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Brenda Marques e Fernando Mellis, do R7

Padrão estético vigente desde o fim da Idade Moderna, no século 18, quando a Revolução Industrial começou a estabelecer um novo modelo de corpo para as mulheres, a magreza em sua forma extrema voltou a ser uma tendência estética, apesar de alguns esforços pela aceitação das diferenças nos últimos anos.

Essa é uma avaliação unânime entre especialistas ouvidas pelo R7. Elas ressaltam, contudo, algumas particularidades dessa onda de corpos magérrimos na contemporaneidade: está atrelada à não aceitação do envelhecimento das mulheres e inserida num mundo onde quem dita a moda são as influenciadoras digitais.

É nesse contexto que começa, nesta quinta-feira (25), a 55ª edição da São Paulo Fashion Week, maior semana de moda na América Latina, com sede no Komplexo Tempo, na Mooca.

Modelos São Paulo Fashion Week -  (Ettore Chiereguini/AGIF/Sipa USANo Use Germany)

Modelos São Paulo Fashion Week -

Ettore Chiereguini/AGIF/Sipa USANo Use Germany


Uma reportagem da revista Vogue Business com base nos dados da plataforma Vogue Runway analisou o nível de representação inclusiva dos desfiles das principais semanas de moda do mundo — Nova York, Londres, Milão e Paris — na temporada outono/inverno de 2023 e concluiu que não houve evolução em relação à diversidade.

Entre 9.137 looks de 219 desfiles, apenas 0,6% eram de tamanho grande (48+ no Brasil), e mais de 95% eram de tamanho pequeno (entre 34 e 38 no Brasil).
“Os desfiles desta temporada mostraram corpos extremamente magros”, afirma Paula Puhl, professora de comunicação da Famecos (Escola de Comunicação, Artes e Design) da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), onde também ministra uma certificação de estudo sobre moda, identidade e mercado.

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Arte R7


Na temporada de verão de 2022, a Miu Miu foi bastante criticada por levar à passarela apenas corpos magérrimos, que usavam peças curtas e de cintura baixíssima, como a famosa microssaia de 20 centímetros e o suéter cropped.

O look viralizou nas redes sociais e chegou a ser usado por Maisa e Manu Gavassi no Brasil. A modelo plus size Paloma Elsesser saiu na capa da revista iD com ele. Mas a grife foi alvo de críticas por só disponibilizar a peça nas lojas até o tamanho 46, ou seja, não há versões nos tamanhos grandes.

Apesar disso, a saia inspirada nos anos 2000 foi exaustivamente divulgada em corpos magros. Segundo Paula, essa atitude é predominante no mercado.

“Quando as grandes marcas expõem os seus produtos, ainda é em corpos magros. Por mais que algumas tenham tamanhos diferenciados, ainda utilizam para marketing corpos mais magros”, afirma a professora.


Para Maíra Zimermmann, doutora em história pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), mestre em moda, cultura e arte pelo Senac e professora de graduação de moda da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), algumas grifes tentam parecer inclusivas aos olhos das consumidoras, mas, na realidade, não se preocupam em atender às necessidades e aos desejos de mulheres.

“As marcas de luxo não têm esse compromisso com a diversidade, mas utilizam esse discurso para se posicionar [diante de potenciais clientes]. A moda vende uma ilusão. No momento em que vender a realidade, vai perder o poder que tem”, analisa a professora.

Ela faz uma ressalva às grifes menores, que costumam dar espaço à diversidade de corpos, mas afirma que, mesmo no Brasil, a exclusão predomina.

“Quando você vira um negócio gigantesco, você se adapta a essa realidade de exclusão. A gente cobra esse compromisso com a inclusão, mas ela não existe na materialidade, esteja eu comprando na Renner ou na Miu Miu”, completa.

Francisca Mendes, doutora em sociologia pela UFC (Universidade Federal do Ceará) e professora do curso de design-moda na mesma instituição, concorda com Maíra. Ela lembra ainda que no Brasil não existe uma padronização de medidas de roupas e que algumas marcas constroem uma tabela de numeração de forma arbitrária.

“Elas fazem o 42, dizendo que veste 40, e aí você tem a ilusão de que está mais magra, mas, na verdade, não é isso”, explica.

A especialista ressalta que apenas pensar na diversidade de tamanho de corpos não garante a inclusão. É preciso ter atenção aos efeitos da desigualdade socioeconômica. “Temos que pensar em preço e acesso à informação”, defende.

