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Do R7

Assassinatos, sequestros, chacinas... São crimes que marcaram os anos 1990. E não é difícil lembrar desses casos que chocaram o país na época. Muitas vezes é só citar um nome para que as lembranças venham à mente.

Quer testar? Maníaco do Parque, Chacina de Acari, Caso Míriam, Atirador do Shopping e tantos outros.

Muitas histórias que chamaram atenção pela brutalidade e pelo perfil dos envolvidos. Investigações que desafiaram a polícia e revoltaram muitas famílias  do país. São alguns desses casos que vamos relembrar agora.

Veja um resumo do que preparamos para vocês:

Confira os principais crimes da década (Arte R7)

Confira os principais crimes da década

Arte R7

"Eu chorei vinte anos. Na esperança. Aí eu perdi, meu filho não está mais vivo. De lá para cá, eu perdi a esperança. É muita saudade que eu sinto".

Essa é a dor de uma mãe. Já foram trinta e dois anos. E dona Ana continua contando os dias, sem saber o que realmente aconteceu com o filho.

Antônio Carlos da Silva tinha dezessete anos, saiu de casa para passar alguns dias em um sítio com amigos antes de se apresentar ao serviço militar.

Ele e outros dez jovens foram levados para local e foram assassinados. Um dos crimes mais violentos do Rio de Janeiro.

Sete deles tinham menos de dezoito anos. Três eram meninas de treze a dezessete.
Todos foram vistos pela última vez no dia 27 de julho de 1990.

Jovens foram levados para esse sítio em Magé, no Rio de Janeiro (Reprodução/Record TV)

Jovens foram levados para esse sítio em Magé, no Rio de Janeiro

Reprodução/Record TV

Segundo testemunhas, eles perceberam algo diferente por volta das onze da noite quando seis homens armados e encapuzados chegaram ao sítio anunciando que eram da polícia.

Eles arrombaram uma porta. E das treze pessoas que estavam dormindo onze foram levadas.

As investigações apontaram que o sequestro foi cometido por um grupo de extermínio formado por policiais militares conhecido como "cavalos corredores".

Segundo o inquérito policial, três jovens que estavam no sítio eram suspeitos de envolvimento com crimes.

E os policiais teriam ido atrás deles para receber parte dos produtos roubados, o destino das vítimas nunca foi descoberto.

Nenhum corpo foi encontrado, ninguém foi preso e nem mesmo julgado. Em 2010, trinta anos depois, o inquérito foi arquivado. O caso foi encerrado, mas nunca esquecido, graças a luta das mães das vítimas, que nunca desistiram de uma resposta.    

E foi por isso que o crime ficou conhecido como o caso das "Mães de Acari", que também dá nome ao centro cultural de uma organização criada por ativistas da comunidade.

Os corpos nunca apareceram. Muitos pais não tiveram nem a chance da despedida. Veja o relato desse pai que perdeu o filho na Chacina de Acari. Ele é pai do jovem, Wallace de Souza Nascimento. O rapaz morreu aos catorze anos de idade.

1992: caso da menina Míriam

Quase trinta anos depois, a família de Míriam continua vivendo na mesma casa onde tudo começou. A mãe, Jocélia, nunca quis se mudar.

Em 22 de dezembro de 1992, Míriam Brandão, de 5 anos, foi sequestrada pelos irmãos Wellington e William enquanto dormia, na casa de seus pais, o homeopata Volney Henrique Brandão e a socióloga Jocélia de Castro, no Bairro Dona Clara, Região da Pampulha de Belo Horizonte.

Míriam, de 5 anos foi sequestrada pelos irmãos Wellington e William enquanto dormia, na casa dos pais (Reprodução/Record TV)

Míriam, de 5 anos foi sequestrada pelos irmãos Wellington e William enquanto dormia, na casa dos pais

Reprodução/Record TV

Eles se passaram por funcionários de uma empresa telefônica para entrar no imóvel. No dia seguinte, Míriam chorou e chamou pela mãe, no cativeiro.

Para que a menina parasse de chorar, os irmãos a sufocaram com éter. Em seguida, ela foi estrangulada, esquartejada e queimada. No mesmo dia, os sequestradores fizeram o primeiro contato com a família para exigir dinheiro pelo resgate. Em 7 de janeiro de 1993, os dois foram presos na casa usada como cativeiro, onde foram encontrados os restos mortais da criança enterrados no quintal.

