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Por Ciro Barros, da RECORD

Sete disparos interromperam o silêncio que reinava no bairro do Capim Macio, área nobre de Natal, no Rio Grande do Norte, naquela sexta-feira, dois de maio de 2014. Caído no chão, na garagem da casa no número 1963 da rua Francisco Pignatário estava o corpo do italiano Enzo Albanese, antigo membro da polícia italiana e diretor de rugby do Alecrim Futebol Clube, o terceiro mais popular da capital potiguar. Sob a cabeça do cadáver, que ainda portava o capacete vermelho que a vítima usava para dirigir sua moto, uma poça de sangue formada pelos três disparos que atingiram em cheio o queixo e o pescoço do homem de meia idade. A cena do crime não deixava dúvidas: tratava-se de uma execução.

Enzo Albanese, antigo diretor de rugby do Alecrim Futebol Clube, foi assassinado a tiros em frente à sua casa em maio de 2014  (Divulgação/Alecrim Futebol Clube)

Enzo Albanese, antigo diretor de rugby do Alecrim Futebol Clube, foi assassinado a tiros em frente à sua casa em maio de 2014

Divulgação/Alecrim Futebol Clube

Enquanto recolhiam as cápsulas, os policiais potiguares não poderiam imaginar que o homicídio jogaria luz sobre uma realidade não tão escondida da capital do Rio Grande do Norte: a presença da máfia italiana nos investimentos imobiliários da cidade. Dez anos depois da morte de Albanese, o capítulo mais recente dessa história é a prisão de Giuseppe Bruno, no último dia 13 de agosto. Giuseppe é investigado em um esforço conjunto entre autoridades do Brasil e da Itália. Ele é suspeito de ser o homem forte em Natal da Cosa Nostra, organização mafiosa da região da Sicília que existe desde o início do século XIX, como mostrou o Domingo Espetacular.

Giuseppe Bruno (foto) foi preso no último dia 13 de agosto e é investigado como operador da Cosa Nostra no Brasil (Divulgação)

Giuseppe Bruno (foto) foi preso no último dia 13 de agosto e é investigado como operador da Cosa Nostra no Brasil

Divulgação

As investigações, porém, apontam uma conexão entre a morte de Enzo Albanese e a prisão de Giuseppe Bruno. Na trama que se desenrolou ao longo de dez anos, um roteiro de fraudes, golpes, ameaças, mortes e milhões de reais lavados nas dunas da capital do Rio Grande do Norte pela máfia italiana.

Disparos na vizinhança

“Era uma sexta-feira, eu tinha terminado o expediente na Delegacia de Homicídios, onde eu era lotado. Coincidentemente, por ironia do destino, ao chegar em casa, depois de uns trinta minutos, eu escutei os estampidos dos disparos de arma de fogo do crime”, relembrou o delegado Raimundo Rolim, responsável pela investigação do homicídio de Enzo Albanese em 2014, em depoimento prestado ao júri. Rolim morava a três quadras do local do crime, no mesmo bairro do Capim Macio e lembrou do barulho dos tiros que vitimaram o italiano. Cerca de um mês depois, foi designado em caráter especial pela Polícia Civil do Rio Grande do Norte para desvendar a morte que ocorrera na sua vizinhança.

Raimundo Rolim, ex-delegado de Homicídios, responsável pela investigação da morte de Enzo Albanese. Crime ocorreu a poucos quarteirões de sua casa (Reprodução)

Raimundo Rolim, ex-delegado de Homicídios, responsável pela investigação da morte de Enzo Albanese. Crime ocorreu a poucos quarteirões de sua casa

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Delegado experiente, acostumado a casos de grande repercussão como a prisão e extradição de Victor Bernard, americano acusado de liderar uma seita responsável por um esquema de crimes sexuais que funcionou na praia da Pipa (RN), ele não encarou aquele como um trabalho difícil. Quando assumiu a investigação, os depoimentos e provas já reunidos apontavam para aquele que seria condenado sete anos depois como mandante do crime: o italiano Pietro Ladogana.

Pietro Ladogana, italiano condenado pelo homicídio de Enzo Albanese e agora acusado de manter vínculos com a Cosa Nostra (Reprodução)

Pietro Ladogana, italiano condenado pelo homicídio de Enzo Albanese e agora acusado de manter vínculos com a Cosa Nostra

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Em uma longa investigação que contou com cerca de 26 depoimentos só em fase de inquérito, além de interceptações telefônicas, quebras telemáticas e outras medidas, o delegado formou sua convicção. Segundo o relatório apresentado por ele, recebido quase que integralmente na denúncia do Ministério Público do Rio Grande do Norte, o mandante da execução, Pietro Ladogana, convivia com a vítima, o patrício Enzo Albanese, no dia a dia de algumas empresas. Albanese representava, no Brasil, alguns italianos que realizavam investimentos no mercado imobiliário em uma sociedade com Pietro Ladogana.

