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Kaique Dalapola e Leonardo Martins, do R7, e André Caramante, da Record TV

 "Como é teu nome?"

A pergunta é feita a um homem deitado, que agoniza com uma poça de sangue próxima a sua cabeça. Seu cabelo é curto e, apesar da pele parda, ele está pálido. O vídeo de seis segundos foi registrado pela Polícia Militar do Maranhão em meados de dezembro de 2018.

A parte de seu corpo capturada pela câmera revela quatro tatuagens. No ombro direito, um nome, "Ana Clara". No ombro esquerdo, um provérbio criado pelos Sioux, índios norte-americanos: "Que meus inimigos sejam fortes e bravos para que eu não sinta remorso ao derrotá-los".

Em volta do pescoço e descendo pelo torso, um terço tatuado, que termina próximo à boca do estômago, com uma cruz envolta em espinhos. A maior delas, na parte superior do peito, traz uma frase: "Sueli te amo".

Ele respira, mas parece sofrer o que a medicina chama de apoplexia, o fenômeno biológico que domina o cérebro após um grande sangramento e separa, por instantes, a vida e a morte.

O homem não consegue se comunicar para responder o policial. Mesmo quando tenta, um som abafado, sem força ou caminho, sai de sua boca. O responsável pelo vídeo desiste e a gravação acaba de forma abrupta.

Em fotos registradas no mesmo dia, o homem aparece, agora, com um tiro no peito. Um furo de cerca de dois centímetros, logo abaixo do tórax, conhecido entre exterminadores como "mata porco".

O R7 questionou sobre o disparo no peito, mas não houve explicação da SSP-MA (Secretaria de Segurança Pública do Maranhão). A perfuração do novo tiro não atinge nenhuma tatuagem. Fica a cerca de 10 centímetros acima da cruz e um palmo abaixo da homenagem a Sueli.

O que já se sabe hoje é que o vídeo revela os segundos finais de um soldado do crime organizado: Batata. 

 "Cadê seu documento?"

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Reprodução/MP-SP

A polícia fazia uma ação contra suspeitos de roubarem R$ 100 milhões do Banco do Brasil da cidade de Bacabal, a cerca de 150 km de São Luís, oito dias antes — em 25 de novembro. A ação de cerca de 30 criminosos, segundo as autoridades locais, aterrorizou o município e deixou quatro mortos: três supostos assaltantes e um morador.

No dia seguinte ao assalto, o secretário da Segurança Pública do Maranhão, Jefferson Portela, disse que a polícia iria “buscar um por um” do grupo que tocou terror na cidade do interior maranhense.

A SSP-MA afirmou que o assalto cinematográfico foi orquestrado pelo líder da facção criminosa BDM (Bonde do Maluco) — a aliada da facção paulista PCC (Primeiro Comando da Capital) na Bahia.

Foi nessa busca de “um por um” prometida pelo secretário que a PM parou um caminhão na cidade de Santa Luzia do Paruá (a cerca de 250 km de Bacabal e 300 da capital, São Luís). Segundo a polícia, o caminhão estava levando R$ 40 milhões que haviam sido roubados no Banco do Brasil e 13 supostos integrantes do bando.

A interceptação da Polícia Militar teve troca de tiros e terminou com 10 presos e mais três mortos, segundo a SSP-MA. Um vídeo divulgado após a ação policial mostra sete pessoas aparentemente sem ferimentos e, o oitavo das imagens, é o homem que dá os últimos suspiros.

Dos oito homens que aparecem, três constam na lista de mortos divulgados pela secretaria da Segurança: dois tinham se identificado para o vídeo. O rapaz incapaz de responder aos questionamentos do policial teve seu nome divulgado pelas autoridades como Renan Santos dos Prazeres.

Mas o homem morto é o primo do Renan, o filho da dona Sueli — que carregava o nome da mãe no peito: Alan Santos dos Prazeres.

A informação veio à tona em 18 de dezembro, quando o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) denunciou quatro supostos envolvidos no crime contra a PM Juliane, em agosto, e disse que o quinto não seria denunciado por se tratar de Alan, conhecido como Batata, morto entre os assaltantes de Bacabal.