Quando você vira um negócio gigantesco, você se adapta a essa realidade de exclusão. A gente cobra esse compromisso com a inclusão, mas ela não existe na materialidade, esteja eu comprando na Renner ou na Miu Miu

Maíra Zimermmann, doutora em história pela Unicamp

A modelo Gabriele Felix conta que teve obsessão pela magreza durante anos
 (Arquivo pessoal)

A modelo Gabriele Felix conta que teve obsessão pela magreza durante anos

Arquivo pessoal

Gabriele Felix, 26 anos, começou a modelar por volta dos 14 anos. Ela conta que, nessa época, tinha obsessão pela magreza. “Quando eu era mais nova, tinha muito essa questão de querer ser extremamente magra, achar que quanto mais magra melhor, porque eu sempre via pessoas supermagras no meu dia a dia.”

“Hoje, ainda vejo muitas modelos magras. Mas já entendi que cada uma tem o seu biotipo. Sei que o meu é um corpo magro, mas não é extremamente magro. E que, mesmo eu fazendo academia, não vou ficar saradona”, completa.

A modelo também lembra que, por muito tempo, teve o sonho de fazer plástica no nariz. Mas perdeu esse desejo à medida que foi compreendendo a própria identidade.

“Achava meu nariz muito batatinha, muito redondo. Pensava que ele não combinava com meu rosto. Mas aprendi a gostar dele, entendi que é da minha ancestralidade e me faz ser eu.”

Gordofobia na pele

Yara Balduino, 39 anos, conta que sempre gostou muito de fotografar. Mas foi só depois de encarar um luto — a mãe morreu em decorrência de Covid-19, em 2020—  que tomou coragem para posar para as câmeras profissionalmente e “botar a cara na internet”, como diz.

Já naquele ano, a carreira de modelo plus size ganhou impulso quando ela venceu o concurso A Mais Bela Gordinha Negra do Brasil”, realizado online. “Quando ganhei, chorei bastante, porque queria muito que minha mãe tivesse visto."

A modelo plus size Yara Balduino não consegue desfilar por grandes marcas (Arquivo Pessoal)

A modelo plus size Yara Balduino não consegue desfilar por grandes marcas

Arquivo Pessoal

Depois disso, Balduino ganhou visibilidade nas redes sociais. “As pessoas começaram a querer ver meus looks, acompanhar minha rotina.”

Ela chegou a desfilar em passarelas, mas nunca representando uma grande marca. “Já participei de algumas seleções em agências em que fiz todo o processo e o cara falou: 'Infelizmente, um corpo com estria, com barriga, não vende. Se você for fotografar, tenta esconder um pouco a barriga'.” 

Balduino, então, resolveu seguir na jornada independente: começou a fotografar para divulgar as roupas da própria loja, a Beleza Plus.

Focada em itens para mulheres que vestem do 48 ao 60, a empresa fica no Rio de Janeiro, onde ela mora, e faz envios para todo o Brasil. “Faço ensaio de biquíni, lingerie, e convido meninas com corpos reais para posarem comigo”, conta.

Já participei de algumas seleções em agências em que fiz todo o processo e o cara falou: 'Infelizmente, um corpo com estria, com barriga, não vende. Se você for fotografar, tenta esconder um pouco a barriga'

Yara Balduino, modelo plus size independente


Juno Vecchi, 29 anos, trabalhou por mais de dez anos em lojas de shopping, onde exerceu diversas funções. Nesse período, viu no dia a dia os efeitos da exclusão. Ela conta que fazia malabarismos para acolher pessoas gordas quando era vendedora de uma famosa grife brasileira.

“Às vezes, a pessoa buscava uma calça feminina, não servia direito. Buscava uma masculina, ficava o mesmo caimento. Então, eu fazia aqueles malabares para que a pessoa se sentisse acolhida ali dentro”, lembra.

“E eu sei que isso não era feito em todas as lojas, porque era uma particularidade minha acolher pessoas que a marca não fazia questão de ter ali dentro.”

Vecchi também sentiu na pele os efeitos da gordofobia, como é chamado o preconceito contra pessoas gordas. Mesmo sendo a melhor vendedora da loja e entregando resultados, ela não era promovida de cargo. “Por que eu não era promovida? Porque sou gorda.”

A promoção só veio depois de muita insistência e conversa — o que deixou algumas pessoas irritadas, de acordo com ela. Mas, depois de subir na hierarquia da empresa, Vecchi foi obrigada a abdicar da própria identidade. “Eu tinha que ser a melhor e não podia ter o meu estilo."



Foi mostrando o dia a dia como produtora de moda em loja que ela começou a fazer conteúdo digital. Desde 2019, libertou-se das amarras das lojas, pois passou a conseguir se sustentar exclusivamente com a renda vinda do trabalho como influenciadora digital. No Instagram, onde tem 111 mil seguidores, ela fala de autoaceitação, experiências como mulher gorda, solitude, música, moda e maquiagem.

“Foi algo que começou sem pretensão nenhuma. Fui mostrando o look, a maquiagem com que eu ia trabalhar. Então, foi uma operação conjunta: eu entendendo o meu estilo e mostrando isso para as pessoas. Aí, começou a ter a identificação [dos outros com ela]”, conta.

