Quando começamos uma reportagem, nós nunca sabemos como ela vai acabar. Existe uma ideia inicial, mas o que acontece no decorrer do trabalho é o que dita os nossos rumos. Na série Mulas, que foi ao ar no Jornal da Record entre os dias 6 e 10 de junho de 2022, não foi diferente.
Para realizar a série, nós mergulhamos no universo das mulas do tráfico de drogas, as pessoas contratadas para transportar o entorpecente de uma região ou de um país para outro, e percorremos regiões escolhidas como rota do tráfico de drogas em três estados do Brasil.
Também estivemos na fronteira com a Bolívia, entramos em um presídio, conversamos com muitas mulas e com as pessoas responsáveis pelo combate a esse braço do narcotráfico.
O que nós percebemos é que as mulas sabem que estão fazendo algo ilegal mas não se dão conta do risco que correm. Essas pessoas, geralmente, não têm histórico no crime. Não pegam em armas e não conhecem o dono da droga. Inclusive, é esse perfil "acima de qualquer suspeita" que as quadrilhas procuram.
Só que, quando a mula é presa, ela fica sujeita às mesmas penas que o traficante. Afinal, naquele momento em que está viajando com a droga escondida no corpo, na mala ou no carro, ela faz parte do esquema do tráfico de drogas, uma atividade que envolve muito dinheiro e muita violência e que financia outros tipos de crime.
Acho que, mais do que em pessoas que são presas por outros motivos, o arrependimento é algo muito presente entre as mulas. Elas não fazem parte daquele mundo, não estão acostumadas.
Nós conseguimos depoimentos muito sinceros, como o de um jovem ucraniano. Ele é um ex-militar, esportista, e afirma nunca ter usado drogas. Aceitou a proposta de pegar cocaína na Bolívia e levá-la para o seu país, principalmente, devido à oportunidade de conhecer a América do Sul. A guerra na Ucrânia começou quando ele já estava preso no Brasil. Ele chora quando fala sobre isso. Queria estar defendendo sua cidade e sua família.
As mulas, aparentemente, ganham um bom dinheiro. Mas o preço que elas pagam quando são descobertas é muito maior.
Na escuridão do pantanal, acompanhamos uma operação. O clima é tenso. Os policiais não sabem se os homens estão armados e se vão revidar.
Eles não encontram armas. Mas droga tem bastante. São cerca de 30 quilos de cocaína já refinada para o consumo.
Ainda em Mato Grosso do Sul, nossa equipe vai até o posto Guaicurus, no município de Miranda.
É um lugar estratégico, fica na BR-262, a menos de 200 km da fronteira com a Bolívia, um dos maiores produtores de cocaína do mundo.
A rodovia liga Corumbá ao Espírito Santo, passando por São Paulo e Minas Gerais.
Nós acompanhamos a fiscalização em vários ônibus que passaram pela rodovia e flagramos a apreensão de drogas que estavam na mochila de um passageiro.
O homem de 24 anos levava 800 gramas de pasta de cocaína. Ele diz que receberia R$ 600 para transportar a droga. E que só aceitou a proposta porque estava jurado de morte por causa de uma dívida de droga.
Se quiser entender melhor as punições para essas pessoas que transportam drogas, ouça também o podcast sobre a série especial. Celso Freitas e o repórter Romeu Piccoli conversam com o advogado criminalista Telêmaco Marrace.
Cinegrafista: Lúcio Salgado
Auxiliar Técnico: Valdir Gomes
Iluminador: Luis Augusto Donola
Produtora: Gabriela Coelho
Editor de Texto: Alfredo Feierabend
Editor de imagens: Luciano Lima
Coordenadora de pauta: Rosana Teixeira
Chefe de Redação: Patrícia Rodrigues
Edição: Cloris Akonteh
Coordenador Transmídia: Bruno Oliveira
Coordenador de Criação e Arte: Matheus Mercadante Vigliar