Rosemaire Figueiredo Silva, funcionária da farmácia dos pais da garota e namorada de Wellington, foi presa acusada de ajudar no sequestro. Mas foi absolvida antes da condenação por falta de provas.

"Covardia, não tem uma palavra que a gente possa expressar tamanha crueldade"

Jocélia Brandão, mãe de Míriam

Mãe da Míriam recebeu a equipe do Jornal da Record em sua casa (Reprodução/Record TV)

Mãe da Míriam recebeu a equipe do Jornal da Record em sua casa

Reprodução/Record TV

Os irmãos que sequestraram Míriam, William e Wellington, foram condenados a 32 e 21 anos de cadeia.

Trinta anos depois, ainda dói muito na mãe da menina, o que ela considera ter sido a traição de Rosemeire por ser próxima da família. Hoje, eles vivem numa casa cercada de equipamentos de segurança. E o medo ainda mora dentro de todos.

1998: Caso Maníaco do Parque

Um episódio de mais de vinte anos atrás. Essa é a lembrança dolorida de Lígia Crescêncio, prima da primeira vítima do "Maníaco do Parque" a ser encontrada morta na mata.

Francisco de Assis Pereira ficou conhecido nacionalmente com esse apelido.

Francisco de Assis Pereira tinha uma conversa sedutora (Reprodução/Record TV)

Francisco de Assis Pereira tinha uma conversa sedutora

Reprodução/Record TV

Em 1998, ele estuprou e assassinou pelo menos seis mulheres, e tentou matar outras nove.

Seus crimes aconteciam no Parque do Estado, na região sul de São Paulo.

Francisco tinha uma conversa sedutora. Ele dizia para suas vítimas que elas seriam fotografadas para um catálogo no meio da mata no parque do Estado. Para isso tinha de convencê-las a fazer longas viagens, de dez a quinze quilômetros.

No caso da Raquel, a prima alertou de que não era uma boa ideia. Foi por uma ligação telefônica, o último contato com a família.

O assassinato de Lígia foi um dos sete pelos quais Francisco foi condenado. Outras nove vítimas escaparam com vida.

O maníaco tentou atrair dezenas de outras mulheres, uma delas que não quis se identificar tomou um esbarrão quando caminhava pelo centro de São Paulo.

"Eu tomei um susto. A pessoa esbarrou na minha frente me perguntando se eu gostaria de realizar um trabalho com fotografias." 

Na entrevista aos peritos, o Francisco diz que viveu aqui uma experiência marcante de sua infância, ele ficava escondido observando o abate dos bois no matadouro. Segundo Francisco, é como se depois de receber o golpe, os bois se ajoelhassem para pedir perdão ou clemência.

O trabalho da perícia identificou muitas peças de roupas da vítimas na mata, em São Paulo (Reprodução/Record TV)

O trabalho da perícia identificou muitas peças de roupas da vítimas na mata, em São Paulo

Reprodução/Record TV

A primeira acusação de tentativa de estupro contra Francisco foi feita em São José do Rio Preto, quase três anos antes dele ser preso e ficar claro que se tratava de um assassino em série de mulheres. Na época do crime, não tinha ainda especificação de feminicídio.

A Lígia, prima de Raquel, que o maníaco matou por asfixia, se recorda da descrição feita por quem foi reconhecer o corpo.

"Ela estava toda mordida, o corpo estava todo mordido"
Lígia Crescêncio, prima da primeira vítima do Maníaco

Os corpos das vítimas do Francisco foram encontrados próximos uns dos outros. Logo, a perícia começou a revelar detalhes que chamaram muita atenção, como marcas de mordidas em alguns deles.

Vaidoso, Francisco demonstrava sua rapidez de raciocínio em entrevistas. Veja essa entrevista que ele deu para o apresentador Marcelo Rezende.

Em sua defesa, Francisco relatou ter sido vítima de abuso de um tio e de uma tia quando criança. Psiquiatras o descrevem como um homem que descontava sua frustração nas mulheres. E ele ainda tinha um problema físico que atrapalhava as relações sexuais.

