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Ingrid Griebel, do Jornal da Record

Quem fabrica? De onde vem? Quanto custa? Quais são as substâncias químicas presentes neste entorpecente sintético? 

Quando eu fiz as primeiras reportagens sobre as apreensões de "drogas K", em São Paulo, para o Jornal da Record, fiquei cheia de dúvidas. A ideia de mapear as rotas do tráfico e a composição química de fórmulas manipuladas em laboratórios clandestinos foi compartilhada com o editor de texto, Rodrigo Andrade, e com o produtor Gabriel Alves.

O ponto de partida foi descobrir, com a ajuda de uma fonte, uma das 700 moléculas do canabinoide sintético. É assim que as "drogas K" são chamadas por pesquisadores. A molécula é um conjunto de átomos.

Espera aí que explico para vocês. Por exemplo, a molécula da água é formada por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio: H₂O.

A molécula da droga em questão é formada por muitos átomos e constava em portaria da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) como substância proibida, desde dezembro de 2021. Também aparecia em dezenas de artigos científicos pelo mundo. Isso só aumentou ainda mais a minha curiosidade.

A equipe do 'Jornal da Record' entrou com exclusividade no laboratório que estuda a droga (Reprodução/Record TV)

A equipe do 'Jornal da Record' entrou com exclusividade no laboratório que estuda a droga

Reprodução/Record TV

Foi assim que surgiu a oportunidade de conversar com Ana Gallegos, responsável pelo Centro de Monitoramento de Drogas da Europa, atuante em 29 países.

A primeira apreensão de "drogas K" aconteceu em 2008. E, desde então, há governos europeus que enfrentam dificuldades para combater o tráfico desses entorpecentes.

São remessas de pequeno volume e que chegam, muitas vezes, por correspondência.

A hipótese de tal situação ocorrer no Brasil foi confirmada pela Polícia Federal, que atua em conjunto com a Receita Federal também em portos e aeroportos para combater, entre outros crimes, o tráfico de drogas.  

O Centro de Monitoramento de Drogas da Europa atua em 29 países para combater o tráfico e o vício (Reprodução/Record TV)

O Centro de Monitoramento de Drogas da Europa atua em 29 países para combater o tráfico e o vício

Reprodução/Record TV

Todos que entrevistamos foram unânimes, a expressão "maconha sintética" está errada. As "drogas K" não são extraídas da cannabis sativa, a planta da maconha. É difícil, até para químicos experientes, decifrar quais são substâncias químicas usadas para produzir efeitos alucinógenos parecidos com o da maconha, mas bem mais potentes e nocivos.

O número de apreensões de "drogas K" disparou nos últimos dois anos. Em 2021, o Denarc aprendeu pouco mais de 5 quilos da droga. No ano passado, a quantidade dobrou. Em 2023, só até abril, foram 18 quilos encontrados nas mãos de traficantes. Na praça da Sé, um pino de K2 custa R$ 10, e os efeitos são devastadores. Um dos depoimentos mais emocionantes é do adolescente de 16 anos que já fumou até 14 cigarros sintéticos por dia e agora enfrenta dificuldades para se manter sóbrio. "Pior do que crack", ele resume. 

Acompanhe comigo, neste conteúdo especial que preparamos para vocês, entrevistas exclusivas e novas informações do que se sabe sobre as substâncias e a rota dessa droga no país e no mundo.

Os efeitos da droga

Os efeitos são devastadores para quem consome. E podem ser piores que os causados pelo crack.

A equipe do Jornal da Record conseguiu identificar uma das moléculas que fazem parte da composição da droga que chama atenção pela rapidez no vício.

Foi o que aconteceu com um adolescente que encontramos perambulando pela cidade de São Paulo. Há sete meses, ele anda sem rumo numa busca incessante por pinos de "K2".

Tudo começou quando ele resolveu fumar com os amigos, que diziam ser uma maconha mais forte. 

Aos 16 anos, bastou um trago para que abandonasse a escola e saísse de casa.
Ele passou a viver na praça da Sé, no centro da capital paulista, onde fumava até 14 cigarros de "K2" por dia. 

Nas primeiras vezes que eu usei, eu sentia meu coração acelerando, tipo, parecia que eu ia desmaiar mesmo, ou ter uma coisa, uma overdose, alguma coisa assim

Jovem usuária da droga

Nossa equipe ouviu muitos especialistas para entender o efeito da droga no cérebro.

Veja os efeitos das drogas K (Arte R7)

Veja os efeitos das drogas K

Arte R7

Imagens Exclusivas obtidas pelo Jornal da Record mostram as "drogas K" em diferentes versões: em pó, pedra e na forma líquida.

