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Por Giulia Gazetta

Barra do Mendes, sertão da Bahia. Sob um sol incansável, nossa equipe está apoiada numa porteira de madeira em frente a uma casa. Do outro lado, uma mulher sisuda e desconfiada nos atende com apenas metade do corpo para fora da porta. A outra metade se esconde atrás da madeira.

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Reprodução

A mulher é dona Eva, mãe do criminoso mais procurado do Brasil em 2021: Lázaro Barbosa.

Acusado de pelo menos oito assassinatos e outras dezenas de crimes — entre eles estupros, roubos e agressões —, o filho de dona Eva era nome certo em praticamente todos os jornais, revistas, rádios, TVs e sites de notícia há exatamente um ano.

Em 28 de junho de 2021, sob aplausos da população, o corpo de Lázaro era jogado em uma ambulância depois de levar 38 tiros.

A morte dele pôs fim a uma perseguição que durou 20 dias e mobilizou 250 policiais de Goiás e do Distrito Federal. É essa história que a série documental Os 20 Dias de Lázaro conta em detalhes a partir de hoje na plataforma de streaming PlayPlus.

Um ano depois do fim trágico, a editora Larissa Werren, o repórter cinematográfico Leonardo Medeiros, o auxiliar técnico Wagner Silva e eu embarcamos rumo ao sertão da Bahia para conversar com dona Eva justamente sobre o que aconteceu naqueles dias.

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Arte R7
A infância de Lázaro

"Os 20 dias de Lázaro" são, na verdade, muitos mais. O rapaz baiano nasceu em uma casa violenta, começou a fugir para o meio do mato quando ainda era uma criança. E nunca mais parou.

“Quando ele (Edenaldo, o pai de Lázaro) chegava, queria matar eu, queria matar os meninos. A gente tinha que sair corrido. Dormia no mato por causa dele. Era assim. A vida que ele tinha.”

A lembrança de dona Eva sobre Edenaldo, pai de seus dois filhos, Lázaro e Deusdete, é dita com a voz trêmula. Ela explica que o ex-marido tinha problemas com álcool. Voltava para casa bêbado e agredia a família com violência física e verbal. Eles reagiam fugindo.  

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Reprodução/Record TV

Assistir à agressão do pai aos filhos atormentava Eva, que só criou coragem para se separar depois que sua mãe morreu. “Divórcio não era bem visto na minha família.”

Ainda durante a perseguição policial a Lázaro, seu Edenaldo se afastou de toda a família e sumiu da cidade.

Mas uma personagem importante da infância de Lázaro ainda vive em Barra do Mendes. E estava prestes a nos atender.

Lia, a professora
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Reprodução/Record TV
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Arte R7
Pedro, o parente das primeiras vítimas
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Reprodução/Record TV
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Arte R7
A Juventude de Lázaro

Naquele dia, o Lázaro saiu bebendo mais outro colega e, por volta das 4 horas da manhã, chegou aqui nesse povoado em busca de uma mulher. Essa mulher que não tinha nada a ver com ele. Com os pensamentos loucos, ele veio atacar, bateu na porta e tentou entrar. Felizmente não conseguiu

Pedro Desidério

Pedro conta que, na noite do primeiro crime, o jovem Lázaro estava visivelmente bêbado e tentou entrar na casa de Adriana, uma mulher por quem estaria apaixonado. Até onde se sabe, Adriana nunca correspondeu às investidas de Lázaro e, por isso, não deixou que ele entrasse em sua casa.

Os chutes fortes de Lázaro na porta de ferro dos fundos da casa de Adriana ressoaram e foram ouvidos por todo o povoado.

Surpreendido por dois vizinhos — o Manoel e o Carlito — Lázaro foge para o mato. Adriana está a salvo e tudo parece ter acabado naquele momento. Mas, pouco tempo depois, Lázaro volta. Mata primeiro Carlito, seu amigo de infância. Em seguida, Manoel, padrasto de Carlito e antigo desafeto de Lázaro. Em cada um, Lázaro deu um tiro.