Francisco de Assis Pereira foi condenado a mais de 280 anos de cadeia em 1998. Ele poderá pedir progressão de pena em 2028. Isso porque a Legislação Brasileira impede que alguém fique preso por mais de trinta anos.

Em sua defesa, Francisco relatou ter sido vítima de abuso de um tio e de uma tia quando criança (Reprodução/Record TV)

Em sua defesa, Francisco relatou ter sido vítima de abuso de um tio e de uma tia quando criança

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1999: Caso Atirador do Shopping

Três de novembro de 1999. Mateus da Costa Meira entrou no cinema de um shopping, em São Paulo, com uma submetralhadora.

Ele reencenou o roteiro de um videogame do qual era fã. Depois de atirar contra o espelho do banheiro, veio para diante da tela e começou a disparar.
Uma das vítimas achou que era uma performance, parte da exibição do filme Clube da luta.

O planejamento para o massacre foi desenvolvido ao longo de 7 meses, como relatado pelo criminoso.

Os tiros na sala duraram cerca de 3 minutos. Mateus foi detido por seguranças do local quando parou para recarregar a arma. Ele logo foi preso em flagrante, em sua mochila ainda foram encontradas mais munições para a arma que usou.
Três pessoas morreram e quatro ficaram feridos.

Nos primeiros anos de cadeia, Mateus da Costa Meira foi transferido diversas vezes (Reprodução/Record TV)

Nos primeiros anos de cadeia, Mateus da Costa Meira foi transferido diversas vezes

Reprodução/Record TV

Mateus foi condenado a 120 anos de prisão, com cumprimento dos formais 30 anos, que são o máximo previsto por lei, no Brasil. Nos primeiros anos de cadeia, ele foi transferido diversas vezes, e continuava com o mesmo comportamento agressivo com os presos.

Em 8 de maio de 2009, Mateus tentou assassinar um colega de cela usando uma tesoura.

Só em 2011, com mais de uma década de atraso, foi considerado inimputável por doença mental. Então, não poderia responder criminalmente pelo ataque. Hoje está em um hospital de custódia na Bahia.

Mateus cumpre pena há mais de duas décadas e dificilmente conseguirá liberadade (Reprodução/Record TV)

Mateus cumpre pena há mais de duas décadas e dificilmente conseguirá liberadade

Reprodução/Record TV

Casos semelhantes ao dele, de uma esquizofrenia paranóide grave, que atravessou uma determinada linha (com o crime que praticou), a periculosidade desses indivíduos jamais cessa

Guido Palomba, psiquiatra forense

Acompanhe as reportagens da série especial do Jornal da Record. Separamos os episódios para vocês.

Veja o caso do Maníaco do Parque, que chocou o Brasil:

Reportagem do Jornal da Record relembra o Caso Míriam:

Equipe mostra o que aconteceu com o atirador do Shopping:

Mães de Acari revelam como convivem com o sofrimento pelo desaparecimento de 11 jovens:

Veja também: como a morte de uma professora mudou a forma como a polícia combate sequestros

FICHA TÉCNICA:
Diretor Editorial e Projetos Especiais: Thiago Contreira
Chefe de Redação: Patrícia Rodrigues
Editora executiva: Camila Moraes 
Imagens: Lúcio Severino, Daniel Arcanjo, Paulo Geovane, Jordane Silva, Luís Silveira, Luís Felipe Silveira e Nivaldo Rodrigues
Auxiliares: Igoberto dos Santos, Rodrigo César, Valdir Gomes, Washington Souza, Rodrigo Nascimento e Bruno Bastos.
Iluminador: Ivan Carlos Vasconcelos
Operador de áudio: Marcelo Nascimento
Estagiário: Caique Macedo
Coordenadora de pauta: Rosana Teixeira 
Pauta: Fernanda Camargo e Amanda Binato
Arte da TV: Marcio Sato e Guilherme Gimenes
Pós-produção: Cláudio Monõz, Youshio Tanaka e Larissa Melo 
Edição das reportagens: Pedro Veloso 
Edição dos vídeos para o R7 Estúdio: Cloris Akonteh
Edição de imagens de vídeos para o R7 Estúdio: Luciano Lima
Arte R7 Estúdio: Bruna Gabriela da Cunha Santana
Cenografia: Maurício Tertulino da Cunha
Direção de fotografia: Elvio Ferreira Guedes