Enzo Albanese (foto) descobriu fraudes praticadas por Pietro Ladogana e contou a seus sócios italianos. Foi ali que assinou sua sentença de morte (Reprodução/Alecrim Futebol Clube)

Enzo Albanese (foto) descobriu fraudes praticadas por Pietro Ladogana e contou a seus sócios italianos. Foi ali que assinou sua sentença de morte

Reprodução/Alecrim Futebol Clube

Segundo as investigações, a vítima investigou por conta própria e descobriu que Ladogana estava envolvido em um esquema de fraudes em registros de imóveis em cartórios na região norte de Natal, na Praia da Redinha, bem como no município de Extremoz (RN), que vive um “boom” imobiliário por ser o terceiro município com maior crescimento populacional segundo o Censo Demográfico de 2022. Ladogana se aliou, segundo as investigações, a servidores de cartórios e até políticos no município de Extremoz para apropriar-se indevidamente de terrenos na cidade, muito cobiçados pelo mercado imobiliário, que possui um litoral com uma estrutura hoteleira ainda subaproveitada e uma enorme demanda por moradias populares, como os imóveis do programa Minha Casa Minha Vida.

A polícia levantou mais casos suspeitos envolvendo Pietro Ladogana e a disputa por terrenos em Extremoz e na zona norte de Natal. O policial militar Wilson Ramos do Nascimento disse em depoimento que havia sido ameaçado pelo italiano após comprar uma área no município de Extremoz. “Pouco tempo depois que eu terminei de pagar o terreno, apareceu o senhor Pietro lá”, disse em depoimento ao júri o PM Wilson Nascimento. “Eu estava botando umas pedras no terreno para começar a construir. Ele [Ladogana] encostou com a caminhonete branca. E perguntou o que eu estava fazendo. Eu disse que eu tinha comprado o terreno. Ele disse que a propriedade era dele. Ele disse que se eu botasse mais um tijolo lá eu ia me arrepender”, lembrou Nascimento.

O policial Wilson Ramos do Nascimento afirmou ter sido ameaçado por Pietro Ladogana (Reprodução)

O policial Wilson Ramos do Nascimento afirmou ter sido ameaçado por Pietro Ladogana

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Nove meses antes da execução de Enzo Albanese, houve um caso ainda mais grave que, segundo os policiais, também contou com a participação de Pietro. O secretário de Tributação de Extremoz, Giovanni Gomes de Araújo, foi alvo de uma tentativa de homicídio. Em 15 de agosto de 2013, Araújo saía da festa de formatura do filho no Centro de Convenções, na Via Costeira de Natal, quando foi alvo de dois disparos no carro que dirigia. Um dos disparos o atingiu na perna, onde o projétil ficou alojado. Para a polícia, Pietro Ladogana teria dado a ordem para dar um “susto” no secretário Giovanni pois este não estaria cedendo a pressões para deixar de cobrar impostos municipais.

Giovanni Gomes de Araújo, secretário de tributação de Extremoz, foi alvo de um atentado a tiros em agosto de 2013 quando estava na formatura de seu filho (Reprodução)

Giovanni Gomes de Araújo, secretário de tributação de Extremoz, foi alvo de um atentado a tiros em agosto de 2013 quando estava na formatura de seu filho

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A movimentação financeira de Pietro já era alvo de um inquérito aberto pela Polícia Federal do Rio Grande do Norte dois anos antes da morte de Albanese, em 2012. A investigação apontou uma movimentação de aproximadamente 4,7 milhões de dólares em nome de Pietro e de empresas ligadas a ele, a maior parte delas ligadas ao mercado imobiliário e com atuação na mesma região. Há registro de movimentações financeiras de Pietro em países como Alemanha, Bélgica, Croácia, Espanha, Reino Unido e Suíça, principalmente de remessas de dinheiro de pessoas situadas nesse países para Pietro, suas empresas e alguns de seus familiares.

Antes de morrer, Albanese descobriu o esquema de fraudes de Pietro Ladogana nas negociações do mercado imobiliário e avisou aos italianos que representava sobre o que havia descoberto a respeito do compatriota. Para a polícia, quando delatou os esquemas de Ladogana aos sócios italianos, Albanese assinou sua sentença de morte.