Verdadeiro documento de Alan Batata, obtido pela Polícia Civil de São Paulo (Reprodução/TJ-SP)

Verdadeiro documento de Alan Batata, obtido pela Polícia Civil de São Paulo

Reprodução/TJ-SP
Em SP é diferente
As ruas (e as vítimas) não confundiriam

Batata era bem conhecido nas ruas de Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo — uma populosa ilha do bairro nobre do Morumbi, na zona sul da cidade.

Seu nome está ligado não só ao assalto no Maranhão, mas também à morte de dois policiais em São Paulo: o soldado Genivaldo Carvalho Ferreira, em 2013, executado por uma arma roubada da Rota, e a soldado Juliane dos Santos Duarte, em 2018, em um caso de ampla repercussão.

No entanto, a única execução confessa de Alan é outra: a de seu irmão, Rodrigo, morto com nove tiros em janeiro de 2014, após tentar abusar da irmã mais nova deles, de 13 anos. Segundo as testemunhas que presenciaram os crimes, todos da família, o irmão implorou para que Alan o matasse. O R7 teve acesso aos depoimentos que constam no processo.

Enquanto nomes como Marcola, Gegê do Mangue, Birosca, Fuminho costumam concentrar os holofotes da mídia, do Estado e da opinião pública para falar do PCC, a história de Alan, o Batata, morto com 25 anos como uma figura desconhecida, revela como os "soldados" anônimos recrutados pela facção são entidades essenciais para o funcionamento e manutenção do crime organizado no Brasil e estão dispostos a fazer o que for preciso.

Alan Santos dos Prazeres, o Batata (Reprodução/TJ-SP)

Alan Santos dos Prazeres, o Batata

Reprodução/TJ-SP
Mil faces de um homem leal

Alan Santos dos Prazeres, o Batata, nasceu em uma favela de Osasco, na Grande São Paulo, e morou parte da infância com a família na rua que anos mais tarde se chamaria Morada dos Sonhos, no Jardim Vicentina.

Antes mesmo de Batata nascer e durante o período da infância que viveu por lá, um córrego cortava o amontoado de casas ao meio. Nas épocas de chuva forte, as pencas de objetos que eram despejados nas águas transformavam o pequeno riacho em um rio agitado. O que era jogado voltava, em forma de entulho, e invadia as casas.

A vida no bairro seguiu assim por 40 anos. Até que, no início desta década, uma rua foi construída seguindo o desenho da água, enterrando o sujo córrego que virava rio.

Em meio ao crescimento frenético do Brasil, o Jardim Vicentina ressurgiu na garupa do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que entregou em uma só tacada 178 casas na região. No lançamento do projeto, em março de 2010, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da entrega das chaves, ao lado da então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

As edificações de dois e três andares se apinharam lado a lado em uma área de aproximadamente 95 mil metros quadrados. Construídas com bloco cerâmico aparente, suas casas de 50 m² com dois dormitórios têm vista para o antigo córrego, agora rua de paralelepípedo.

Após a mudança das famílias para as novas casas, todos sabiam que nunca mais sofreriam por causa das chuvas de verão. Em 2010, em meio às obras finais, um tapume trazia a mensagem, escrita com tinta guache, de um antigo morador: "Vai ser muito bom saber que meus filhos não vão mais andar dentro do esgoto".

Vista de cima do Jardim Vicentina (Divulgação/Leonardo Finotti)

Vista de cima do Jardim Vicentina

Divulgação/Leonardo Finotti

Mas antes de ver as transformações, em 2003, com apenas 10 anos, Batata deixou a mãe e os irmãos na cidade da região metropolitana e foi morar na favela de Paraisópolis. A casa era uma propriedade da família, no final de um corredor extenso próximo à UBS (Unidade Básica de Saúde) Paraisópolis.

Como as coisas na vida do menino aconteciam precocemente, também parou de estudar cedo. Sequer terminou o sétimo ano do ensino fundamental — o que indica que com 13 anos deixou de frequentar a escola. Só foi o suficiente para aprender a ler e escrever. O resto aprendeu na rua.

Ainda na adolescência, o menino começou sua vida no crime. Foi apreendido pela polícia por porte de arma e roubos a residências.

Aos 15 anos, se tornou pai de um menino. Nem isso o tirou do crime. A falta de estudo convencional também não impediu a chegada do rapaz a um dos cargos mais altos no mundo do tráfico: era o gerente da biqueira (ponto de venda de drogas), responsável pela contabilidade do comércio de entorpecentes. A informação foi dada por ele mesmo ao DHPP (Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa), em janeiro de 2014, em documento que o R7 teve acesso.