O papel das influenciadoras digitais
Virginia Fonseca foi eleita a influenciadora do ano no Brasil em 2022 (Reprodução/Instagram)

Virginia Fonseca foi eleita a influenciadora do ano no Brasil em 2022

Reprodução/Instagram

De acordo com as especialistas, hoje quem tem o poder de definir o que vai ou não se tornar moda são as influenciadoras digitais.

“Muitas vezes, o desfile da passarela não é o que as mulheres vão consumir. Elas vão consumir o que está no TikTok e no Instagram. E a moda tem que estar o tempo inteiro trazendo novidade. Se não tiver novidade, deixa de ser moda”, avalia Mendes.

Entretanto, com a velocidade inédita de distribuição de conteúdo na internet, as coisas entram e saem de moda muito mais rapidamente do que na era em que o acesso ao mundo da moda ocorria pela televisão e pelas revistas.

Além disso, ainda segundo as professoras que estudam o tema, mais do que um estilo de se vestir, as influenciadoras divulgam estilos de vida e de corpos totalmente fora da realidade.

Muitas vezes, o desfile da passarela não é o que as mulheres vão consumir. Elas vão consumir o que está no TikTok e no Instagram. E a moda tem que estar o tempo inteiro trazendo novidade. Se não tiver novidade, deixa de ser moda

Francisca Mendes, mestre em sociologia pela Universidade Federal do Ceará

No caso do corpo, há o uso de filtros, edições e intervenções cirúrgicas estéticas. Em relação à vida, mostra-se apenas um recorte do cotidiano, que privilegia experiências positivas, luxuosas e, para a maioria das pessoas, inatingíveis.

“Vendem-se o tempo inteiro um padrão de beleza e uma vida inalcançáveis. Como se a pessoa vivesse só de passeio, viagens”, resume Mendes.

A especialista cita como exemplo a influenciadora e empresária Virginia Fonseca, que tem quase 43 milhões de seguidores no Instagram. “Ela estava grávida e, no outro dia, apareceu com a barriga chapada. Mas ninguém sabe as dores, a pressão e os bastidores disso.”

Virginia já contou, por meio das redes sociais, que engravidou da primeira filha, Maria Alice, fruto da relação com Zé Felipe, dez dias depois de fazer uma lipo LAD. Além de remover o excesso de gordura, como o procedimento tradicional, essa técnica modela e destaca os músculos de várias partes do corpo, o que resulta, por exemplo, na famigerada barriga de tanquinho.

A influenciadora também explicou que resolveu fazer a intervenção estética por causa de uma “gordurinha localizada nas costas”. Portanto, o foco não era o abdômen. ”Já fiz lipo, já coloquei silicone, a minha barriga é chapada, eu não tenho o que fazer na minha barriga”, reconheceu.

Em 2022, Virginia foi eleita Influenciadora do Ano no Brasil pelo People's Choice Awards, uma premiação americana que reconhece personalidades da música, da TV, do cinema e da cultura pop.

A escolha é feita pelo público, em votação online. Com exceção de Gloria Groove, todas as mulheres que concorreram com Virginia têm um padrão de aparência: são magras, brancas e jovens — mais um sintoma da volta do culto à magreza. 

A reportagem procurou a influenciadora para conversar sobre o tema, mas ela não havia respondido até a publicação deste texto.

Revolução Industrial e a cultura burguesa


A valorização da magreza é histórica: acontece há séculos, desde muito antes de Virginia nascer e de a internet existir.

A professora Francisca Mendes afirma que houve uma mudança na maneira de objetificar o corpo das mulheres a partir da Revolução Industrial — processo que teve início por volta de 1760.

“Antes, a gordura era mais valorizada. Depois da revolução, o corpo passou a se voltar mais para a estética do que para parir. E a moda padroniza corpos assim como padroniza roupas”, afirma Mendes.

“A Revolução Industrial trouxe para nós a ideia de que a mulher é fútil e o homem é preocupado com trabalho”, acrescenta.

Ainda de acordo com ela, o corpo feminino fica à mercê da sociedade nesse novo contexto histórico. “A dimensão do privado se perde, porque tem essa visão de que a mulher é um patrimônio do homem. Assim, a vida dela pertence à sociedade. E isso reproduz comportamentos machistas: a mulher não pode ser gorda, não pode ser velha”, analisa.

Maíra Zimermmann concorda e diz que o século 19 — com o avanço do capitalismo industrial e a cultura da burguesia — é um marco em relação ao controle do corpo das mulheres pela sociedade.

“O corpo da mulher começa a ser mais vigiado dentro da cultura burguesa porque ela representa a moral da família”, diz. “Tem também a questão de que o universo feminino é muito amplo, então a cultura patriarcal e machista tenta controlá-lo.”