Pietro Ladogana foi condenado como mandante do assassinato de Enzo Albanese. Ele cumpre uma pena de 14 anos de prisão na Penitenciária de Alcaçuz (RN) (Reprodução)

Pietro Ladogana foi condenado como mandante do assassinato de Enzo Albanese. Ele cumpre uma pena de 14 anos de prisão na Penitenciária de Alcaçuz (RN)

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Ladogana ainda está preso pela morte do compatriota. Cumpre uma pena de 14 anos atualmente na Penitenciária de Alcaçuz (RN). No esforço conjunto de investigação entre o Ministério Público Federal no Rio Grande do Norte e a Procuradoria de Palermo, na Itália, Pietro é suspeito de integrar a Cosa Nostra já naquela época. Segundo as investigações, a prisão dele gerou uma necessidade de reorganização por parte da máfia e o envio de outro italiano para substituir Pietro: Giuseppe Bruno.

Um problema para a máfia

Pietro Ladogana foi preso pela primeira vez na Itália ainda em 2014. Pouco antes do assassinato de Enzo Albanese, ele deixou o Brasil em direção ao país europeu. Ele foi preso ao tentar voltar ao Brasil com 120 mil euros escondidos nas roupas.

Giuseppe Bruno desembarcou no Brasil em 2016. Segundo as investigações, com a missão de substituir Pietro Ladogana após sua prisão (Reprodução)

Giuseppe Bruno desembarcou no Brasil em 2016. Segundo as investigações, com a missão de substituir Pietro Ladogana após sua prisão

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Segundo a Procuradoria de Palermo, na época em que foi preso, Ladogana era um parceiro histórico de outros dois italianos: Giuseppe Calvaruso, o chefe do clã Pagliarelli, um dos oito distritos da Cosa Nostra e Giuseppe Bruno, o italiano preso em Natal no último dia 13 de agosto, também apontado como membro da mesma organização de Calvaruso. Os promotores italianos suspeitam que Ladogana era responsável por gerenciar os investimentos da organização criminosa italiana no Brasil e obedecia às ordens dos chefes em seu país natal.

A prisão de Ladogana gerou um problema para a máfia. "Em 2014, ocorreu a primeira prisão de Pietro Ladogana (...), de forma que a dupla formada por Giuseppe Calvaruso e Giuseppe Bruno foi confrontada com o significativo problema de administrar seus enormes investimentos no Brasil", diz um ofício do Ministério Público Federal usando como base a investigação da Procuradoria de Palermo. Segundo o mesmo documento, foi a prisão de Ladogana que motivou a vinda de outro italiano ao Brasil: Giuseppe Bruno, que desembarcou no país nos primeiros meses de 2016.

Giuseppe Calvaruso, líder do clã Pagliarelli, um dos oito que compõe a Cosa Nostra. Preso em 2021 quando voltava de Natal para seu país de origem, a Itália (Reprodução)

Giuseppe Calvaruso, líder do clã Pagliarelli, um dos oito que compõe a Cosa Nostra. Preso em 2021 quando voltava de Natal para seu país de origem, a Itália

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Como mostrou o Domingo Espetacular, Giuseppe Bruno desembarcou no Brasil e assumiu logo de cara um perfil discreto. Descrito como alguém simples, que comia “quentinhas” e andava de carro alugado. Nos bastidores, porém, assumiu outra face.

A RECORD conversou sob a condição de anonimato com pessoas que trabalharam com Giuseppe Bruno e que temem represálias por parte da máfia italiana. Essas pessoas dizem que Giuseppe trabalhava incessantemente em uma série de transações imobiliárias, muitas delas milionárias. Um contrato formulado em maio de 2019, por exemplo, pela Finar Serviços Imobiliários e Financeiros, uma empresa que teve Giuseppe como sócio-administrador, formalizou a venda de três imóveis em um condomínio de luxo em Bananeiras, na Paraíba, pelo valor de R$ 6,5 milhões a uma construtora com sede em Singapura. Segundo a Procuradoria de Palermo, Singapura foi um dos países de onde partiu parte dos recursos usados na lavagem de dinheiro, assim como a Suíça e Hong Kong, por exemplo. As pessoas ouvidas pela RECORD dizem que Giuseppe Bruno trabalhava de segunda a sexta na formulação de contratos como esse. A suspeita das autoridades é que o objetivo fosse concretizar as operações no mercado imobiliário do Rio Grande do Norte.

Trechos de documentos de compra e venda de imóveis em um condomínio da cidade de Bananeiras (PB), em um condomínio de luxo (Foto: Reprodução)

Pessoas ouvidas pela RECORD, também confirmam encontros de Giuseppe Bruno com seu xará, Giuseppe Calvaruso, um dos “capos” da Cosa Nostra e suposto comandante do esquema de lavagem de dinheiro, na capital do Rio Grande do Norte. Essas pessoas falam em almoços frequentes de ambos em shoppings e restaurantes de luxo na capital potiguar. Calvaruso foi preso na Itália em abril de 2021, quando foi passar a Páscoa em sua terra natal. Ele embarcou em Natal em um voo em direção à Europa. Quando desembarcou no aeroporto Falcone Borsellino, em Palermo, foi preso sob acusações de associação criminosa, extorsão, agressão, sequestro e fraudes financeiras. Os crimes teriam relação com sua atuação mafiosa na Cosa Nostra.

