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Tony Chastinet, da Record TV

Dois anos depois de uma das mais violentas ações de novo cangaço, em Araçatuba, cidade de 200 mil habitantes no interior de São Paulo, o R7 revela detalhes inéditos da investigação da Polícia Federal que descobriu que uma quadrilha de ladrões de banco se uniu com integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) para o violento ataque às agências da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil no centro da cidade que deixou dois moradores mortos, diversos feridos e um rastro de destruição.

Foram roubados R$ 12,5 milhões em joias que estavam no penhor da Caixa e R$ 4,5 milhões do Banco do Brasil. Três assaltantes foram mortos. Para a quadrilha, foi um fracasso. Eles pretendiam levar R$ 90 milhões que estavam no Banco do Brasil, mas o dinheiro foi destruído por um sistema de segurança que ativou lâminas e tinta para inutilizar o numerário. Dezenove pessoas foram identificadas e presas. São réus em ação que está tramitando na 1ª Vara Federal de Araçatuba.

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Divulgação
Noite de caos

No fim da noite de 29 de agosto de 2021, cerca de 30 homens sitiaram o centro de Araçatuba, nas redondezas da praça Rui Barbosa. Eles usavam armamento de guerra, carros blindados, drones e bombas com acionamento remoto, que foram deixadas em dezenas de pontos na cidade.

Parte da quadrilha atacou as bases do Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia) e uma unidade de elite da PM (Polícia Militar) e do Comando de Policiamento de Área-10, para impedir a reação da polícia.

Eles usaram a técnica que os especialistas chamam de domínio de cidades, uma evolução mais violenta do novo cangaço, que, no caso, subjuga regiões inteiras durante um assalto.

Os criminosos se dividiram: enquanto parte aterrorizava a cidade, outra invadia as agências bancárias com carrinhos de transporte, maçaricos, explosivos e ferramentas térmicas para arrombar cofres.

Foram duas horas de intenso confronto, com tiroteio e explosões, resultado da reação dos policiais que já estavam nas ruas e de reforços que vinham de outras regiões. Os bandidos fizeram reféns como escudo humano para sair da cidade.

Márcio Victor Possa da Silva foi amarrado no capô de um carro e morto na fuga. Outro morto foi Renato Bortolucci, que se aproximou para tentar gravar a ação dos bandidos com celular e recebeu um tiro de fuzil.

Há ainda o caso de Cleyton Alexandre Soares Teixeira, que estava de bicicleta quando se aproximou de um dos dispositivos explosivos que foi acionado por um sensor e explodiu. Ele perdeu os pés. Policiais e reféns também ficaram feridos com estilhaços. E há ainda registro de feridos por tiros.

Artefatos apreendidos pelo Gate em Araçatuba após ataques (Divulgação)

Artefatos apreendidos pelo Gate em Araçatuba após ataques

Divulgação
Fuga e caçada

A violência do ataque provocou reação imediata da polícia, que recebeu reforço de várias cidades. Foram feitos bloqueios, e na madrugada do dia 30 foi preso um casal que trafegava em uma rodovia na saída da cidade. Eram olheiros da quadrilha que monitoravam a movimentação da polícia.

Os assaltantes deixaram para trás carros, materiais usados no ataque, munições, armamento, celulares e objetos pessoais. Também abandonaram um caminhão cheio de explosivos e dispositivos.

Explosivos encontrados pela polícia após o ataque em Araçatuba

Explosivos encontrados pela polícia após o ataque em Araçatuba

Foram encontrados 90 artefatos espalhados pela cidade, que tiveram que ser desarmados pelo Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) da PM paulista.

Ainda na madrugada do dia 30, a polícia localizou o corpo de Jorge Carlos de Mello, no bairro Engenheiro Taveira, a 10 quilômetros do centro de Araçatuba. Ele usava roupas táticas e foi atingido na troca de tiros com a polícia durante a fuga. Testemunhas disseram que os comparsas jogaram o corpo do carro e seguiram para a saída da cidade. Segundo a PF, era um dos integrantes da quadrilha.