A casa onde Adriana morava hoje está à venda. Adriana deixou a cidade pouco tempo depois. Trauma, fuga, medo? Não se sabe ao certo. Ela negou todas as minhas tentativas de contato. E Lia, minha única guia, não sabia onde ela estava morando.

Na época dos crimes, ninguém que conviveu com ele na infância o reconhecia. E muitos em Barra do Mendes passaram a ter medo dele.

“Apesar de eu conhecer Lázaro tão bem, não tem como a gente não ter medo, né? Na época todo mundo ficou com medo. Então as pessoas comentavam bem assim: ‘Diz que Lázaro tá no (povoado de) Colidiano, tá no (povoado de) Melancia’. Então a gente ficava apreensiva, né? Com medo. Com medo de ele aparecer aqui”, lembra a professora Lia.

O menino bom que as professoras conheceram e o filho respeitador de Eva se transformava, a partir daquele momento, em um assassino adulto. 

A vida — e a morte – adulta de Lázaro

Lázaro é preso na Bahia poucos dias depois de ter matado Carlito e Manoel. Mas aproveita uma saidinha de Páscoa para fugir. 

O envolvimento de Lázaro com os crimes continua a mais de 1.000 quilômetros da cidade onde nasceu. Foi no Distrito Federal que a fama de assassino chamou a atenção do Brasil.

A ex-sogra dele, dona Isabel, nos recebe num casebre erguido sob o sol impiedoso do sertão. “Lázaro foi um ótimo marido e um excelente pai”, dizia ela.

A nova vida nos arredores de Brasília tinha tudo para ser diferente. Ninguém da região parecia conhecer o passado criminoso dele.

Lázaro vai morar com sua tia, Amélia. Logo conhece Luana, vai morar com ela e tem seu primeiro filho. O relacionamento termina, mas Lázaro não fica muito tempo solteiro. Ele se envolve com Ellen e tem uma filha.

Trabalha fazendo bicos em fazendas e chácaras, como caseiro, jardineiro, qualquer coisa que aparecesse. Sai de casa cedo. Volta à noite.

“Não deixava faltar nada pro menino. Sempre dava um jeito de arrumar dinheiro para comprar o que faltava”, lembra dona Isabel, a ex- sogra.

É nessa época que ele ganha uma bicicleta dos amigos da vizinhança. Grava um vídeo, feliz e agradecido.

Não demora até que o nome dele comece a aparecer envolvido em crimes novamente. Roubo, porte ilegal de armas, sequestro e estupro. Desta vez, Lázaro ainda conta com a ajuda de um parceiro de sangue: seu irmão, Deusdete, assassinado em 2015. Não se sabe se pela polícia ou por outros criminosos.

Nem os dois filhos pequenos, nem a morte do irmão, nem os sete anos preso no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, impedem Lázaro de cometer o crime que colocaria a polícia de vez em seu encalço.

A chacina da família Vidal


9 de junho de 2021. Casa da família Vidal, em Ceilândia. Pai e dois filhos brutalmente assassinados com tiros e facadas. A mãe, sequestrada, estuprada e morta de maneira covarde. O DNA de Lázaro é encontrado na casa.

A morte do casal Cláudio e Cleonice Vidal e de seus filhos, Carlos Eduardo e Gustavo, deixa Lázaro nacionalmente conhecido. Um crime que o induz a fugir pelo meio do mato, incansavelmente, por longos 20 dias, até chegar ao derradeiro 28 de junho de 2021.

Durante os dias de perseguição a Lázaro, surgem rumores sobre a ligação dele com uma seita de rituais satânicos. Apesar de negar de maneira contundente o envolvimento de Lázaro com qualquer coisa do tipo, sua mãe, dona Eva, acreditava que o filho havia sido possuído por uma força maligna.

“Eu dou o nome de um demônio. Uma coisa ruim, uma tentação ruim. Uma tentação maligna, que fazia ele fazer esse tipo de coisa, né? Apoderava nele, né? Obrigava ele fazer aquilo.”