Twiggy e a magreza extrema
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Divulgação

Na perspectiva das especialistas, a magreza nunca saiu de moda, embora existam períodos em que os espaços para a diversidade natural do corpo feminino tenham sido maiores.

Zimermmann afirma que a moda da magreza absoluta teve início nos anos 1960, quando ocorreu o que ela chama de “triunfo da cultura juvenil” e deixou de existir uma divisão entre a moda das passarelas e o mundo dos famosos.

“É tudo cultura de celebridade, mas é sempre a cultura juvenil que divulga o que é moda.”

A professora cita a modelo, atriz e cantora britânica Lesley Lawson, conhecida como Twiggy, que foi um ícone naquela época. Considerada uma das primeiras supermodelos do mundo, ela tinha o corpo magérrimo, uma maquiagem baseada em longos cílios postiços realçados com muito rímel e um cabelo loiro curto que virou hit naquele período.

Twiggy: a supermodelo britânica ícone fashion dos anos 1960
 (Area de Mulher)

Twiggy: a supermodelo britânica ícone fashion dos anos 1960

Area de Mulher

Os anos 1990 e 2000 também são mencionados por Zimermman como um período de exaltação de corpos supermagros. Basta lembrar de famosas que estavam no auge naquela época: Britney Spears, Lindsay Lohan, Paris Hilton e as irmãs Olsen, que ficaram conhecidas no Brasil por protagonizarem a série Três É Demais.

Em 2004, Mary-Kate Olsen, então com 18 anos, foi internada para tratar de anorexia. Nesse mesmo ano, ocorreu o lançamento do último filme das gêmeas: No Pique de Nova York. Elas decidiram se afastar dos holofotes e trabalhar nos bastidores.

Agora estão totalmente dedicadas ao mundo da moda. Em 2006, fundaram a marca The Row. No site da grife, é possível encontrar fotos que exibem roupas de várias coleções — todas com modelos magras.

“Quando éramos mais jovens, estar no olho do público era quase parte do nosso papel e responsabilidade: definir as tendências na época ou estar à frente da moda”, disse Mary-Kate em entrevista à plataforma de luxo Net-à-Porter, em março de 2017.

Idas e vindas da diversidade

A década de 2010 é vista pelas especialistas como um tempo de maior espaço para a diversidade de corpos, com o crescimento do movimento body positivity (positividade corporal, em português), impulsionado pelas mídias sociais.

Ele é focado na aceitação de todas as pessoas, com suas diferenças naturais: de tamanho, forma, gênero, cor de pele, com ou sem deficiência. “A obsessão pela magreza nunca saiu de moda. Mas a questão da diversidade entrou como uma pauta inegociável”, afirma Maíra Zimermmann.

A influenciadora digital Jéssica Lopes, 30 anos, começou a se aventurar no ambiente virtual um pouco antes do boom dessa onda em prol das diferenças, em 2009. Ela lembra que era um tempo em que a criação de conteúdo online ainda estava engatinhando e, por isso, inspirava-se em figuras do mundo pop.

Na música, tinha como referência desde Avril Lavigne até Pitty. Na televisão, inspirava-se em Sabrina Sato e Marjorie Estiano, que na época era protagonista de uma novela adolescente. Todas magras, embora tivessem estilos diferentes.

No início, Jéssica falava sobre maquiagem. Depois, começou a se aprofundar em outros assuntos, como moda e autoestima, mas isso aconteceu de modo espontâneo, porque as pessoas tinham curiosidade de saber sobre ela.

“Moda plus size é uma carência até os dias de hoje. Há 14 anos, era muito maior. E, ao mesmo tempo, é uma realidade que vivo por ser uma mulher gorda”, diz. Ela tem o costume de reproduzir o look de famosas magras para mostrar que o visual também pode ser usado em outros tipos de corpo.

A influenciadora Jéssica Lopes reproduz o look de Bruna Marquezine (Arquivo Pessoal/Reprodução/Instagram)

A influenciadora Jéssica Lopes reproduz o look de Bruna Marquezine

Arquivo Pessoal/Reprodução/Instagram

Em sua biografia do Instagram, onde tem 787 mil seguidores, ela avisa: “Amar quem sou é meu superpoder". Mas ressalta, em conversa com o R7, que esse amor foi construído aos poucos e que cresceu em meio à pressão estética.

“Temos que pôr filtros, parar de seguir perfis que trazem insegurança”, pondera.

“Eu cresci sofrendo essa pressão na internet, da família, de amigos. Nós, mulheres, crescemos sendo ensinadas a odiar nossos corpos, a nos comparar, tanto em corpos quanto na vida. A gente sempre tem uma nova meta a ser atingida, e essa meta está cada vez mais distante”, acrescenta.

Yara Balduino conta que “foi criada para achar que era feia”, já que ouvia discursos gordofóbicos e racistas no ambiente familiar e na escola. “Quem é gordinha desde que nasceu, como eu, tem uma relação complicada com o corpo desde sempre. Hoje, a gente fala muito em bullying, mas na minha época não tinha isso”, afirma.