Com 20 anos, Batata andava na favela de Paraisópolis com coldre e pistola ponto 40, que seria de uso restrito da Polícia Militar de São Paulo. Ele já era experiente, destemido e muito conhecido na região. Os moradores sabiam que ele era nome alto na hierarquia dos “donos da comunidade”.

Apesar disso, o jovem afirmava que jamais integrou o PCC. O máximo que dizia era que tinha proximidade com um homem conhecido como Sem Fronteira e que ele, sim, era o representante do PCC na área. Os dois eram nomes fortes na biqueira, mas, segundo Batata, era Sem Fronteira quem resolvia os problemas maiores, justamente por ser da facção.

O parceiro do comando
Sem Fronteira (Reprodução/Record TV)

Sem Fronteira

Reprodução/Record TV

Quando Batata tinha 18 anos, Everaldo Severino da Silva Félix, conhecido como Sem Fronteira, deixou a Bahia e voltou a morar em São Paulo. Mais especificamente em Paraisópolis. A partir daí, a dupla Batata e Sem Fronteira, junto com outros soldados do crime, foi vista algumas vezes e causou mortes e lucros para a facção.

As investigações da Polícia Civil apontam que Sem Fronteira tinha esse apelido por não se conter aos limites dos Estados e participar de grandes assaltos em várias unidades federativas do Nordeste. Ele teria saído de São Paulo para morar na Bahia justamente para fazer esses serviços para facção.

Os crimes que Sem Fronteira é acusado de ter cometido no Nordeste seguiam roteiro semelhante ao assalto em Bacabal. Ações cinematográficas, com bandidos muito mais preparados em armamento do que a polícia local. Era quase certo que renderiam muita grana para os cofres do Primeiro Comando da Capital.

Quando voltou para a capital paulista, Sem Fronteira foi acusado pelo MP-SP (Ministério Público de São Paulo) de ser um dos “sintonias” do PCC em Paraisópolis. Assim, ele seria o ponto de referência da maior facção do país dentro da segunda maior favela de São Paulo.

Procurado pelo R7, o advogado de Sem Fronteira, José Albino Neto, destacou que ele foi absolvido do homicídio do PM Genilvado e afirmou que assumiu a defesa do acusado agora, por isso, ainda não iria se pronunciar sobre outras acusações.

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Arte/R7
PM Genivaldo: 1º soldado morto

A arma da Polícia Militar que Batata andava portando na favela pode ter sido roubada em duas circunstâncias. A primeira, no furto de 31 pistolas do batalhão da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), apontada como tropa de elite da PM, e que o Estado deu conta do sumiço em setembro de 2013. A segunda possibilidade é que pertenceria ao soldado Genivaldo Carvalho Ferreira, assassinado em Paraisópolis no dia 16 de março de 2013.

A morte desse soldado da PM é justamente a primeira atribuída a Batata. Um morador de Paraisópolis que entrou no Provita (Programa de Proteção à Testemunha) disse que viu, por uma fresta da janela, Batata, seu parceiro Sem Fronteira e outros dois homens executando Genivaldo.

Sob as ordens de Sem Fronteira, o grupo abordou o policial no meio da favela, o algemou com as mãos para trás e, depois de agredi-lo, mataram com vários tiros de pistola ponto 40, conforme relatou a testemunha. A mesma arma, que meses antes havia sido roubada na Rota, ia sendo revezada na mão do grupo. Depois, a ponto 40 da PM que estava com o soldado também foi roubada.

O crime teria sido cometido por causa de um relacionamento de Genivaldo. O soldado namorava Maria de Fátima, uma moradora de Paraisópolis. Esta mulher, de acordo com as investigações, era ex-companheira de um integrante do PCC que estava preso. Além disso, as visitas do policial à casa dela, no meio do bairro, traziam insegurança para os traficantes da região, que temiam estar sendo observados.

A possibilidade de existir problemas entre traficantes e o policial já apavorava a família de Maria. Antes bem aceito entre os parentes da mulher, o relacionamento foi alvo de várias tentativas de interrupção, principalmente por parte da mãe de Maria, justamente por ele ser PM.