No fim da noite do dia 30, quando o crime já havia alcançado repercussão nacional e internacional pela violência, Antônio Carlos Fermino Bezerra foi levado ao pronto-socorro da cidade de São Pedro, que fica a 350 quilômetros de Araçatuba. Eram 23h26 quando ele foi deixado por comparsas no hospital. Tinha sido baleado. Foi transferido para um hospital em Piracicaba, onde morreu.

Ele não era o primeiro paciente baleado que dava entrada naquela noite no hospital da pacata São Pedro. Uma hora antes, Guilherme Ciarelli dos Santos tinha chegado ao hospital com ferimentos nos braços e nas pernas. Ele deixou o local na madrugada pouco tempo depois da chegada de Firmino.

Ciarelli foi preso no dia 31, em Piracicaba, durante uma operação da Polícia Civil do Distrito Federal em conjunto com a Polícia de São Paulo em uma investigação sobre a atuação do crime organizado na capital federal.

Durante a operação, os policiais suspeitaram dos ferimentos de Ciarelli, que disse ter caído de moto, mas ele se enrolou na explicação e acabou confessando a participação no ataque em Araçatuba.

Ciarelli já havia sido preso com o irmão, Luiz Fernando, por roubo a uma Caixa Econômica Federal em Piracaia, cidade 537 quilômetros distante da capital paulista, em 2017. A PF suspeita que Luiz Fernando também tenha participado do ataque a Araçatuba.

Por fim, na madrugada de 1º de setembro, a polícia encontrou o corpo de Anderson Luis de Oliveira, que foi lançado de um carro em uma rua na cidade de Sumaré, a 441 quilômetros de Araçatuba. Usava roupas táticas, colete à prova de balas e coturnos e tinha um cartucho de fuzil no bolso da calça.

Os suspeitos mortos, os carros e os materiais abandonados pela quadrilha ajudaram a Polícia Federal a rastrear, identificar e prender 19 envolvidos no crime. Há suspeitos foragidos e outros ainda não identificados.

Gate realiza trabalhos para a retirada de explosivos em Araçatuba (Reprodução - 31.08.2021)

Gate realiza trabalhos para a retirada de explosivos em Araçatuba

Reprodução - 31.08.2021
A investigação: DNA, digitais e inteligência

As investigações seguiram o rastro de pistas como digitais, vestígios de DNA, imagens, análise das munições e armas usadas, exame dos carros deixados para trás, testemunhas, conexões dos bandidos mortos com quadrilhas de assaltantes e com membros do PCC. Com isso, foi possível entender como estavam divididos.

Dos 19 réus do processo até o momento, três eram olheiros da quadrilha, dois estavam envolvidos no fornecimento de carros e os 14 restantes são executores, alguns ladrões experientes, com envolvimento em outras ações violentas.

Há ainda o que a PF denominou de “Célula de Aluguel de Veículos”, com outros 17 investigados que integravam uma quadrilha especializada em usar laranjas para alugar carros em locadoras que posteriormente eram repassados a diversas quadrilhas que usavam os veículos para roubos, como o de Araçatuba, tráfico de drogas, sequestro do Pix e assalto em condomínios de luxo.

O PCC era um dos clientes do esquema, que também tinham a função de sumir com os carros, que eram vendidos para desmanches ou levados para o Paraguai. Esta parte da investigação foi encaminhada para a Justiça Estadual.

Trabalho da perícia em um dos carros utilizados pelo grupo no assalto

Trabalho da perícia em um dos carros utilizados pelo grupo no assalto

A análise dos materiais deixados para trás pelos criminosos resultou na coleta de mais de 30 perfis de DNA encontrados pela perícia, vestígios biológicos presentes em qualquer ser humano e cujos resíduos são transmitidos a praticamente qualquer superfície tocada por uma pessoa.

Foi por meio da análise do DNA encontrado em um par de luvas de borracha que estava no caminhão abandonado perto do Banco do Brasil que a PF identificou Ademir Luis Rondon.

O perfil genético dele já havia sido verificado no ataque a um carro-forte em 2021, em São Carlos, no interior de São Paulo. Na época, os ladrões explodiram o veículo e provocaram pânico nos motoristas que passavam na estrada.

Outro assaltante reconhecido por meio de DNA foi Welton Marinho da Silva. Os policiais o identificaram a partir de uma amostra de sangue encontrada em um Jeep Cherokee abandonado pela quadrilha na fuga.