“A criança negra sofre pressão em relação ao cabelo, é todo um processo que você tem que alisar. Minha mãe sempre alisou o meu. É como se o negro e o gordo não fossem belos”, diz.

Eu cresci sofrendo essa pressão na internet, da família, de amigos. Nós, mulheres, crescemos sendo ensinadas a odiar nossos corpos, a nos comparar, tanto em corpos quanto na vida. A gente sempre tem uma nova meta a ser atingida, e essa meta está cada vez mais distante

Jéssica Lopes, influenciadora

A modelo, influenciadora e empresária chegou a acreditar tanto no discurso de que era feia por ser gorda que, quando ficou noiva, fez uma cirurgia bariátrica. “Eu achava que só seria uma noiva bonita se fosse magra. Se tivesse a cabeça que tenho hoje, não teria feito."

Ela se casou em 2010, aos 28 anos. Depois, voltou a ganhar peso. “Acabei recuperando de novo, porque, na minha cabeça, [o emagrecimento] era só para me casar”, conta.

Com o passar do tempo e as experiências que ele trouxe, Balduino foi, aos poucos, construindo sua autoestima. “Recebo mensagens de meninas que falam: ‘Que coragem você tem de usar cropped’. Eu falo que é um processo. Não é de uma hora para a outra que você vai se aceitar. Aos poucos, você vai se permitindo."

Para Lopes, um dos pilares da construção do amor-próprio foi a relação que ela estabeleceu com as seguidoras nas redes sociais. “Foi justamente essa relação de me expor na internet e ver que tem pessoas consumindo o que eu estava fazendo que me fez questionar por que eu não podia ver a mim mesma como inspiração."

Jéssica Lopes reproduz em seu Instagram o look jeans usado por Rafa Kalimann
 (Arquivo Pessoal/Reprodução/Instagram)

Jéssica Lopes reproduz em seu Instagram o look jeans usado por Rafa Kalimann

Arquivo Pessoal/Reprodução/Instagram



Com o trabalho de influenciadora, ela tem o objetivo de transformar a vida de outras mulheres. E considera que a meta está sendo atingida. A prova disso, diz, são os relatos que recebe de outras internautas. “Gosto de armazenar muitas dessas histórias, pois são meu combustível nos dias de cansaço.”

A professora Paula Puhl cita a importância da modelo plus size Ashley Graham, uma das representantes da positividade corporal da década passada.

Em 2016, ela se tornou a primeira mulher de manequim 46 a estampar a capa da revista Sports Illustrated, uma das principais publicações esportivas dos Estados Unidos. No ano seguinte, protagonizou editoriais de moda em revistas como a Vogue Itália. Além disso, produz até hoje conteúdos em que incentiva o amor-próprio e a autoaceitação para mais de 20 milhões de seguidores no Instagram.

Porém, já contou que deseja ser vista não apenas como uma modelo plus size, mas como uma mulher, com todas as suas facetas e complexidades. Ela disse, em entrevista à revista WSJ Magazine, em 2021, que odeia ter que falar sempre sobre o próprio corpo e que não conhece nenhum homem que faça isso. 

“O que me motiva a continuar a falar sobre o meu corpo é que eu não tinha ninguém tocando nesse assunto quando era jovem”, afirmou ela, que começou a modelar em 2005 e lutou contra a maré de corpos magérrimos.

Kim Kardashian em tempos de etarismo


Na avaliação das especialistas Francisca Mendes e Maíra Zimermmann, a volta da magreza extrema como uma tendência estética se deve a vários fatores: como todo fenômeno social, ela é complexa e multifacetada. E pode estar relacionada a uma reação ao movimento de positividade corporal.

“Ao longo da história, são muitas idas e vindas nesse sentido. No momento em que se começa a discutir gordofobia, a magreza histórica toma lugar no sentido de manter essa padronização”, afirma Mendes.

As docentes também veem um elo entre a (re)ascensão da magreza e o etarismo. Mendes afirma que a valorização de corpos supermagros, definidos e aparentemente jovens está sendo sustentada por um falso discurso em prol de vidas mais saudáveis.

“Mas, na verdade, o que importa é essa padronização ligada ao etarismo. Esse corpo sofre muitas intervenções para manter a beleza exigida: jovem e magra. Principalmente sobre as mulheres inside a pressão de ser eternamente jovem”, avalia a professora da Universidade Federal do Ceará.

Gabriele, por exemplo, livrou-se da preocupação excessiva em manter a magreza e até se permite comer "algumas besteiras" em uma festa de aniversário ou um jantar. Mas recorreu à aplicação de toxina botulínica, conhecida popularmente como botox, para evitar rugas.