Nas ruas de Paraisópolis, as investigações apontam que Sem Fronteira era um dos nomes fortes do tráfico de drogas. Para o PCC, ele tinha a função de “disciplina” — era sua responsabilidade resolver conflitos e confusões na comunidade. Por conta disso, o recado foi claro: as visitas do policial precisavam acabar.

No dia que foi assassinado, um sábado, o policial havia participado de um churrasco na casa do filho Guilherme. Ele passou a noite inteira com o celular na mão.

A ex-mulher e os filhos de Genivaldo prestaram depoimento e todos disseram que o soldado estava nervoso porque, aparentemente, brigara com a namorada. No meio da madrugada, saiu dizendo que iria se resolver com ela. Sequer deu tempo de encontrá-la.

Já a namorada do PM disse, também em depoimento à Justiça, que eles estavam brigados e o soldado falou que iria visitá-la. Mas ele não apareceu e, por orgulho, ela também não o procurou. Pensou que ele não queria mais conversar com ela.

Genivaldo foi encontrado morto no porta-malas do carro que usava, que pertencia a um amigo PM, na Vila das Belezas, região do Campo Limpo (zona sul). Os nomes dos envolvidos e as circunstâncias são parecidos com outro crime que aconteceu cinco anos depois.

PM Juliane: 2º soldado vítima do grupo

O grupo também é apontado como responsável pela morte da PM Juliane dos Santos Duarte. Assim como o soldado morto em 2013, Juliane também foi encontrada morta dentro do porta-malas de um carro. Ela foi localizada no dia 6 de agosto de 2018, na região do Socorro (zona sul).

O caso de Juliane teve ampla repercussão na imprensa. Ela ficou desaparecida por uma semana. O motivo de ter sido assassinada, segundo as investigações, foi um possível relacionamento momentâneo com uma ex-companheira de um integrante do PCC e o desconforto dos traficantes com a presença de uma policial militar no meio da favela.

A polícia descobriu que a mulher com quem Juliane se relacionou na madrugada do dia 2 de agosto, no Bar do Litrão, já namorou com um membro da facção porque Batata mandou uma foto dela no grupo do WhatsApp com traficantes de Paraisópolis acompanhado da seguinte mensagem: “Essa mina aí é aquela ex mina do Tufão lá lembra, rapaziada? [sic] O Tufão [outro denunciado pela morte da PM] deu um cacete nela”.

Irmãos de sangue
''A lei do crime é pouca ideia''
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Reprodução/TJ-SP

No intervalo da morte entre os PMs Genivaldo e Juliane, Batata foi chamado para resolver um problema com o irmão na casa da família. Logo pela manhã do dia 4 de janeiro de 2014, um sábado, uma prima ligou dizendo que ele precisava sair de Paraisópolis para ir até Osasco.

Chegando lá, soube que seu irmão mais velho, Rodrigo, chegou em casa bêbado e tentou estuprar a irmã mais nova deles, que tinha 13 anos. A menina estava dormindo. Quando viu que estava sendo abusada pelo irmão acordou e saiu correndo, desesperada. Batata chegou ao local duas horas depois.

Armado de uma pistola ponto 45, chegou no bairro de carona no carro de um amigo de Paraisópolis e caminhou por alguns metros sozinho até a casa da família.

Ouviu o que estava acontecendo, soube onde o irmão estava e foi encontrá-lo. Rodrigo estava acompanhado da mãe e de um primo, na rua próxima da casa deles. Batata olhou para o irmão e pediu para ele confirmar se havia feito aquilo mesmo.

“Você sabe o que tem que fazer. Me mata logo. Se você não me matar, eu mesmo vou me matar. O que eu fiz não tem perdão, nem Deus vai perdoar.” Essas foram as últimas palavras de Rodrigo, de acordo com depoimento de Batata. Com a confirmação, ele afastou a mãe de perto.

Instantes depois voltou, fechou os olhos e descarregou a arma.

Cruzamento onde Batata matou o irmão, em Osasco (Reprodução/TJ-SP)

Cruzamento onde Batata matou o irmão, em Osasco

Reprodução/TJ-SP

Nove tiros acertaram o corpo de Rodrigo. Pouco depois, Batata se arrependeu, mas acredita que “não teve opção” — para ele, essa é a lei do crime.

A única pessoa que presenciou essa morte foi um primo: Renan Santos dos Prazeres. Seu nome seguiria sendo importante na vida de Batata até o fim de sua vida.