Welton foi preso meses depois, em 24 de janeiro de 2022, pela Polícia Civil de Santa Catarina, quando se preparava para atacar um banco em Araquari, na região de Joinville.

O DNA dele foi coletado e inserido no sistema, por meio do qual apareceu a combinação que o colocou na cena do crime em Araçatuba.

Os vestígios encontrados em uma máscara facial com filtro e uma mangueira para cilindro deixadas em um Land Rover abandonado na região permitiram à PF identificar Willian Brito dos Santos.

À PF, ele disse que é soldador, o que, para os investigadores, sugere experiência no manuseio de equipamentos para arrombar cofres.

Ele já havia sido preso em 2020, em Sumaré, por policiais da Delegacia de Roubo a Bancos, do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), em um carro com três bananas de explosivos e arma com numeração raspada, mas respondia em liberdade.

Tatuagem de um dos presos pelo assalto em Araçatuba com o desenho de um cofre do lado de fora e o conteúdo dele do lado de dentro

Tatuagem de um dos presos pelo assalto em Araçatuba com o desenho de um cofre do lado de fora e o conteúdo dele do lado de dentro

Santos tem cofres tatuados nos braços. Uma tatuagem é a porta de um cofre com os mecanismos, e a outra é um cofre aberto com muito dinheiro e ouro desenhado. Ele mora em Sumaré e tem uma casa noturna na cidade.

Já Rogério Oliveira Rodrigues foi identificado por causa de sangue encontrado na parte traseira do banco e do encosto de cabeça do motorista de um Pajero abandonado pela quadrilha na área rural da cidade de Bilac, que fica a 25 quilômetros de Araçatuba. Em 2021, ele já havia sido preso pelo Deic, em Valinhos.

A PF também encontrou indícios da participação de Rogério no assalto ocorrido em 17 de abril de 2022 em Guarapuava, no Paraná, quando bandidos aterrorizaram a cidade para roubar uma transportadora de valores.

Assim como em Araçatuba, eles sitiaram a cidade, atacaram a PM e fizeram moradores reféns para serem usados como escudo humano. O sargento Ricieri Chagas foi morto com um tiro de fuzil na cabeça quando estava em uma viatura rendida pelos bandidos.

Laudo de balística da munição encontrada em Araçatuba também permitiu aos investigadores fazer a ligação entre os dois ataques. Foi encontrada munição do mesmo lote usada no Paraná.

Há ainda perfis genéticos encontrados em Araçatuba que não foram identificados, mas são de criminosos que já participaram de outros roubos em que também foram coletadas amostras de DNA, como o roubo à casa do presidente da Câmara Municipal de Rio Claro em 2019, o esconderijo de uma quadrilha de ladrões de banco em Barueri em 2021 e um furto em São José dos Campos no mesmo ano.

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Digital no retrovisor leva a sintonia do PCC

Quatro dias depois do crime, a polícia encontrou um HB20 abandonado em um posto de combustíveis em Birigui. Estava com placas clonadas e havia sido alugado em São Bernardo do Campo.

A PF localizou o locatário, que acabou confessando fazer parte de um esquema de locação fraudulenta para repassar os carros a uma quadrilha. Era um laranja.

A perícia no veículo localizou um fragmento de impressão digital no retrovisor interno do veículo. A digital era de Willian Meirelles da Silva. Ele disse que foi contratado por Victor Hugo da Silva para levar um dos caminhões usados no roubo.

Victor, que é conhecido como Biel ou Terrorista, é sintonia do PCC, uma espécie de gerente, responsável pelo CDP de Caraguatatuba.

No celular dele apreendido pela PF, Biel integra três grupos em um aplicativo de mensagens vinculados a assuntos da facção: “Sintonia Fora do AR, Setor de Localização e Setores Gerais SFA”, com integrantes da facção do país inteiro.

Nesses grupos, são discutidas questões cotidianas da administração da organização criminosa.

Biel ficou ausente dos grupos entre os dias 27 de agosto e 1º de setembro de 2021, coincidido com o período do ataque. A PF encontrou mensagens do padrinho dele na facção, chamado Cacique, cobrando a falta de interação nos grupos.