Maíra Zimermmann concorda com Francisca Mendes. “A magreza absoluta está relacionada a uma negação do envelhecimento, e a figura curvilínea está ligada a esse amadurecimento. O maior exemplo disso é Kim Kardashian”, analisa.

As irmãs Kardashian foram representantes da valorização de corpos mais curvilíneos na década passada, com seios e bumbum grande — porém, ainda magros.

No entanto, Kim chamou atenção ao longo de 2022 por mergulhar na onda da magreza extrema. O momento em que a mudança ficou mais evidente foi em maio, durante o Met Gala. A socialite apareceu magérrima no tapete vermelho do evento, com um icônico vestido de Marilyn Monroe.

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The Grosby Group



Em entrevista à revista People, a socialite e empresária contou que adotou uma dieta bastante restritiva e perdeu 7 kg em 20 dias para caber na peça. "Foi um grande desafio. Era como se preparar para um papel [de filme]. Eu estava determinada a me encaixar nele. Não como carboidratos ou açúcar há cerca de três semanas."

Na época, internautas criticaram a atitude de Kim e disseram que ela foi irresponsável ao falar sobre o assunto. Em julho, ela revelou que teve artrite psoriásica enquanto fazia a dieta.

A empresária, que já sofre de psoríase e sempre falou abertamente sobre o assunto, contou, em conversa com a revista Allure, que a doença crônica de pele se agravou durante o processo de emagrecimento.

“A psoríase se espalhou pelo meu corpo, e tive artrite psoriática, então não conseguia mexer minhas mãos”, lembrou. “Foi muito doloroso, e tive que ir a um reumatologista. Eu estava enlouquecendo. Quando parei de comer carne novamente, melhorei”, completou.

Apesar do trauma, Kim continuou recorrendo a métodos perigosos para manter o corpo excessivamente magro. Em setembro, fez um procedimento estético a laser para “apertar o estômago”.

No Brasil, famosas como Bruna Marquezine, Anitta e Rafa Kalimann — que já eram magras — têm chamado atenção por ter emagrecido ainda mais.

A atriz Bruna Marquezine
 (Reprodução/Instagram)

A atriz Bruna Marquezine

Reprodução/Instagram


Maíra Zimermmann afirma que elas são mulheres que vivem da imagem e podem estar, mesmo que inconscientemente, tentando controlar o próprio corpo a fim de se blindar de críticas. Além disso, tentam se enquadrar em um padrão europeu de beleza — magro e alto —, que está ligado ao status social.

Também em maio de 2022, Rafa Kalimann sofreu ataques nas redes sociais após postar uma foto em que aparece com um look justo, visivelmente mais magra. Depois das críticas, muitas pessoas saíram em defesa dela. “Que a gente não perca a boa intenção, a motivação de fazer o outro se sentir bem, que as redes não sejam entregues nas mãos dos que buscam ferir, magoar, ofender. Obrigada por tanta mensagem", postou a influenciadora.

Magreza e desigualdades de classe

Francisca Mendes afirma que a preocupação com a magreza só atinge até a classe média. “A pessoa que está abaixo da linha da pobreza não está preocupada se tem uma barriga menor ou maior, porque ela não tem o que comer. Um estudo feito por alunas da Universidade Federal do Ceará mostra que, na periferia, as pessoas colocaram piercing mesmo tendo uma barriga protuberante.”

Maíra Zimermmann concorda com a ideia de que, dentro da cultura de consumo, o corpo é tratado como mais um entre os vários itens de moda. “Nesse sentido, existe um tipo de nariz, de boca, de barriga [a ser almejado pelas pessoas], e a gente entra em um sistema de padronização”, avalia.

“Há um descarte do corpo como se ele fosse uma roupa, e isso pode desencadear problemas psíquicos. Por mais que ela [mulher] tente, nunca vai atingir o esperado”, diz Francisca Mendes. “É o corpo, o carro, a linguagem que vai mudando conforme o contexto histórico."

A busca pelo elixir do emagrecimento

Basta uma rápida busca no YouTube por termos do tipo "dieta low carb", "como perder barriga", "dieta detox", entre outros, que os resultados nos levam a milhares de horas dos mais variados conteúdos. Há, evidentemente, alguns profissionais sérios, mas também uma vasta quantidade de pessoas sem nenhuma formação na área de saúde. No fim das contas, todos faturam com as visualizações de quem espera, do outro lado da tela, por uma solução rápida para eliminar alguns quilinhos.

Em meio a tudo isso, também há os que vendem cursos e programas de emagrecimento, sempre se apresentando como um modelo de magreza e sucesso.
Quem não se lembra de Maíra Cardi criticando o ex-marido, Arthur Aguiar, que havia comido pão em um reality show?

Quem consome esse tipo de conteúdo, na maioria das vezes, acaba por entender que somente o excesso de rigor vai surtir o resultado esperado na balança, o que não é verdade.