Tenho certeza que tinha uma coisa ruim que acompanhava o Lázaro. Ele não era sozinho não

Dona Eva

As investigações apontam para outra direção. Segundo a polícia, Lázaro cometia os crimes sob efeito de substâncias como álcool e drogas.

“Eu sei o que ele usava: a maconha. Já essas outras drogas pesadas não estavam no conhecimento de ninguém. A maconha dele, ele usava mesmo, ele gostava”, conta a tia Zilda, irmã de Eva.

Enquanto rumores corriam depressa como o vento por todo o país, Lázaro fugia e tirava as noites de sono de policiais e autoridades de Goiás e de Brasília.

Fuga ou esconderijo?

“É importante dizer que ele não estava fugindo, ele estava se escondendo”, afirma o então secretário de Segurança Pública do Estado de Goiás, Rodney Miranda, que coordenou a operação Lázaro durante a permanência da força-tarefa.

“Ele fazia armadilhas, como fez com um policial nosso que chegou a tomar tiros. Graças a Deus estava com colete.”

No caminho de fuga — ou de esconderijo —,  Lázaro faz reféns, obriga mulheres a ficarem nuas e cozinhar sob a mira de um revólver. Força seus prisioneiros a fumar maconha e se calarem.

Há também quem o ajude. O fazendeiro Elmi Caetano Evangelista e o caseiro Alain de Santana chegam a ser detidos, por suspeita de terem colaborado com Lázaro, oferecendo a casa como esconderijo.

O que o faz passar tanto tempo se escondendo na imensidão do cerrado é uma característica, uma habilidade — talvez a principal resposta à fatídica pergunta: quem, afinal, foi Lázaro Barbosa?

Lázaro era um mateiro.

“Era um mateiro, era um caçador, era uma pessoa que se movimentava muito bem, criado aqui, que conhecia essa região como poucos ou como quase ninguém”, descreve o ex-secretário Rodney. “Era um criminoso, um psicopata frio, sem nenhum tipo de sentimento, que tirava a vida de uma pessoa como se estivesse esmagando uma formiga.”

Foi assim com a família de Ricardo.

Ricardo, o parente das últimas vítimas
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Arte R7

Um ano se passou desde que Lázaro foi executado, mas a investigação da morte da família Vidal ainda não foi concluída.

Segundo o delegado do caso no Distrito Federal, Rafael Seixas, está sob sigilo. “Não vou dizer que está solucionado porque a investigação ainda permanece.”

Ele explica que a única certeza até aqui sobre o crime é “a autoria de Lázaro”.

Neste podcast imersivo, com ares de radionovela, o editor executivo Marcelo Magalhães narra, em detalhes, os fatos mais importantes da história de Lázaro Barbosa, o criminoso mais procurado do Brasil em 2021. O roteiro tem como base entrevistas de quem conviveu com Lázaro e reportagens feitas durante os 20 dias em que ele foi perseguido pela polícia. A produção conta com trilha original e uma infinidade de efeitos sonoros. Coloque seu fone de ouvido e acompanhe!

Os três primeiros episódios da série Os 20 Dias de Lázaro já estão disponíveis no Playplus. O documentário investiga a vida e a morte do criminoso mais procurado do Brasil em 2021: Lázaro Barbosa. Da infância no sertão baiano à captura no cerrado de Goiás, detalhes inéditos dos crimes cometidos pelo matador que fez o Brasil parar em frente à TV. E ainda: os mais diferentes ângulos da perseguição implacável de 250 policiais contra um fugitivo. Acesse Playplus.com e assista!


Reportagem: Giulia Gazetta
Cinegrafista: Leonardo Medeiros
Auxiliar Técnico: Wagner Silva
Editor de imagens: Sidney Leão
Editor finalizador: Caio Laronga
Editor-executivo: Marcelo Magalhães
Editora de texto: Larissa Werren
Coordenador Transmídia: Bruno Oliveira
Coordenadora de Edição Digital: Renata Garofano
Coordenador de Criação e Arte: Matheus Mercadante Vigliar
Direção de Conteúdo Digital e Transmídia: Bia Cioffi