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Biel diz que estava na paz e envia o número novo de celular ao padrinho com uma foto no perfil do personagem Tio Patinhas com sacos de dinheiro e envolto em moedas de ouro.

A PF também achou uma mensagem de Biel enviada a uma mulher em que pede a ela que providencie documentos falsos, porque havia sido preso pela polícia em Itaquaquecetuba e teve que pagar R$ 50 mil para ser solto. O criminoso não diz se foi preso pela Polícia Militar ou Civil nem a razão, mas o fato teria ocorrido 40 dias antes do ataque em Araçatuba.

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Polícia Federal/Divulgação
Identificado no Paraguai

Em 3 de outubro de 2021, pouco mais de um mês depois do crime, a PF de Ponta Porã, em cooperação com a Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai, a Senad, deflagrou a Operação Escritório do Crime, que desarticulou uma célula do PCC que atuava no tráfico de drogas e armamentos do país vizinho.

Anderson Meneses de Paula, conhecido como Tuca e integrante do PCC, foi um dos alvos. Naquela operação, a PF encontrou diversos indícios do envolvimento dele na ação de Araçatuba.

A análise dos registros telefônicos e telemáticos mostrou que ele e a mulher estavam na região de Araçatuba entre os dias 26 e 31 de agosto. Ele chegou à fronteira no dia 7 de setembro, uma semana depois do ataque no interior de São Paulo.

No mês seguinte, o irmão de Anderson, Rogério Meneses de Paula, foi morto em um confronto com a PM, que recebeu a denúncia sobre um bunker do PCC em Parelheiros, onde estariam reunidos envolvidos no assalto de Araçatuba.

No local, foram encontrados fuzis, granadas, munição, coletes à prova de balas e uniformes falsos da Polícia Civil. A PF achou fotos do bunker e recibos de compra de material de construção do local no celular da mulher de Anderson.

Segundo a PF, Anderson teria sido enviado pelo PCC para a fronteira com o objetivo de assumir o lugar de Wesley Neres dos Santos, o Bebezão, que foi preso em 23 de março de 2021 em uma operação da PF com a Senad em Pedro Juan Caballero durante uma reunião do PCC em um bunker do lado paraguaio.

Ele chefiava as operações da facção e foi extraditado para o Brasil e enviado para uma penitenciária de segurança máxima.

Naquele ano, o Domingo Espetacular, da Record TV, mostrou que Bebezão era um dos alunos de medicina da Universidade Central Del Paraguai, investigada por ligações com a facção criminosa.

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Divulgação Polícia Federal
Esquema no Detran e armas roubadas

Durante as investigações, a PF também identificou Cristiano de Moraes Vieira, padrasto da mulher presa ainda na madrugada de 30 de agosto e apontada pela polícia como olheira da quadrilha.

A análise do celular dele também mostrou um deslocamento de Osasco para Araçatuba dias antes do crime e a permanência na região no dia do roubo, passando por São Pedro, onde dois integrantes da quadrilha foram levados para o hospital, e regressando a Osasco.

Os policiais descobriram que no passado ele já havia sido preso por roubo de carga em Jarinu, em 2018, com Ademir Luiz Rondon, um dos assaltantes identificados por meio do DNA, e também encontraram transferências de dinheiro de empresas e pessoas ligadas ao bando para a conta da mulher de Cristiano.

Também foram encontradas buscas no celular de Cristiano de locais perto de Araquari, em Santa Catarina, onde Welton foi preso quando se preparava para outro ataque a banco. Para a PF, Cristiano também estaria envolvido nesse plano de ataque.

No celular da mulher dele, foram encontradas mensagens com um interlocutor que afirmava ter um esquema no Detran de Jandira para tirar carteira de motorista até para analfabetos, além de um esquema de alterar a pontuação de multas.

A PF encaminhou o material ao Ministério Público com recomendação de investigar o suposto esquema de corrupção.

Outras mensagens no celular de Cristiano revelaram uma negociação de armas que foram roubadas de um caminhão de uma transportadora que levava pistolas, espingardas e munições na rodovia Presidente Dutra, em Jacareí, no vale do Paraíba. Ele conversava sobre a compra de uma pistola. O vendedor enviou uma foto da arma, o que permitiu à PF descobrir que fazia parte do lote roubado. O bandido ainda ofereceu outras armas.