"Existe uma distorção cognitiva do que é saudável. O que é uma dieta detox? Não existe, o próprio conceito não existe. O corpo tem mecanismos de desintoxicação, no fígado e nos rins. Não existe uma dieta que desintoxica. Se a gente perguntar para essas pessoas: 'Desintoxicar de quê? Qual é a toxina, qual é o nome da toxina que vai ser eliminada?', elas nunca têm essas respostas. Então, cria-se um vocabulário mágico, místico, e se usam essas palavras, elas são propagadas", afirma o médico psiquiatra Eduardo Atarangy, do Programa de Transtornos Alimentares do IPq/HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Pessoas que se tornam obsessivas por uma alimentação saudável podem sofrer de transtorno alimentar evitativo-restritivo. Dentro dessa condição, existe um quadro chamado otorexia nervosa, embora ele ainda não tenha sido reconhecido oficialmente.

Atarangy explica que, além da restrição de alimentos, na otorexia existe uma seleção de outras comidas que a pessoa julga essenciais, nem sempre com respaldo no que é cientificamente comprovado.

"Tem uma crença obsessiva de que alguns alimentos fazem mal e outros são essencialmente bons, e é preciso só comer esses alimentos. Essa pessoa acaba se desnutrindo, perde vida social, não come com os outros."

Ainda que extremamente restritiva, uma dieta exige disciplina e tempo para surtir algum efeito na balança. E se for possível dar uma forcinha para nem mesmo sentir fome? Existe um medicamento para diabetes tipo 2 que se tornou popular nos últimos anos justamente por ter esse efeito.

O tratamento de um mês com o Ozempic, cujo princípio ativo é a semaglutida, custa cerca de R$ 800. Apesar do preço, entrou rapidamente na lista dos medicamentos mais vendidos nas farmácias brasileiras.

O volume de buscas pelo Ozempic no Google atingiu, na primeira semana de 2023, o maior patamar já observado e se manteve em alta desde então.
Não é à toa. Diariamente, surge uma influenciadora supermagra no Instagram ou no TikTok que faz comentários positivos das injeções semanais de semaglutida para perder uns quilos.

A substância imita um hormônio (GLP-1), liberado pelo intestino após as refeições e que atua nos receptores do cérebro que controlam o apetite, a sensação de saciedade e a fome.

O laboratório dinamarquês Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, é taxativo ao dizer que ele "é um medicamento indicado, em conjunto com dieta e exercícios, exclusivamente para o tratamento de pacientes adultos com diabetes tipo 2 não satisfatoriamente controlado [ou seja, quando o nível de açúcar no sangue permanece muito alto]".

Os médicos que o receitam o fazem pela modalidade off-label, ou seja, uso sem indicação em bula. A Novo Nordisk já obteve aprovação de uma versão com dosagem mais alta de semaglutida, essa, sim, destinada ao tratamento de obesidade ou sobrepeso com comorbidades associadas. A expectativa é que o produto esteja disponível nas farmácias brasileiras no segundo semestre. 

Nada disso se aplica a quem deseja perder apenas alguns quilos. São medicamentos que não estão isentos de risco e não foram testados em pessoas fora dos grupos mencionados.

"O Ozempic estimula a produção de insulina mediada por glicose. Ele tem um risco relacionado, pequeno, mas existe, de pancreatite. Você ter um paciente que tem necessidade [de uso], e ele cair na infelicidade de ser aquela pequena porcentagem que tem uma pancreatite, é uma pena, mas ele tinha uma indicação. E a pessoa que não tem [indicação]? É complicado", comenta a médica endocrinologista Paula Fábrega, do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês, em Brasília.

A pancreatite se manifesta como uma forte dor na região abdominal e requer atendimento médico urgente, pois existe risco de causar a morte. Outros efeitos colaterais comuns do remédio incluem enjoo, gases, refluxo gastroesofágico e outros sintomas gastrointestinais.

Perseguição da magreza e risco à vida

Comer pouco pode ser uma constante na vida de quem quer se manter magro, mas, se a dieta for extremamente pobre (menos de 500 kcal/dia), ela se torna perigosa.

"Quando a gente entra em uma privação de calorias importante, produzimos uma substância, que são os corpos cetônicos, que inibe o apetite. Então, realmente, a pessoa consegue ficar com uma baixa ingestão [calórica] por algum tempo. Só que ela pode ter um distúrbio eletrolítico, desidratação, insuficiência renal..."

O perigo existe até mesmo se o paciente voltar a comer normalmente, pois pode haver uma síndrome de realimentação com potenciais danos ao fígado.
Se o remédio é arriscado, ele pelo menos passou por diversos estudos científicos e foi submetido à aprovação de órgãos reguladores. Mas há outras falsas soluções vendidas como naturais que nem sequer são estudadas a fundo.