Pouco depois de tentar estuprar a irmã, Rodrigo havia saído para a rua, pegou a motocicleta e disse que iria se matar. Renan o impediu. Cerca de uma hora depois, Batata chegou no local, enquanto o primo e o irmão conversavam. Depois da execução, Batata saiu do bairro com a motocicleta de Renan, até encontrar com o amigo que o levou de volta para Paraisópolis.

Foi esse crime que levou Batata para atrás das grades, na mesma semana. Quando foi capturado por policiais civis, em sua casa na favela de Paraisópolis, ele estava com uma pistola ponto 40.

Ele nega que a arma seja a de Genivaldo e também não foi questionado se pertencia àquelas furtadas da Rota. Segundo ele, pegou a arma assim que voltou para a favela depois de ter matado o irmão, em uma troca que fez com um rapaz conhecido como Magrinho.

Pichação com nome de Magrinho, suposto dono de arma usada por Batata (Reprodução/Google Street View)

Pichação com nome de Magrinho, suposto dono de arma usada por Batata

Reprodução/Google Street View
Justiça quis Batata livre

Pela Polícia Civil de São Paulo, Batata teria sido preso antes de matar o irmão. Depois do início da investigação sobre a morte de Genivaldo, a polícia pediu para que a Justiça decretasse a prisão temporária dos parceiros Alan Batata e Sem Fronteira, além de outros dois envolvidos.

Na solicitação, a polícia ainda pediu a quebra de sigilo telefônico e a expedição de um mandado para apreender um aparelho celular utilizado no dia do crime e a pistola ponto 40.

No entanto, no dia 28 de novembro de 2013, a juíza Elaine Cristina Pulcineli Vieira, da Terceira Vara do Júri de São Paulo, disse que "o simples fato de existir fundadas razões de autoria não é o suficiente para a decretação da prisão temporária".

Para a magistrada, como as investigações apontavam que os parceiros andavam armados na favela de Paraisópolis, "nada impedia que os policiais prendessem em flagrante tais pessoas pelo crime de porte de arma de fogo".

Ela também não expediu mandado para os policiais apreenderem o celular e a pistola com os homens. Segundo a juíza, como o crime aconteceu seis meses antes, "não há sequer indícios de que a diligência será frutífera ou ainda de sua imprescindibilidade para a continuidade das investigações".

Procurada pelo R7, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) disse que Batata teve um mandado de prisão preventiva decretado pela Justiça e o Setor de Homicídios e Divisão de Capturas da Decade (Delegacia de Capturas e Delegacia Especiais) investigaram o caso e fizeram as buscas.

"Mas o suspeito fugiu", disse a nota da secretaria. A sorte sorriu para Batata.

Sorriu mais ainda em março de 2016, dois anos e dois meses depois de matar o irmão. Ele chegou a ficar preso preventivamente e foi para o banco dos réus ser julgado pelo Tribunal do Júri.

A maioria dos sete jurados, formados por pessoas da sociedade civil, considerou que Batata não foi responsável pela morte do soldado Genivaldo. "Expeça-se o alvará de soltura", decretou a Justiça.

A "herança" de Batata
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Arte/R7

Nas ruas, era difícil ter rastros do Batata. Não há informações de outros crimes que ele tenha cometido. Mas em um momento a sorte parou de sorrir.

No último crime, ele foi apontado como um dos "soldados" do crime no assalto cinematográfico em Bacabal.

Mesmo assim, Batata era tão irrastreável que morreu com o nome do primo, Renan Santos dos Prazeres. Mesmo quando a reportagem pediu para a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão confirmar a identifidade dos mortos do assalto, não houve retorno.

Depois do assalto de Bacabal, as autoridades locais apontavam que o grupo havia levado cerca de R$ 100 milhões do Banco do Brasil. Antes das mortes dos últimos três suspeitos e as prisões, a polícia maranhense disse que recuperou R$ 40 milhões.

A herança de Batata, o soldado que ascendeu rápido e morreu longe de casa, foi portanto de algo em torno dos R$ 60 milhões para o PCC. Dinheiro que deve ser compartilhado com os aliados baianos do Bonde do Maluco.


Reportagem: Kaique Dalapola, André Caramante e Leonardo Martins
Edição: Leonardo Martins e Tatiana Chiari
Desenhos e arte: Matheus Vigliar