Equipe do Jornal da Record mostra a versão líquida das drogas k (Reprodução/Record TV)

Equipe do Jornal da Record mostra a versão líquida das drogas k

Reprodução/Record TV

Veja também outra versão da droga:

A droga pode ser consumida em diferentes versões (Reprodução/Record TV)

A droga pode ser consumida em diferentes versões

Reprodução/Record TV

São muitas variações e também nomes diferentes: K2, K4, K9, Spice. Os entorpecentes são geralmente usados como cigarros, misturados com tabaco ou com ervas.

Os criminosos conseguem pôr a droga até numa folha de papel, que é picada e colocada embaixo da língua. Uma pequena quantidade pode ser o suficiente para dezenas de doses.

Assista à primeira reportagem especial exibida no Jornal da Record:

O 'Jornal da Record' conversou com uma das maiores especialistas do mundo nessas substâncias

Nos arredores da praça da Sé, as "drogas K" são vendidas livremente para crianças, adolescentes e para quem mais se interessar.

É um tipo de entorpecente que se espalhou por uma das mais antigas comunidades, às margens de uma linha de trem, no centro de São Paulo.

Para entender a disseminação desse tipo de droga no Brasil é preciso antes avaliar a situação em países onde os canabinoides sintéticos são vistos como um problema de saúde pública há muitos anos.

O mais recente relatório europeu sobre drogas revela que usuários de maconha passaram a consumir canabinoides sintéticos sem saber, enganados por traficantes que queriam aumentar os lucros ao reduzir despesas na produção das "drogas K".

Estudos do Centro Europeu de Monitoramento de Drogas, com sede em Portugal e atuação em 29 países, apontam o número de mortes na Europa.

Confira o números de mortes na Europa (Arte R7)

Confira o números de mortes na Europa

Arte R7

Acompanhe na segunda reportagem exclusiva do Jornal da Record:

A popularização da droga

A pandemia foi um marco para a popularização dos canabinoides sintéticos no estado de São Paulo. Na época em que as visitas foram suspensas nas prisões, a droga entrava escondida em folhas de papel.

A droga chegou a ser proibida pelo PCC, a principal facção criminosa de São Paulo, no sistema prisional, devido ao dano que ela estava causando em seus usuários. Eles estavam se comportando como zumbis.

Segundo a polícia, a facção comanda a distribuição dessas drogas no Estado.

Em São Paulo, o tráfico de canabinoides sintéticos disparou nos últimos dois anos.
Um estudo internacional revela que o negócio se tornou extremamente lucrativo para os criminosos.

Números mostram o tráfico de drogas K (Arte R7)

Números mostram o tráfico de drogas K

Arte R7

Aperte o play e veja a terceira reportagem especial do Jornal da Record:

Em clínicas de reabilitação de São Paulo, cerca de 10% dos internados já tratam o vício nas chamadas "drogas K"

O Jornal da Record acompanhou o drama de mães que têm filhos dependentes dessa droga.

Há clínicas de reabilitação onde, de cada dez pacientes, um é dependente químico das "drogas K". A maioria tem entre 15 e 25 anos.

O crescimento do número de apreensões revela que os canabinoides sintéticos se espalharam por São Paulo.

Um dos principais pontos de venda e consumo é a praça da Sé, no centro da maior cidade do país.

Boa parte dos usuários já consumia maconha e foi atraída pelo baixo preço do entorpecente.

O que também chama atenção é a informação errada de que seria uma maconha mais forte.

Encontramos um jovem de 27 anos que nos contou que experimentou a droga aos 17 anos.

Na época, a droga era desconhecida. E, segundo ele, foi oferecida de graça pelos traficantes.

Foi em 2012. A droga já estava no Brasil. Eles falaram para fumar que era uma maconha sintética. Essa droga já está nas favelas desde 2012

Jovem que não quis se identificar

Há apenas dois meses, depois de dez anos de vício, ele começou um tratamento numa clínica de reabilitação. A mãe está com esperança de que o filho se livre do vício.

Esse também é o desejo de outras mães que lutam com filhos viciados nessa droga. Acompanhe aqui o quarto episódio da reportagem especial feita pela equipe do Jornal da Record:

A repórter Ingrid Griebel, o editor Rodrigo de Andrade e o produtor Gabriel Alves trabalharam durante dez dias nas reportagens especiais (Divulgação)

A repórter Ingrid Griebel, o editor Rodrigo de Andrade e o produtor Gabriel Alves trabalharam durante dez dias nas reportagens especiais

Divulgação

Veja abaixo um bate-papo com a equipe do Jornal da Record, que conta como foi o processo de investigação das reportagens especiais. 

E, se você também quiser ouvir nosso Podcast 15 min, o apresentador Celso Freitas e a repórter Ingrid Griebel conversam com o pesquisador Renato Filev sobre os riscos das "drogas K". Escute o Podcast:


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