A enfermeira Edmara Silva, 42 anos, morreu no começo do ano passado, em São Paulo, após fazer uso de um produto anunciado livremente na internet como "50 ervas emagrecedor". Ela teve danos graves no fígado, passou por um transplante, mas não resistiu às complicações.  

O psiquiatra do IPq ressalta que produtos naturais não estão isentos de riscos. Ele cita como exemplo o chá de sene, que muitas pessoas tomam no intuito de emagrecer.

"[O chá] ajuda a funcionar o intestino. Sim, ajuda porque ele é tóxico para os enterócitos, que são as células do intestino. Elas, intoxicadas, têm uma reação de inflamação, que joga água para dentro do intestino para expulsar essa substância que está lesando as células. E aí a pessoa evacua, justamente por estar intoxicada", explica.

Por trás dessas soluções que prometem emagrecer pode haver uma pessoa que esteja sofrendo de um transtorno alimentar sério, como a anorexia nervosa ou a bulimia nervosa.

A primeira, segundo Atarangy, é o transtorno psiquiátrico de maior letalidade.
"A restrição da ingestão calórica em relação às necessidades levando a um peso corporal significativamente baixo é um aspecto central da anorexia nervosa. Entretanto, indivíduos com anorexia nervosa também exibem medo de ganhar peso, de ficar gordos ou comportamentos persistentes que interferem no ganho de peso, bem como perturbações específicas em relação à percepção e à vivência do próprio peso e da forma corporal", descreve o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais).

Estima-se que 0,5% das mulheres desenvolva em algum momento da vida um sintoma de anorexia nervosa. Poucas mantêm o quadro, mas as que permanecem tendem a sofrer de forma significativa.

"Das que permanecem, de 5% a 20% morrem disso ou vão ter uma vida dominada por isso, com uma perda de qualidade e de expectativa de vida que equivale à esquizofrenia refratária", observa o médico.

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Reprodução/Instagram



No caso da bulimia nervosa, a pessoa tem episódios recorrentes de compulsão alimentar, mas adota um comportamento para evitar o ganho de peso, como induzir o vômito ou tomar laxantes.

De acordo com o DSM-5, diferentemente da anorexia nervosa, em que a pessoa está desnutrida, “aquelas com bulimia nervosa mantêm um peso corporal igual ou acima da faixa mínima normal".

Em muitos casos, afirma o médico, a própria pessoa não consegue perceber que está doente. É comum que familiares ou amigos interfiram e levem o paciente a um médico.

"Nos casos mais graves, não é a pessoa que busca ajuda, é a família que traz. Em geral, são mulheres jovens, com uma obsessão pelo corpo e um perfil muito rígido, perfeccionista, e que acabam restringindo a alimentação, perdendo outros aspectos sociais, de interesses, de vontades. Acabam brigando com a família para comer do jeito exato que elas querem ou para fazer o tanto de exercícios físicos que elas querem", afirma o psiquiatra.

Encontrando o equilíbrio

O grande desafio no contexto atual, com movimentos de aceitação do corpo, esclarece o médico, é encontrar o equilíbrio. O que é saudável, afinal?
Comer tudo o que dá vontade, certamente, não é uma escolha correta, da mesma forma que o corte radical de determinados alimentos também não é.

"Muitas vezes, nesse contexto corporal, de beleza, de aceitação, a gente fica no meio de uma guerra entre radicalismos", diz Atarangy, ao considerar que vivemos um "momento histórico" na tentativa de encontrar "a saúde que está no meio do caminho".

O especialista cita os casos das cinco "zonas azuis", locais do mundo onde boa parte da população ultrapassa facilmente os 100 anos de vida. São elas: Sardenha (Itália), ilhas de Okinawa (Japão), Loma Linda (Califórnia/EUA), península de Nicoya (Costa Rica) e Icária (Grécia).

Embora distantes umas das outras, essas populações compartilham uma série de hábitos já comprovadamente ligados a uma saúde melhor.

As relações sociais são fortes, a dieta é baseada em plantas e alimentos in natura, os indivíduos são fisicamente ativos e não fumam.

"No fundo, a realidade é mais tediosa. Não tem erva mágica, ninguém toma carvão toda noite, são só essas coisas simples", ironiza o médico.


Diretora de Conteúdo Digital e Transmídia: Bia Cioffi
Reportagem: Brenda Marques e Fernando Mellis
Edição: Vivian Masutti
Arte R7: Matheus Vigliar, Omar Sabbag e Sabrina Cessarovice
Produção audiovisual: Julia de Caroli e Matheus Mendes
Operação de Captação Audiovisual: Leonardo André
Edição e finalização: Caíque Ramiro
Designer gráfico audiovisual: Marisa Kinoshita 
Coordenação de vídeo e produção de conteúdo: Danilo Barboza 
Gerente de produção audiovisual: Douglas Tadeu