O setor imobiliário de Natal na mira

As investigações sobre os negócios imobiliários de Giuseppe Bruno, Pietro Ladogana e Giuseppe Calvaruso jogam luz novamente sobre o setor imobiliário potiguar, principalmente a região norte de Natal e o município de Extremoz, alvo de intenso interesse e especulação no setor. As autoridades brasileiras e italiana qual a extensão da movimentação financeira da máfia italiana no setor. Já foi divulgado que o esquema do qual Giuseppe Bruno fazia parte movimentou mais de R$300 milhões em solo brasileiro, principalmente em terras potiguares. Mas o montante pode ser dez vezes maior.

Gustavo Souza, tabelião de Extremoz, foi condenado a mais de 11 anos de prisão por prática de peculato e lavagem de capitais (Reprodução)

Gustavo Souza, tabelião de Extremoz, foi condenado a mais de 11 anos de prisão por prática de peculato e lavagem de capitais

Reprodução

Há anos a polícia e o Ministério Público têm conhecimento de fraudes em cartórios na região. O cartório de Extremoz, por exemplo, já foi alvo de intervenção judicial e um de seus tabeliães, Gustavo Souza, foi condenado a mais de 11 anos de prisão pela prática de peculato e lavagem de capitais. O nome de Gustavo Souza aparece, inclusive, em algumas das negociações realizadas por Pietro Ladogana e Giuseppe Bruno.

O inglês Anthony Armstrong, apelidado de “Godfather” pela torcida do Alecrim Futebol Clube (Reprodução)

O inglês Anthony Armstrong, apelidado de “Godfather” pela torcida do Alecrim Futebol Clube

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Outro caso célebre envolvendo o mercado imobiliário na região envolve o inglês Anthony Armstrong. Ele foi presidente do Alecrim Futebol Clube, o mesmo em que Enzo Albanese era diretor de rugby. Por conta das melhorias que promoveu na equipe, Armstrong também foi apelidado pela torcida do time de futebol de “Godfather” (termo em inglês que significa “padrinho” e título de um dos maiores filmes a enfocar a máfia italiana, O Poderoso Chefão). Preso em 2020 nos Emirados Árabes, Armstrong foi condenado em 2023 a 25 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, indução de investidor a erro. Ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal de montar um grupo empresarial chamado EcoHouse que foi utilizado para recolher doações no montante de R$ 75 milhões e desviar os recursos para proveito próprio. Armstrong orgulhava-se de possuir em seu grupo uma construtora voltada à construção de conjuntos do programa Minha Casa Minha Vida. Um dos principais locais onde o inglês atuava era justamente o município de Extremoz, onde também se beneficiou de um esquema de fraudes na obtenção de terras, segundo a denúncia do MPF.

As investigações que agora se debruçam sobre Pietro Ladogana e Giuseppe Bruno podem agora revelar a extensão da lavagem de dinheiro praticada nas dunas de uma das mais belas capitais brasileiras.

Defesas de Giuseppe Bruno e Pietro Ladogana negam envolvimento com a máfia
Advogado de Pietro Ladogana, Archelaws Sátiro, diz que acusações da investigação são “infundadas” (Reprodução/RECORD)

Advogado de Pietro Ladogana, Archelaws Sátiro, diz que acusações da investigação são “infundadas”

Reprodução/RECORD

Em contato com a RECORD, o advogado Archelaws Sátiro, que representa Pietro Ladogana, afirmou que seu cliente é na verdade uma vítima nessa investigação que alega que ele faria parte da máfia. “Ele é vítima de acusações do Ministério Público totalmente infundadas”, disse. “Ele nunca fez parte de nenhuma máfia, seja qualquer que seja ela. Do ponto de vista da defesa técnica, essas acusações se originaram da época em que Pietro foi preso pela acusação de homicídio”, afirmou.

“Meu cliente refuta veementemente qualquer acusação”, afirma o advogado de defesa de Giuseppe Bruno, Paulo Coutinho (Reprodução/RECORD)

“Meu cliente refuta veementemente qualquer acusação”, afirma o advogado de defesa de Giuseppe Bruno, Paulo Coutinho

Reprodução/RECORD

A defesa de Giuseppe Bruno também nega que o italiano faça parte da máfia. “Meu cliente refuta veementemente qualquer acusação”, diz o advogado de Giuseppe, Paulo Coutinho. “É uma afirmação que parte de uma acusação unilateral, nós temos toda a documentação que fundamenta a acusação. Giuseppe Bruno não tem qualquer relação com qualquer evento criminoso anterior que fundamente a acusação”.