O roubo aconteceu no dia 15 de fevereiro de 2022, quando quatro homens armados em um carro fecharam o caminhão que seguia no sentido do Rio de Janeiro, desviaram-no para uma estrada vicinal de terra, dominaram o motorista e o ajudante, arrombaram o baú do caminhão e levaram 44 armas, entre revólveres, pistolas e espingardas. Os ladrões deixaram para trás 2.000 munições de fuzil.

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Carros alugados para o crime

Durante as investigações, a Polícia Federal descobriu que quadrilhas especializadas em diversas modalidades de crime estão usando os serviços de grupos que utilizam laranjas para alugar carros em locadoras que posteriormente são repassados a criminosos que usam os veículos para roubos, como o de Araçatuba, para o tráfico de drogas, sequestro do Pix e assalto a condomínios de luxo.

O PCC era um dos clientes do esquema. Quando não eram repassados aos bandidos, os carros eram vendidos para desmanches ou levados para o Paraguai.

A PF rastreou a origem de diversos carros abandonados pela quadrilha na fuga de Araçatuba até locadoras de São Paulo. Com o aprofundamento das investigações, conseguiu identificar uma rede de laranjas e os cabeças do esquema.

Pelo menos 17 pessoas foram identificadas; algumas foram alvo de mandados de busca e apreensão e prisão. Os casos foram encaminhados para a Justiça Estadual para serem processados por estelionato e organização criminosa.

Em vários depoimentos, os envolvidos disseram que o esquema não era novidade para a Polícia Civil de São Paulo, que identificou diversos dos suspeitos na investigação de outros crimes por causa de carros alugados relacionados com as ocorrências. 

É o caso de Felipe Patriota, apontado pela PF como um dos chefes do esquema de desvio de carros locados para bandidos. Em depoimento aos policiais federais, ele declarou que em 2021, um mês depois dos ataques de Araçatuba, foi chamado ao Deic por causa de um carro usado em um roubo a condomínio na região da avenida Paulista, onde os ladrões teriam levado R$ 1,3 milhão em dinheiro.

Patriota disse que informou para quem havia repassado o veículo, mas dias depois teria recebido uma foto das declarações no Deic com uma ameaça por ter delatado o comparsa. Ele conta que, na sequência, um suposto policial teria pedido R$ 100 mil para resolver a situação do carro usado no crime.

Ele também disse que no mesmo ano foi chamado ao 6º Distrito Policial de Guarulhos, onde teria pago R$ 5.000 a um policial para a investigação sobre o mesmo carro envolvido em outro crime não avançar.

Em dezembro de 2022, o juiz da 2ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Direitos da Capital rejeitou a denúncia por organização criminosa contra Patriota e outros três acusados, que foram soltos. O magistrado entendeu que o crime deles era estelionato e o processo deveria ser encaminhado para uma vara criminal.

Outros casos de supostas extorsões também apareceram na delação da supervisora de vendas Rafaela dos Santos Silva à Polícia Federal. Ela relatou diversas situações relacionadas a investigações da Polícia Civil, que descobriu o uso de carros do esquema nos mais variados crimes.

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Segundo a PF, Rafaela era uma das responsáveis por aliciar os laranjas. Outro suspeito contou aos policiais que o grupo gastaria R$ 50 mil por semana em propina para não ser investigado.

No depoimento à PF, Rafaela disse que em 2019 foi presa, com outros dois comparsas, por policiais civis do 66º Distrito Policial, que fica na Cidade Líder, na zona leste de São Paulo, por causa de um jipe apreendido com cocaína. Ela contou que teria pago R$ 30 mil aos policiais para ser solta e ainda teve o valor descontado pela quadrilha.

Rafaela também afirmou que em outra situação teria pago R$ 70 mil a supostos policiais civis da Delegacia de Carapicuíba para as investigações não avançarem. Ela diz que teve que levar o valor pessoalmente à delegacia e informou aos policiais federais o endereço: rua Rui Barbosa. O 1º Distrito Policial de Carapicuíba se localiza nesta mesma rua.

Ela disse aos policiais federais que também foi chamada para prestar esclarecimentos por causa de carros alugados usados em crimes no 9º DP, que fica no Carandiru, e no 2º Distrito Policial de Barueri, mas ressaltou que nestas delegacias não pagou nada.

