminosa. 

“A defesa de Jamil Name filho vem demonstrando no decorrer das ações penais a improcedência das acusações, e que o empresário Jamil Name Filho jamais pertenceu ou chefiou qualquer organização criminal e jamais foi mandante de qualquer dos homicídios apurados pelo Garras, cujas investigações e denúncias decorrentes,  vêm, sendo desconstituídas pelas defesas e por depoimentos colhidos em juízo, como o prestado pelo acusado Marcelo Rios e sua mulher Eliane aos Juízes criminais, declarando que foram torturados e ameaçados para prestarem depoimentos - na polícia - incriminando Jamil Name Filho, que foram precedido  de torturas e ameaças  que a mesma e seu marido sofreram na delegacia, cujo chefe do garras, segundo o acusado Marcelo Rios, cheira cocaína e consome wisk no interior da delegacia. Eis o posicionamento da defesa de Jamil Name Filho.”

A advogada Paloma Gurgel, que atualmente representa Fernandinho Beira-Mar afirmou que de fato o narcotraficante se instalou na década de 90 na cidade de Capitan Bado e que ele foi condenado a 15 anos por mortes na região. Entretanto, nega que ele tenha difundido a facção criminosa Comando Vermelho no local e que Fernandinho Beira-Mar não foi condenado por esse motivo.

“Em resposta a esta emissora de televisão, como atual defensora de Luiz Fernando da Costa, mais conhecido como Fernandinho Beira-Mar, a respeito de Conflitos na Fronteira, mais um crime foi atribuído a Luiz Fernando. A história realmente aponta que ele se instalou na cidade de Capitán Bado, que tem fronteira seca com o Brasil, Capitán Bado no Paraguai e Coronel Sapucaia no Brasil. Corresponde a Pedro Juan Caballero no Uruguai e Ponta Porã no Brasil. Luiz Fernando foi condenado a 15 anos pela morte de João Morel, patriarca da família Morel. Imputaram a Luiz Fernando as mortes dos dois filhos de João Morel, no Paraguai – e a morte de João Morel, no Presídio estadual de Campo Grande/MS. Crime de mando é sempre muito difícil para a defesa. Apesar de não ter feito o júri na época dos fatos, pois ainda não era sua procuradora, o advogado do caso à época fez uma defesa brilhante. No entanto, Luiz Fernando foi condenado (5 votos pela condenação x 2 pela absolvição) pelo júri e mesmo sem provas contundentes, com base apenas no depoimento de um delator que afirmou “o executor contou que foi o Fernando Beira-Mar que mandou”. A respeito de difusão de facção criminosa, indagado por esta reportagem, Luiz Fernando nega veementemente e não foi condenado por tal motivo.”

O advogado Fabio Ricardo Mendes Figueiredo, que representa Jarvis Chimenes Pavão informou que seu cliente já reconheceu ter sido narcotraficante no passado, mas que desde os anos 2000, atua em atividades lícitas. Informou também que Jarvis jamais foi oficialmente investigado em relação à morte de Jorge Rafaat e que tais informações são falsas. Por fim, disse que sobre a acusação de lavagem em dinheiro com base em um bilhete encontrado em sua cela, o processo ainda está em fase inicial e que a competência de juízo é em Ponta Porã e não Porto Velho. 

A advogada Sandra Regina da Silva de Almeida, que representa Elton Leonel Rumich da Silva não respondeu aos questionamentos da reportagem.

O advogado de Giovanni Barbosa da Silva, o Bonitão, não foi localizado.

A reportagem entrou em contato com o advogado que consta nos autos do processo de Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, Manoel Cunha Lacerda, mas ele informou que deixou o caso.

Especial Guerra na Fronteira (Arte/R7)

Especial Guerra na Fronteira

Arte/R7

Vice-presidente de Jornalismo: Antonio Guerreiro
Diretores de Jornalismo: Aline Sordili, Clovis Rabelo, Domingos Fraga, Rogério Gallo e Thiago Contreira
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Conteúdo: Núcleo de Jornalismo Investigativo
Reportagem (textos e vídeos): Márcio Neves, Marcos Guedes e André Azeredo
Imagens: Elton Resende e Márcio Neves
Arte: Matheus Vigliar e Omar Sabbag
Edição de Texto (vídeo): Jayr Dutra
Edição Imagens: Acrisio Mota e Michel Ponte
Editora-executiva Domingo Espetacular: Juliana Haddad
Coordenação: Thiago Samora e André Caramante

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