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Outro lado

Por email, Felipe Patriota afirmou que não teve nenhum envolvimento nos fatos ocorridos em Araçatuba. “Uma vez que todas as denúncias foram rejeitadas e indeferidas, as acusações negadas, ficando eu detido por 1 ano e 3 meses e sendo inocentado. Ao meu entendimento, contra fatos não há argumentos, após toda essa investigação, toda essa tortura que fizeram comigo, foi provado que eu não tive participação nenhuma ativa/indireta nos fatos de ARAÇATUBA. Eu era um dono de loja de carros apenas, que teve a vida toda destruída, toda uma vida manchada por algo que não fiz!”

Já a advogada Albina Lúcia Munhoz, que foi designada pela Justiça Federal para defender Willian Meirelles da Silva, afirmou que seu cliente disse que "estava desempregado quando apareceu um 'bico' para levar um caminhão que seria vendido até a região de Araçatuba. E que entregou o caminhão e retornou naquela noite para São Paulo, porque a mulher dele estava com gravidez de risco e que não tinha conhecimento sobre o roubo".

O advogado Valdeci Saraiva Godoi, que defende Ademir Luís Rondon, por sua vez, informa que o cliente afirma ser inocente. “Primeiramente, Ademir se declara inocente das acusações que lhe são imputadas, no que diz respeito a qualquer participação no roubo, ocorrido no dia 29/30 de agosto de 2021, às agências bancárias na cidade de Araçatuba-SP, já que NUNCA ESTEVE NA REFERIDA CIDADE.

Como sustendo da acusação face ao senhor Ademir Luís Rondon, o Ministério Público Federal se pauta em vestígios de DNA encontrados em uma luva que foi localizada na carroceria de um caminhão, supostamente utilizada na empreitada criminosa, o qual foi abandonado na frente da agência do Banco do Brasil da cidade de Araçatuba-SP, e que, em comparação com registro de perfis genéticos armazenados no Banco Nacional de Pesquisa Genética, acusou ser dele.

É importante salientar que o perfil genético de Ademir só foi inserido no BNPG porque ele, espontaneamente, cedeu amostra sanguínea para que fosse realizado o exame, em processo anterior.

Também, Ademir tem severa debilidade física aparente, tendo em vista fixação de próteses nos quadris, e se movimenta com extrema dificuldade, logo seria pouco provável participar de ação tamanha como foi a do roubo das agências bancárias ocorrido em agosto de 2021 na cidade de Araçatuba-SP.

Durante a instrução processual, durante seu interrogatório, Ademir deixou claro qual a única possibilidade de ter sido encontrada a citada luva contendo seu DNA.
O MPF, ao apresentar suas alegações finais, afirma que Ademir foi um dos assaltantes que invadiram a agência do Banco do Brasil. No entanto, ao prestarem seus depoimentos, todos os seguranças que lá se encontravam durante o roubo afirmaram que NENHUM DOS ROUBADORES APRESENTAVA DEFICIÊNCIA FÍSICA, OU DIFICULDADE DE LOCOMOÇÃO.

Também, foram coletadas inúmeras imagens das cenas dos crimes, e em nenhuma delas pode ser apontado algum dos roubadores que se assemelhe a Ademir, o qual seria facilmente identificado, uma vez que manquitola absurdamente ao se locomover.

Por fim, importante destacar que Ademir nunca foi membro de qualquer organização criminosa.

Assim, a Defesa não vislumbra qualquer possibilidade de condenação, como almeja o MPF, uma vez que as acusações são pautadas em meras conjecturas, tendo em vista que Ademir é inocente, o que restará COMPROVADO no decorrer do processo.”

Procuramos também as defesas dos outros citados nesta reportagem, mas não tivemos resposta. Caso eles se manifestem, o texto será atualizado.

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Vice-presidente de Jornalismo: Antonio Guerreiro
Diretores de Jornalismo: Aline Sordili, Clovis Rabelo, Rafael Perantunes, Thiago Contreira e Marcelo Trindade
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Conteúdo: Núcleo de Jornalismo Investigativo
Reportagem: Tony Chastinet
Ediçãoe Diagramação: Márcio Neves
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